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18/04/2007 - 22h46

Autor de massacre diz que vítimas "não deixaram alternativa"

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da Folha Online

Em um vídeo enviado a uma rede de TV na manhã em que cometeu o pior massacre em um campus universitário americano na história, o sul-coreano Cho Seung-hui afirma que as vítimas "não deixaram outra alternativa" e foram as responsáveis pelos ataques. Cho, 23, matou 32 pessoas antes de se suicidar no campus do Instituto Tecnológico da Virgínia (Virginia Tech) nesta segunda-feira, e as mensagens enviadas à rede NBC foram divulgadas hoje.

NBC/reprodução
Imagem contida em pacote enviado à NBC mostra Cho apontando arma para a câmera
Imagem contida em pacote enviado à NBC mostra Cho apontando arma para a câmera
Além dos arquivos de vídeo, o sul-coreano enviou fotografias e textos em um pacote pelo correio para a sede da NBC em Nova York. As fotos mostram o estudante portando duas armas, e no vídeo ele fala diretamente para a câmera sobre seu ódio aos ricos.

"Havia centenas de bilhões de opções e maneiras para evitar o que aconteceu hoje", afirma ele em um dos 29 arquivos de vídeo que enviou para a NBC. "Mas vocês decidiram derramar meu sangue. Vocês me encurralaram e me deixaram apenas uma opção. Agora têm suas mãos manchadas de sangue para o resto de suas vidas".

"Eu não precisava ter feito isso. Eu poderia ter partido, eu poderia ter fugido. Mas não, vou parar de fugir. Não é por mim. Por meus filhos, por meus irmãos e minhas irmãs que vocês agridem", completa.

Segundo a rede de informação britânica BBC, o estudante também faz referências ao massacre de Columbine, no qual dois alunos mataram 13 pessoas antes de suicidarem, há oito anos. Ele falaria em "mártires, como Eric e Dylan", os dois autores do massacre de Columbine.

Conteúdo

O conteúdo completo do material está sendo revelado aos poucos. A NBC informou que entregou o material para autoridades hoje.

NBC
Imagem contida em pacote enviado à NBC mostra Cho apontando arma para si mesmo
Imagem contida em pacote enviado à NBC mostra Cho apontando arma para si mesmo
"Este poderá ser um novo e crítico componente de nossa investigação. Estamos agora tentando analisar e avaliar seu valor", disse o coronel Steve Flaherty, superintendente da Polícia Estadual da Virgínia.

A MSNBC News afirmou que o material aparentemente foi enviado entre o primeiro e o segundo ataques na universidade. O pacote, que inclui textos, vídeos e fotos, foi recebido nesta quarta-feira.

O presidente da NBC News, Steve Capus, disse que a rede recebeu o pacote em sua correspondência matutina e imediatamente entregou o material para o FBI (polícia federal americana) em Nova York. O FBI está colaborando com a Polícia Estadual da Virgínia na investigação sobre o massacre.

Material perturbador

A rede informou em seu site que o pacote incluía uma "longa mensagem, como um manifesto, misturado com uma série de fotografias". "O material é muito, muito perturbador --cheio de raiva", disse Capus.

Apesar de não incluir imagens dos tiroteios desta segunda-feira, há "vagas referências" aos ataques, incluindo afirmações de que "isso não deveria ter que acontecer", afirmou o presidente da rede em uma entrevista.

O material portava um selo do correio americano mostrando que fora recebido em uma agência da Virgínia às 9h01 de segunda-feira --cerca de uma hora e 45 minutos depois do primeiro ataque, no dormitório West Ambler Johnston, e pouco antes do segundo ataque, que deixou 30 mortos no Norris Hall (faculdade de engenharia).

"Provavelmente teríamos recebido o material antes, mas ele estava com endereço e cep incorretos", acrescentou Capus.

Vídeo

No material há arquivos de vídeo nos quais Cho se dirige diretamente para a câmera e, sem citar nomes, fala longamente sobre religião e seu ódio às pessoas ricas, segundo o site da NBC.

AP
Imagem enviada pelo atirador à NBC mostra Cho apontando arma de fogo para câmera
Imagem enviada pelo atirador à NBC mostra Cho apontando arma de fogo para câmera
A produção dos vídeos indica que Cho trabalhou durante algum tempo no material, pois ele "não apenas reservou o tempo para gravar os vídeos como ainda inclui partes inteiras de suas falas no documento principal", acrescentou capus.

O site da NBC mostra trechos do vídeo enviado por Cho, que fazem parte do vídeo Multimedia Manifesto sent to NBC". Devido ao grande número de acessos, é possível que o site enfrente dificuldades técnicas.

