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24/01/2007 - 01h24

Discurso de Bush divide foco entre Iraque e questões nacionais

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da Folha Online

Enfrentando uma audiência composta por uma maioria de congressistas de oposição, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, voltou a defender hoje suas ações na luta contra o terror no mundo --incluindo sua decisão de enviar mais tropas para a luta no Iraque-- durante o discurso anual sobre o Estado da União. Mas a primeira metade de seu discurso de cerca de 50 minutos foi inteiramente dedicada à questões domésticas, que ele apresentou em uma fala segura e aparentemente bem recebida.

Em sua defesa da guerra, Bush repetiu a idéia de que "a América não pode falhar no Iraque". Segundo ele, seu plano para a guerra, detalhado na última quarta-feira (14), oferece aos EUA sua melhor chance de sucesso.

6.nov.2002/AP
George W. Bush apresentou terça à noite o discurso sobre o estado da União
George W. Bush apresentou terça à noite o discurso sobre o estado da União
"O governo iraquiano precisa assegurar a segurança de Bagdá, mas as forças locais ainda não estão prontas para fazer isso. Por isso, enviaremos 20 mil soldados americanos adicionais", voltou a repetir o presidente. "Nada é mais importante neste momento de nossa história do que vencer no Oriente Médio, vencer no Iraque, e livrar o povo americano deste perigo."

"Para vencer a guerra contra o terror, precisamos levar a luta até o inimigo", continuou Bush. "O sucesso nessa guerra é medido também pelo que não aconteceu. Não sabemos a total extensão do dano que poderiam ter tido as tramas terroristas que detivemos".

O discurso anual sobre o Estado da União foi realizado na terça-feira às 21h em Washington (24h pelo horário de Brasília).

Ameaça extremista

Como de costume, Bush lembrou aos americanos um de seus dias mais trágicos --o 11 de setembro de 2001, quando a rede terrorista Al Qaeda seqüestrou aviões que derrubaram as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York. "Pense em qualquer princípio da civilização, e eles [os terroristas] têm objetivos contrários."

"Querem nos forçar a abandonar a causa da liberdade. (...) Em tempos recentes, ficou claro também que enfrentamos a ameaça de extremistas xiitas, que querem dominar o Oriente Médio". Bush citou aqui também o grupo islâmico libanês Hizbollah, que, segundo ele, tenta desestabilizar a democracia no Líbano.

"Essa guerra é uma luta ideológica decisiva, e nossa nação está na balança. [Queremos] sociedades nas quais homens e mulheres fazem suas próprias escolhas... pessoas livres não tendem à violência. Vamos ajudar a liberdade no Oriente Médio? Em nome de nossa própria segurança, digo que precisamos fazê-lo."

Sobre a violência sectária no Iraque, o presidente disse que a guerra poderia ser vencida. "Esta não é a guerra na qual entramos... mas é a guerra na qual estamos agora. Senhoras e senhores, podemos vencer. Peço a vocês que apóiem nossas tropas em campo, assim como aquelas que estão a caminho."

Por fim, Bush pediu também apoio para um aumento na quantidade de soldados totais das Forças Armadas dos EUA.

Aplausos e diplomacia

Antes do discurso, Bush foi bem recebido, sendo aplaudido de pé pela platéia duas vezes logo após sua entrada na sala de cerimônias.

Suas primeiras palavras foram destinadas a enfatizar a honra de "apresentar uma mulher como líder (speaker) da Câmara". Ele referia-se a deputada democrata Nancy Pelosi, que fez história como a primeira mulher a liderar a Câmara dos Representantes.

Pelosi, que passou a representar em menos de um mês de liderança uma das principais opositoras do presidente, manteve-se séria e com expressão de desagrado durante o discurso --mas não deixou de aplaudir o presidente, obediente ao furor da platéia.

Bush começou o discurso com temas menos controversos do que a guerra no Iraque. Ele enfocou, a princípio, a economia, a saúde e a educação. O primeiro assunto na pauta foi o balanço positivo da economia e o equilíbrio das contas públicas. "O desemprego está baixo, e a inflação está baixa. (...) Agora, vamos equilibrar os gastos e as contas do governo juntos".

Bush defendeu também o aumento das contas de poupanças no país e os estímulos aos pequenos negócios.

Imigração

Depois da economia, Bush tratou de uma das questões mais "quentes" do Congresso atual: a imigração. "Não poderemos assegurar a segurança de nossas fronteiras se não retirarmos a pressão que elas sofrem".

Em seu discurso, Bush defendeu uma lei que prevê a regularização de imigrantes ilegais sem documentos que já estão no país. "Temos que eliminar as desculpas dos imigrantes para quebrarem a lei."

"Temos que abordar o problema da imigração ilegal e criar um sistema que seja seguro, produtivo, ordenado e justo", disse o presidente.

Bush promete há três anos uma reforma na lei de imigração dos EUA, e a criação de um sistema temporário para trabalhadores estrangeiros que permitirá a regularização de muitos dos cerca de 12 milhões de ilegais que hoje vivem no país.

Em 2006, a reforma permaneceu bloqueada pela oposição do próprio Partido Republicano --ao qual Bush também pertence-- na Câmara dos Representantes. Os líderes democratas, afirmaram que apoiarão Bush para aprovar a lei.

Sistema de saúde

Outra reforma discutida logo no começo do discurso foi a respeito da assistência médica e sua proposta de expansão. A fala de Bush pediu uma reforma tributária para baratear os planos de saúde e conseguir que mais cidadãos possam ter acesso à cobertura médica.

