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21/01/2007
-
08h26
SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo, em Washington
Nas últimas horas, uma tropa de choque democrata saiu a campo com uma meta: impedir que os EUA ataquem o Irã. Não se trata de paranóia oposicionista. Há sinais suficientes na Casa Branca de que a paciência do governo do republicano George W. Bush com o regime dos aiatolás vem diminuindo.
O temor é que Bush use o discurso "O Estado da União", nesta terça, para subir mais um degrau no tom das acusações ao Irã, deixando a opção militar como única solução. Analistas enxergam nas recentes declarações de pesos-pesados da Casa Branca como o vice-presidente Dick Cheney e o secretário da Defesa, Robert Gates, sinais alarmantemente parecidos aos que antecederam a invasão do Iraque, em 2003.
Na sexta, o líder da maioria no Senado, o democrata Harry Reid, foi explícito. "Muita especulação tem sido feita sobre as recentes ameaças veladas que o presidente Bush vem fazendo ao Irã", disse o senador num clube de jornalistas em Washington. "Quero deixar claro: o presidente não tem autoridade para lançar uma ação militar no Irã sem pedir a autorização do Congresso. A atual resolução que permite o uso da força no Iraque não o autoriza a tanto."
Autoridade em xeque
Dias antes, Joseph Biden, colega de Reid no Senado, enviara uma carta com o mesmo teor à Casa Branca. Escreveu-a depois de diálogo ríspido que teve durante o depoimento da secretária de Estado, Condoleezza Rice, ao Comitê de Relações Exteriores. "Secretária, a senhora acredita que o presidente tenha autoridade constitucional para cruzar a fronteira do Irã e da Síria para perseguir essas redes?", indagou.
Ele se referia à parte do discurso de Bush do último dia 10 em que, ao anunciar o novo plano para o Iraque, o republicano prometera "interromper o fluxo de apoio vindo do Irã e da Síria" e "perseguir e destruir essas redes" de apoio. "Eu não gostaria de especular sobre a autoridade constitucional do presidente ou dizer algo que pudesse restringir essa autoridade", respondeu Rice.
"O povo americano e, creio, o Congresso esperam que o presidente faça o necessário para proteger nossas tropas", concluiu, para ouvir como resposta do senador: "Madame secretária, eu quero deixar claro que, se o presidente decidir invadir o Irã em busca de tais redes, ele precisa da autoridade do Congresso para fazer isso."
Na sexta ainda, no Capitólio, o ex-congressista Lee Hamilton, co-autor do relatório do bipartidário Grupo de Estudos do Iraque, defendia algo parecido em seu testemunho a comitê equivalente na Câmara. "Será que temos tão pouca confiança nos diplomatas norte-americanos que não estamos dispostos a deixá-los conversar com alguém com quem eles não concordam?", perguntava Hamilton. Um dos pontos principais do grupo é justamente usar a diplomacia para atrair Irã e Síria para a mesa de negociações.
A Casa Branca se nega a fazer isso enquanto Teerã não desistir do formato atual de seu programa nuclear. Acusa o governo dos aiatolás ainda de armar os insurgentes xiitas (divisão do islamismo que é maioria naquele país e no sul do Iraque) contra os sunitas, contribuindo para o clima de guerra civil no Iraque e para a morte de mais soldados norte-americanos.
Escalada
Desde a invasão de 2003, este é o momento em que os EUA estão mais militarizados no golfo Pérsico. Na segunda, Gates anunciou o envio do grupo de ataque Stennis, que se encontrará com a armada Eisenhower, estacionada ali desde outubro, além de reabastecimento de mísseis Patriot. Afirmou então que a escalada serve para mandar um recado ao Irã: o de que quatro anos de guerra no Iraque não deixaram os EUA vulneráveis.
"O uso das armadas é justificável, porque elas são uma solução infinitamente mais barata do que o envio de tropas, e de efeito psicológico muito maior", disse à Folha Stephen Biddle, especialista em estratégia militar do Conselho de Relações Exteriores.
Outro temor é que, num ambiente altamente carregado como são as relações entre os dois países atualmente, qualquer incidente sirva de estopim. No dia 11, horas após o discurso de Bush, soldados norte-americanos invadiram um escritório iraniano no norte do Iraque e prenderam seis funcionários. Teerã reagiu com indignação.
"O incidente no consulado iraniano, a retórica a respeito do Irã, a tentação crescente em jogar a culpa de nosso fracasso nos iranianos e sírios pode nos empurrar nessa direção [do confronto]", disse Zbigniew Brzezinski, ex-conselheiro de Segurança Nacional do governo Jimmy Carter (1977-81). "E tem muita gente por aqui, particularmente neocons, que gostaria que isso acontecesse."
