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20/03/2007
-
07h01
CHIAKI KAREN TADA
da Folha Online
Quatro anos após o início da Guerra do Iraque, "muito pouco" foi realizado e o país está "desmoronando aos poucos", na opinião de Joost Hiltermann, vice-diretor do Programa para o Oriente Médio e Norte da África da ONG International Crisis Group [especializada em análises de conflitos]. Hiltermann foi entrevistado por telefone do Iraque com exclusividade pela Folha Online.
"Um regime muito brutal foi removido, e muitos iraquianos estão muito agradecidos por isso. Mas a criação de um vácuo político, administrativo e especialmente de segurança em 2003 deu poder a grupos armados, seja de milícias ou de insurgentes", resume Hiltermann.
"[Estes grupos] engajaram-se em batalhas que possuem caráter sectário em áreas de população mista e caráter político em outras áreas", afirma. Como exemplo, o especialista cita as tensões entre sunitas em Ramadi (oeste) e entre xiitas em Basra (sul).
Segundo ele, como resultado, a reconstrução do Iraque "parou". "A classe trabalhadora mudou-se para países vizinhos. O país está ingovernável e desmoronando aos poucos", diz.
Diante de um quadro sem governo, sem um líder nacional respeitado e sem forças americanas capazes de preencher esse vácuo, o ex-diretor executivo da Divisão de Armas do Human Rights Watch diz que o cenário futuro do Iraque é o de um "Estado em colapso".
Hiltermann encontra-se no momento em Kirkuk, no Iraque, para a atualização de um relatório sobre como solucionar os problemas na região. "O cenário estava calmo nas últimas duas semanas. Mas a situação em Kirkuk é tensa", definiu ele.
Localizada 250 km ao norte de Bagdá, a cidade foi atingida ontem por três carros-bomba que mataram 18 pessoas e feriram 37. A região vive um cenário de violência crescente atribuída a insurgentes que deixaram Bagdá após o início da operação de segurança na capital.
Cidade rica em petróleo, Kirkuk é um dos lugares de maior conflito no Iraque. Sunitas, apoiados pelos turcomanos, e curdos disputam o comando da cidade.
Guerra civil
Na quinta-feira (15), o Departamento de Defesa dos EUA admitiu em um relatório que o Iraque enfrenta uma guerra civil.
O documento descreve que o período entre outubro e dezembro de 2006 como o mais violento do conflito desde a invasão americana há quatro anos, e aponta que "alguns elementos [do conflito] no Iraque podem ser considerados parte de uma guerra civil".
"De acordo com o Pentágono, o Iraque é alvo de uma média de mil ataques por semana, contra cerca de 800 por semana no período de maio a agosto de 2006.
Para Hiltermann, a situação é "claramente" de guerra civil desde muito antes da divulgação do relatório americano, "em termos de intensidade e do número de mortos".
Hiltermann alerta que é preciso que haja um plano político para resolver a situação no Iraque.
"Mas não vejo a administração [do presidente americano, George W.] Bush lançando uma iniciativa política", afirmou. "Eles estão cegos para os problemas e fracos demais em casa para fazer qualquer coisa efetiva no Iraque agora".
Nesta segunda-feira, na véspera do quarto aniversário da Guerra do Iraque, Bush afirmou que a vitória no país ainda "é possível", mas levará meses, e não dias ou semanas.
O presidente americano deu as declarações ao falar ao Congresso americano liderado pelo Partido Democrata, que pressiona pelo final do conflito.
"Tarefa árdua"
Para outro especialista em Iraque, porém, a resolução da guerra levará muitos anos.
"Os americanos ainda não conseguiram reconstruir o Estado [iraquiano] ou restabelecer a segurança no país", afirma Toby Dodge, especialista em Iraque do International Institute for Strategic Studies, no Reino Unido.
Para Dodge, os EUA precisam enviar mais soldados e controlar Bagdá. Ao mesmo tempo, é necessário reconstruir o Estado iraquiano. "Será uma tarefa árdua e longa", diz.
Dodge também concorda que há, sim, uma guerra civil em curso no Iraque. Mas, para ele, a situação iraquiana é muito mais complexa que uma guerra civil "direta", porque em vez de grandes grupos em luta, há muitos grupos menores combatendo um ao outro.
"Basicamente todos estão lutando uns contra os outros no Iraque", afirma.