Já as fotografias mostram Cho em diferentes locações, muitas vezes posando em frente a uma parede branca. Outras vezes, ele posa segurando armas ou facas, ou ainda mostra projéteis em uma mesa.

Pânico

Com as aulas suspensas até a próxima semana, o campus da Virginia Tech voltou a experimentar momentos de pânico hoje. Policiais com cães farejadores invadiram o prédio da reitoria no campus após um falso alerta.

"Meu Deus, começou de novo", gritou a estudante Petty Wingler, 21, que testemunhou a chegada dos policiais armados ao edifício que fica perto ao Norris Hall, prédio da engenharia onde na segunda-feira (16) 30 pessoas foram mortas.

A polícia recebeu uma ligação que mencionava uma movimentação incomum no edifício Burruss Hall, onde funciona a reitoria da universidade. "Recebemos informações de atividades suspeitas. O alerta era infundado, o local está seguro", disse um policial à imprensa.

"Em vista do que aconteceu no campus, não é estranho receber este tipo de ligação", disse a porta-voz, Corinne Geller, em referência à comoção provocada pelo massacre no campus.

Ataques

A Virginia Tech enfrentou dois ataques nesta segunda-feira. As ações, que ocorreram em lados opostos do campus, tiveram início às 7h15 (8h15 de Brasília) em West Ambler Johnston Hall, residência estudantil que abriga ao menos 895 pessoas. Duas pessoas morreram.

Shannon Stapleton /Reuters
Policial chega com cão farejador ao prédio da reitoria após falso alerta em universidade
Policial chega com cão farejador ao prédio da reitoria após falso alerta em universidade
Duas horas depois, Norris Hall, edifício da engenharia, foi alvo de outro ataque a tiros. Outras 30 pessoas morreram, na maioria estudantes.

Cho, que se suicidou em seguida, usou duas armas --uma pistola Glock 9 milímetros e outra arma calibre 22 no massacre. A polícia também encontrou facas com o estudante.

Nesta terça-feira, uma carta encontrada pela polícia aparentemente indica que Cho premeditou a ação. No texto de várias páginas, ele se queixa dos garotos "ricos, festeiros e charlatões" da universidade e afirma que foram eles que "causaram a tragédia".

Segundo o jornal "Chicago Tribune", ele dava sinais de comportamento violento e fora do normal, tendo inclusive ateado fogo a um dormitório e assediado estudantes da universidade.

Erro policial

Nesta quarta-feira, o jornal americano "The New York Times", divulgou informações que podem apontar uma falha da polícia do campus. Segundo o jornal, os investigadores seguiram o homem errado após o primeiro ataque, um lapso que pode ter contribuído para as mortes de 30 pessoas na segunda ação.

As novas informações podem explicar o intervalo de duas horas entre os dois ataques a tiros.

Reuters
O atirador Cho Seung-Hui, 23, estudava inglês na Virginia Tech
O atirador Cho Seung-Hui, 23, estudava inglês na Virginia Tech
De acordo com o "New York Times", após a morte de dois estudantes --Emily Jane Hilscher e Ryan Clark-- policiais passaram a procurar Karl D. Thornhill, que era namorado de Hilscher, por suspeitar que ele poderia ser o autor do crime.

Segundo informações que constam no boletim policial, uma colega de quarto de Hilscher afirmou à polícia que Thornhill, que era estudante da Universidade de Radford, na mesma região, possuía armas de fogo em sua casa.

A testemunha disse ainda que a garota morta havia ido recentemente a uma academia de tiros com o namorado, o que fez com a polícia o considerasse suspeito.

No entanto, enquanto Thornhill estava sendo interrogado, a polícia foi informada a respeito do segundo ataque em Norris Hall, prédio da engenharia, que terminou com 30 mortos, deixando claro que o homem errado havia sido detido e que o atirador estava à solta no campus.

Investigação

Apesar dos novos dados, autoridades estaduais continuam a defender as ações da polícia do campus. John W. Marshall, secretário de segurança pública da Virgínia, afirmou que o presidente da universidade Charles W. Steger, e o chefe de polícia Wendell Flinchum tomaram "a decisão correta com base nas informações disponíveis naquele momento".

Vários estudantes questionaram o fato de a universidade não ter enviado um alerta a todos os presentes no campus sobre a presença de um homem armado.

Em uma coletiva de imprensa nesta terça-feira, o governador da Virgínia, Timothy M. Kaine, afirmou que Steger pediu que um comitê seja estabelecido para investigar o massacre.

Hoje, Kaine disse à rede de TV americana CNN que indicaria Gerald Massengill, ex-superintendente da polícia estadual da Virgínia, para chefiar a investigação.

Com agências internacionais

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