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da Folha de S.Paulo, em Washington
Nas últimas horas, uma tropa de choque democrata saiu a campo com uma meta: impedir que os EUA ataquem o Irã. Não se trata de paranóia oposicionista. Há sinais suficientes na Casa Branca de que a paciência do governo do republicano George W. Bush com o regime dos aiatolás vem diminuindo.
O temor é que Bush use o discurso "O Estado da União", nesta terça, para subir mais um degrau no tom das acusações ao Irã, deixando a opção militar como única solução. Analistas enxergam nas recentes declarações de pesos-pesados da Casa Branca como o vice-presidente Dick Cheney e o secretário da Defesa, Robert Gates, sinais alarmantemente parecidos aos que antecederam a invasão do Iraque, em 2003.
Na sexta, o líder da maioria no Senado, o democrata Harry Reid, foi explícito. "Muita especulação tem sido feita sobre as recentes ameaças veladas que o presidente Bush vem fazendo ao Irã", disse o senador num clube de jornalistas em Washington. "Quero deixar claro: o presidente não tem autoridade para lançar uma ação militar no Irã sem pedir a autorização do Congresso. A atual resolução que permite o uso da força no Iraque não o autoriza a tanto."
Autoridade em xeque
Dias antes, Joseph Biden, colega de Reid no Senado, enviara uma carta com o mesmo teor à Casa Branca. Escreveu-a depois de diálogo ríspido que teve durante o depoimento da secretária de Estado, Condoleezza Rice, ao Comitê de Relações Exteriores. "Secretária, a senhora acredita que o presidente tenha autoridade constitucional para cruzar a fronteira do Irã e da Síria para perseguir essas redes?", indagou.
Ele se referia à parte do discurso de Bush do último dia 10 em que, ao anunciar o novo plano para o Iraque, o republicano prometera "interromper o fluxo de apoio vindo do Irã e da Síria" e "perseguir e destruir essas redes" de apoio. "Eu não gostaria de especular sobre a autoridade constitucional do presidente ou dizer algo que pudesse restringir essa autoridade", respondeu Rice.
"O povo americano e, creio, o Congresso esperam que o presidente faça o necessário para proteger nossas tropas", concluiu, para ouvir como resposta do senador: "Madame secretária, eu quero deixar claro que, se o presidente decidir invadir o Irã em busca de tais redes, ele precisa da autoridade do Congresso para fazer isso."
Na sexta ainda, no Capitólio, o ex-congressista Lee Hamilton, co-autor do relatório do bipartidário Grupo de Estudos do Iraque, defendia algo parecido em seu testemunho a comitê equivalente na Câmara. "Será que temos tão pouca confiança nos diplomatas norte-americanos que não estamos dispostos a deixá-los conversar com alguém com quem eles não concordam?", perguntava Hamilton. Um dos pontos principais do grupo é justamente usar a diplomacia para atrair Irã e Síria para a mesa de negociações.
A Casa Branca se nega a fazer isso enquanto Teerã não desistir do formato atual de seu programa nuclear. Acusa o governo dos aiatolás ainda de armar os insurgentes xiitas (divisão do islamismo que é maioria naquele país e no sul do Iraque) contra os sunitas, contribuindo para o clima de guerra civil no Iraque e para a morte de mais soldados norte-americanos.
Escalada
Desde a invasão de 2003, este é o momento em que os EUA estão mais militarizados no golfo Pérsico. Na segunda, Gates anunciou o envio do grupo de ataque Stennis, que se encontrará com a armada Eisenhower, estacionada ali desde outubro, além de reabastecimento de mísseis Patriot. Afirmou então que a escalada serve para mandar um recado ao Irã: o de que quatro anos de guerra no Iraque não deixaram os EUA vulneráveis.
"O uso das armadas é justificável, porque elas são uma solução infinitamente mais barata do que o envio de tropas, e de efeito psicológico muito maior", disse à Folha Stephen Biddle, especialista em estratégia militar do Conselho de Relações Exteriores.
Outro temor é que, num ambiente altamente carregado como são as relações entre os dois países atualmente, qualquer incidente sirva de estopim. No dia 11, horas após o discurso de Bush, soldados norte-americanos invadiram um escritório iraniano no norte do Iraque e prenderam seis funcionários. Teerã reagiu com indignação.
"O incidente no consulado iraniano, a retórica a respeito do Irã, a tentação crescente em jogar a culpa de nosso fracasso nos iranianos e sírios pode nos empurrar nessa direção [do confronto]", disse Zbigniew Brzezinski, ex-conselheiro de Segurança Nacional do governo Jimmy Carter (1977-81). "E tem muita gente por aqui, particularmente neocons, que gostaria que isso acontecesse."
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