Na opinião de Dodge, a estabilização do Iraque ainda levará "uns dez anos", mas a retirada das tropas americanas deve ocorrer "em três ou quatro anos".
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Iraque é país que desmorona aos poucos, diz especialista
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da Folha Online
Quatro anos após o início da Guerra do Iraque, "muito pouco" foi realizado e o país está "desmoronando aos poucos", na opinião de Joost Hiltermann, vice-diretor do Programa para o Oriente Médio e Norte da África da ONG International Crisis Group [especializada em análises de conflitos]. Hiltermann foi entrevistado por telefone do Iraque com exclusividade pela Folha Online.
"Um regime muito brutal foi removido, e muitos iraquianos estão muito agradecidos por isso. Mas a criação de um vácuo político, administrativo e especialmente de segurança em 2003 deu poder a grupos armados, seja de milícias ou de insurgentes", resume Hiltermann.
"[Estes grupos] engajaram-se em batalhas que possuem caráter sectário em áreas de população mista e caráter político em outras áreas", afirma. Como exemplo, o especialista cita as tensões entre sunitas em Ramadi (oeste) e entre xiitas em Basra (sul).
12.jan.2007/Reuters |
Mercado Al Arabi pega fogo após ser atingido por dois carros-bomba |
Diante de um quadro sem governo, sem um líder nacional respeitado e sem forças americanas capazes de preencher esse vácuo, o ex-diretor executivo da Divisão de Armas do Human Rights Watch diz que o cenário futuro do Iraque é o de um "Estado em colapso".
Hiltermann encontra-se no momento em Kirkuk, no Iraque, para a atualização de um relatório sobre como solucionar os problemas na região. "O cenário estava calmo nas últimas duas semanas. Mas a situação em Kirkuk é tensa", definiu ele.
Localizada 250 km ao norte de Bagdá, a cidade foi atingida ontem por três carros-bomba que mataram 18 pessoas e feriram 37. A região vive um cenário de violência crescente atribuída a insurgentes que deixaram Bagdá após o início da operação de segurança na capital.
Cidade rica em petróleo, Kirkuk é um dos lugares de maior conflito no Iraque. Sunitas, apoiados pelos turcomanos, e curdos disputam o comando da cidade.
Guerra civil
Na quinta-feira (15), o Departamento de Defesa dos EUA admitiu em um relatório que o Iraque enfrenta uma guerra civil.
O documento descreve que o período entre outubro e dezembro de 2006 como o mais violento do conflito desde a invasão americana há quatro anos, e aponta que "alguns elementos [do conflito] no Iraque podem ser considerados parte de uma guerra civil".
22.dez.2006/Efe |
Cúpula de mesquita atacada em Samarra; ataque gerou violência |
Para Hiltermann, a situação é "claramente" de guerra civil desde muito antes da divulgação do relatório americano, "em termos de intensidade e do número de mortos".
Hiltermann alerta que é preciso que haja um plano político para resolver a situação no Iraque.
"Mas não vejo a administração [do presidente americano, George W.] Bush lançando uma iniciativa política", afirmou. "Eles estão cegos para os problemas e fracos demais em casa para fazer qualquer coisa efetiva no Iraque agora".
Nesta segunda-feira, na véspera do quarto aniversário da Guerra do Iraque, Bush afirmou que a vitória no país ainda "é possível", mas levará meses, e não dias ou semanas.
O presidente americano deu as declarações ao falar ao Congresso americano liderado pelo Partido Democrata, que pressiona pelo final do conflito.
"Tarefa árdua"
Para outro especialista em Iraque, porém, a resolução da guerra levará muitos anos.
18.jan.2007/Reuters |
Policiais checam local da explosão de um carro-bomba em Bagdá |
Para Dodge, os EUA precisam enviar mais soldados e controlar Bagdá. Ao mesmo tempo, é necessário reconstruir o Estado iraquiano. "Será uma tarefa árdua e longa", diz.
Dodge também concorda que há, sim, uma guerra civil em curso no Iraque. Mas, para ele, a situação iraquiana é muito mais complexa que uma guerra civil "direta", porque em vez de grandes grupos em luta, há muitos grupos menores combatendo um ao outro.
"Basicamente todos estão lutando uns contra os outros no Iraque", afirma.
Na opinião de Dodge, a estabilização do Iraque ainda levará "uns dez anos", mas a retirada das tropas americanas deve ocorrer "em três ou quatro anos".
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