Bush já havia adiantado sua intenção de propor uma série de incentivos para estender o acesso aos planos de saúde privados --incentivos fiscais, semelhantes aos existentes para a compra de casas no país.

O atual regulamento fiscal americano "penaliza" quem não tem uma cobertura médica empresarial e incentiva a escolha pelos trabalhadores de planos mais caros, segundo o presidente. O resultado, prosseguiu, é o aumento das gratificações de seguros e "muitos americanos não têm a cobertura de que precisam".

Calcula-se que entre 46 e 48 milhões de cidadãos dos EUA não têm cobertura médica --muitos trabalham, mas superam o limite de renda fixado para escolher um dos programas de saúde governamentais.

Gasolina e petróleo

O discurso de Bush incluiu ainda um um apelo à duplicação das reservas estratégicas de petróleo dos Estados Unidos até 2027. Com isso, ele pretende fazer com que as reservas cheguem a 1,5 bilhão de barris, anunciou um assessor da Casa Branca.

"É de nosso interesse aumentar nossas reservas. Agora, estamos vulneráveis", afirmou.

A duplicação da reserva estratégica de petróleo pretende fornecer cerca de 97 dias de autonomia em termos de importação líquida, o que aumentará a capacidade dos Estados Unidos de enfrentar potenciais interrupções de fornecimento.

As reservas estratégicas de petróleo dos Estados Unidos contam atualmente com 700 milhões de barris, divididos em quatro centros. Essas reservas são utilizadas em casos de emergência e para enfrentar uma interrupção momentânea do fornecimento bruto do país. Os Estados Unidos consomem 20 milhões de barris por dia.

Ainda na questão dos combustíveis, o governo pediu ao Congresso medidas que reduzam o consumo de gasolina em até 20% na próxima década.

Bush quer também que o Congresso lhe dê autoridade para estabelecer as normas de consumo de gasolina para os fabricantes de automóveis e caminhões. A redução do consumo de gasolina seria obtido principalmente com um aumento substancial do uso do etanol e de outros combustíveis alternativos. Bush proporá que o volume de etanol e dos outros combustíveis que devem ser misturados à gasolina seja de 132 bilhões de litros em 2017, o que representa um aumento de quase cinco vezes em relação aos 28,3 bilhões apontados como meta para 2012.

Ele defendeu ainda o uso de energias alternativas, como a nuclear, e afirmou que o país deve se preocupar com a conservação da natureza enquanto busca sua auto-suficiência energética. "Precisamos viver com menos dependência do petróleo. Energias alternativas nos ajudarão a lidar com a séria ameaça das mudanças climáticas", disse o presidente.

Marketing

Ente os temas internacionais tratados brevemente por Bush hoje, encontraram espaço também a crise nuclear do Irã e da Coréia do Norte e as disputas no Oriente Médio, além de uma menção à tragédia humanitária em Darfur. A Aids também mereceu uma menção, além de um pedido de US$ 1.2 bilhão para lutar contra a malária em 15 diferentes países.

Em uma defesa da ajuda humanitária no mundo, Bush apontou para Dikembe Mutombo na platéia. Jogador de basquete, Mutombo, que nasceu no Congo e hoje é cidadão americano, se tornou astro da NBA após conseguir chegar aos EUA para estudar, e, segundo Bush, construiu mais tarde um hospital em sua cidade natal.

A estratégia de marketing do presidente incluiu também a programada presença de vários americanos de destaque na mídia nacional. Entre eles, um ex-combatente no Iraque e o americano que salvou um homem que havia caído nos trilhos do metrô de Nova York e se tornou herói nos EUA.

"Nessas histórias de compaixão, vemos o real espírito da América. Esse é um país decente e honrado. O Estado da União é forte, nossa causa é certa, e hoje essa luta continua. Deus nos abençoe."

Mudança de cenário

O discurso anual sobre o Estado da União de 2007, o sexto do tipo feito por Bush durante sua Presidência, foi feito hoje em meio a um cenário bastante diferente do de 2006. Nesta terça-feira, Bush enfrentou pela primeira vez em seus dois mandatos um Congresso dominado pelos democratas.

No discurso do Estado da União de 2006, Bush buscou ressaltar uma visão otimista em relação ao Iraque e à economia norte-americana. O tom positivo tinha um objetivo claro: defender os interesses republicanos em um ano de eleições legislativas. O presidente tinha então 43% de aprovação popular.

A defesa das conquistas no Iraque desabou menos de um mês depois, quando um ataque a uma mesquita xiita em Samarra em fevereiro de 2006 desencadeou um aumento sem precedentes na violência sectária do país árabe --aumento que segue firme nos dias de hoje.

Apesar do esforço de Bush, a fala de 2006 foi feita em meio ao que até então era considerado o pior período dos cinco anos de gestão do presidente dos EUA, e foi bastante criticada pela imprensa americana. A mídia viu um presidente acuado, defensivo, omisso e sem propostas concretas. Até os pontos mais ousados, como a promessa de redução da dependência de petróleo do Oriente Médio, foi considerada vaga.

A estratégia de Bush em 2006 falhou. Em novembro último, um eleitorado americano traumatizado por um ano duro e de grandes perdas no Iraque deu a vitória nas urnas ao Partido Democrata, que ganhou o controle do Congresso pela primeira vez em 12 anos.

O discurso do Estado da União está previsto na Constituição americana, ao determinar que o presidente falará ao Congresso periodicamente sobre a situação do país. O evento é travestido de honras e ritos. O presidente é aplaudido duas vezes pelo plenário do Congresso antes mesmo de dar a primeira palavra. A tradição do discurso foi iniciada por George Washington em 1790.

Com agências internacionais

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