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07/02/2007 - 18h34

Reino Unido investiga extremismo doméstico em caso de cartas-bomba

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ANDREA MURTA
DANIELA LORETO
da Folha Online

O Reino Unido entrou em alerta nesta quarta-feira após descobrir que ao menos sete cartas-bomba explodiram em diferentes regiões do país deste janeiro último. A assessoria de imprensa da polícia de Thames Valley, que investiga três das explosões, disse à Folha Online, por telefone, que ao menos duas delas --uma em Londres, na segunda-feira, e outra em Berkshire, ontem-- possuem conexão.

A polícia suspeita que os explosivos utilizados nas cartas não são convencionais e visam apenas causar sustos e ferimentos leves. Anton Setchell, coordenador nacional para Extremismo Doméstico do Reino Unido, afirmou na tarde desta quarta-feira em uma entrevista coletiva que há duas linhas prioritárias de investigação.

Simon Dawson/AP
Polícia investiga prédio em Wokingham (UK) onde uma carta-bomba explodiu
Polícia investiga prédio em Wokingham (UK) onde uma carta-bomba explodiu
A primeira linha segue a pista de extremistas ligados aos direitos dos animais, e a segunda que se relaciona com grupos que protestam contra os sistemas de transporte e monitoramento do país.

"Uma referência em um dos envelopes relacionada a um ativistas de direitos dos animais, Barry Horne, levou a polícia a considerar que extremistas de direitos dos animais podem estar envolvidos."

Devido ao tipo das empresas que receberam os envelopes, a polícia investiga também protestos contra serviços de transporte e monitoramento. "Ainda estamos no início das investigações e quero manter a mente aberta, mas estas são as duas linhas de investigação prioritárias", afirmou o coordenador.

Setchell confirmou a ligação entre os atos. "Dois dos pacotes, enviados para uma companhia em Culham, Oxfordshire, e a sede do Serviço de Ciência Forense em Birmingham, foram interceptados e não se ativaram. Estabelecemos uma conexão entre estes pacotes", disse Setchell.

As cartas-bomba foram enviadas a escritórios de diferentes partes do país. Três dos casos ocorreram de forma consecutiva entre segunda-feira (5) e hoje. Outras quatro explosões foram registrados pela polícia em janeiro.

Explosivos pirotécnicos

Segundo Setchell, os dispositivos foram colocados em envelopes tamanho A5 e com etiquetas contendo endereços das empresas --alguns errados--, parte escritos à mão e parte datilografados.

Durante a coletiva, ele disse que os endereços não citavam indivíduos pelo nome e que os envelopes estão programados para se ativarem quando seu conteúdo for retirado.

As cartas não continha explosivos convencionais, segundo Setchell. O coordenador afirmou que testes forenses ainda não foram finalizados, mas aparentemente os artefatos são feitos com pirotecnia (se referindo explosivos leves ou fogos de artifício). Ele afirmou que os artefatos foram planejados para causar apenas surpresa e ferimentos relativamente leves.

Ataques como estes são considerados atos de "extremismo doméstico" quando estão ligados a grupos ou indivíduos que protestam contra um único assunto --diferentemente do terrorismo, que tem causas mais complexas.

Feridos

Nesta quarta-feira, uma carta-bomba explodiu em um escritório da DVLA, agência britânica que administra registros de motoristas e automóveis, no centro de Swansea, no País de Gales, ferindo três funcionárias. Uma delas sofreu queimaduras leves, as outras duas tiveram a audição afetada.

Até agora, seis pessoas se feriram nas sete explosões.

A carta-bomba enviada hoje reforça suspeitas de que um motorista ou outra pessoa descontente com órgãos ligados ao sistema de controle de trânsito seja responsável pelas explosões.

Editoria de arte/Folha de S.Paulo

A suposição é baseada na coincidência dos alvos. Na explosão ocorrida em Londres, a carta-bomba feriu uma mulher no escritório da Capita --empresa de seguros que representa clientes e arrecada 25 milhões de pagamentos por ano de motoristas que pedem licença para dirigir, localizado no centro da capital britânica.

Ontem, dois homens ficaram feridos após serem atingidos pela explosão de uma segunda carta-bomba enviada a um escritório da empresa Vantis [que tem como cliente os serviços de câmeras e controle de velocidade por radares fotográficos]. A empresa atingida fica no Centro de Negócios de Oaklands em Wokingham, no Condado de Berkshire, a oeste de Londres.

Mais casos

Outros três casos ocorreram em janeiro e tiveram como alvo empresas. No último dia 18, duas explosões foram registradas em Oxfordshire [que também são investigados pela polícia de Thames Valley]. No dia seguinte, uma carta-bomba explodiu West Midlands (Birmingham).

A sétima carta-bomba, única que não teve como alvo uma empresa, causou ferimentos leves em um homem de 53 anos em Folkestone, no Condado de Kent, no último sábado (3).

Alerta

Em um comunicado anterior, Setchell pediu que as companhias fiquem atentas para eventuais novas cartas-bomba.

"Peço às companhias e indivíduos que tenham cautela extra ao lidar com correspondência. Se suspeitarem de alguma carta ou pacote, não o abram e chamem a polícia imediatamente."

Na manhã desta quarta-feira, a polícia foi chamada a um escritório em Pimlico, no centro de Londres --que fica próximo do edifício da Capita-- após relatos de um pacote suspeito.

No entanto, segundo a polícia, era um alarme falso. "É claro que isso irá acontecer nos próximo dias, as pessoas estão mais cautelosas que o normal com a correspondência".

O ministro britânico do Interior, John Reid, falando momentos antes de ser anunciada a terceira explosão, nesta quarta-feira, classificou as cartas-bomba como "preocupante", e disse ser importante que a polícia leve a cabo sua investigação sem fazer especulações.

Ação isolada

Ouvido por telefone pela Folha Online, o especialista em criminologia de Oxford, Ian Loader, 41, aposta na hipótese de que os atentados sejam obra de um único indivíduo.

"Posso até estar errado, a polícia pode descobrir daqui a algum tempo que existe um grupo organizado contra as regras de regulamentação do trânsito atuando por trás disso, mas acho muito difícil", afirmou Loader.

Para o especialista, o mais provável é que se trate de uma "iniciativa individual" de alguém que se sente injustiçado com o sistema de regulação de tráfego, e decidiu "mostrar sua raiva contra quem organiza este sistema" enviando cartas-bomba para as empresas responsáveis.

O professor de Oxford também descarta a possibilidade de ações deste tipo se proliferarem.

"É preciso levar em conta que nem todas as pessoas que se sentem injustiçadas com algo no Reino Unido possuem os meios para enviar cartas-bomba, mesmo que queiram. Por isso, não acho que ocorrências similares vão se repetir em série".

Passado

O IRA (Exército Republicano Irlandês) foi pioneiro no uso de cartas-bomba como tática de terrorismo nos anos 70, na campanha para separar a Irlanda do Norte do Reino Unido. O grupo armado ilegal alvejava escritórios do governo britânico e da área da segurança.

A tática feriu dezenas de pessoas na década de 70, mas não chegou a matar ninguém. Até o momento, a polícia britânica não fez relações entre as recentes explosões e o grupo terrorista.

Com agências internacionais

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