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19/04/2007 - 09h01

Autor de massacre deixa vídeo póstumo; família lamenta ataque

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da Folha Online

O estudante sul-coreano Cho Seung-hui, 23, autor do massacre que matou 32 no campus do Instituto Politécnico da Virgínia na segunda-feira (16), preocupava a família durante a infância por ser "quieto demais", relataram parentes nesta quinta-feira.

Em um vídeo enviado à rede NBC no intervalo entre dois ataques, divulgado nesta quarta-feira, Cho afirma que as vítimas "não deixaram outra alternativa" e foram as responsáveis pelo massacre. Ele matou 32 pessoas antes de se suicidar, no pior ataque contra um campus universitário da história dos Estados Unidos.

NBC/reprodução
Imagem contida em pacote enviado à NBC mostra Cho apontando arma para a câmera
Imagem contida em pacote enviado à NBC mostra Cho apontando arma para a câmera
"Ele não falava muito quando era criança, era muito quieto, e isto nos preocupava, tentávamos encorajá-lo a falar mais", disse o tio de Cho, identificado apenas pelo último nome, Kim. "Mas não imaginávamos que ele poderia apresentar problemas graves", afirmou.

Cho deixou a Coréia do Sul em 1992 com a família, em busca de uma vida melhor nos Estados Unidos. Seu tio diz que não o reconheceu ao ver suas imagens mostradas na TV, já que o estudante e sua família não retornaram à Coréia do Sul desde que deixaram o país.

"Estou devastado, não sei o que poderia dizer às famílias das vítimas e aos cidadãos americanos. Expresso minhas sinceras desculpas, como membro da família", disse o tio.

Segundo ele, a mãe de Cho, que é sua irmã, telefonava de vez em quando para os parentes na Coréia do Sul, mas nunca mencionou enfrentar problemas com Cho. "Ela dizia que as crianças estavam bem e estudando. Ela não parecia estar preocupada com os filhos", disse.

O avô do estudante, igualmente identificado como Kim, também disse que o neto era um garoto "tranqüilo e inteligente", mas que o fato de ser quieto demais preocupava seus pais

"Quando minha filha me telefonava, eu perguntava a ela como estava Cho, e ela dizia que ele estava muito bem. Como ele pode fazer isso?", questionou o avô do estudante, de 82 anos.

Vídeo

Além dos arquivos de vídeo, o sul-coreano enviou fotografias e textos em um pacote pelo correio para a sede da NBC em Nova York. As fotos mostram o estudante portando duas armas, e no vídeo ele fala diretamente para a câmera sobre seu ódio aos ricos.

NBC
Imagem contida em pacote enviado à NBC mostra Cho apontando arma para si mesmo
Imagem contida em pacote enviado à NBC mostra Cho apontando arma para si mesmo
"Havia centenas de bilhões de opções e maneiras para evitar o que aconteceu hoje", afirma ele em um dos 29 arquivos de vídeo que enviou para a NBC. "Mas vocês decidiram derramar meu sangue. Vocês me encurralaram e me deixaram apenas uma opção. Agora têm suas mãos manchadas de sangue para o resto de suas vidas".

"Eu não precisava ter feito isso. Eu poderia ter partido, eu poderia ter fugido. Mas não, vou parar de fugir. Não é por mim. Por meus filhos, por meus irmãos e minhas irmãs que vocês agridem", completa.

Segundo a BBC, o estudante também faz referências ao massacre de Columbine, no qual dois alunos mataram 13 pessoas antes de suicidarem, há oito anos. Ele falaria em "mártires, como Eric e Dylan", os dois autores do massacre de Columbine.

Pânico

Com as aulas suspensas até a próxima semana, o campus da Virginia Tech voltou a experimentar momentos de pânico hoje. Policiais com cães farejadores invadiram o prédio da reitoria no campus após um falso alerta.

Shannon Stapleton /Reuters
Policial chega com cão farejador ao prédio da reitoria após falso alerta em universidade
Policial chega com cão farejador ao prédio da reitoria após falso alerta em universidade
"Meu Deus, começou de novo", gritou a estudante Petty Wingler, 21, que testemunhou a chegada dos policiais armados ao edifício que fica perto ao Norris Hall, prédio da engenharia onde na segunda-feira (16) 30 pessoas foram mortas.

A polícia recebeu uma ligação que mencionava uma movimentação incomum no edifício Burruss Hall, onde funciona a reitoria da universidade. "Recebemos informações de atividades suspeitas. O alerta era infundado, o local está seguro", disse um policial à imprensa.

"Em vista do que aconteceu no campus, não é estranho receber este tipo de ligação", disse a porta-voz, Corinne Geller, em referência à comoção provocada pelo massacre no campus.

Ataques

A Virginia Tech enfrentou dois ataques nesta segunda-feira. As ações, que ocorreram em lados opostos do campus, tiveram início às 7h15 (8h15 de Brasília) em West Ambler Johnston Hall, residência estudantil que abriga ao menos 895 pessoas. Duas pessoas morreram.

Reuters
O atirador Cho Seung-Hui, 23, estudava inglês na Virginia Tech
O atirador Cho Seung-Hui, 23, estudava inglês na Virginia Tech
Duas horas depois, Norris Hall, edifício da engenharia, foi alvo de outro ataque a tiros. Outras 30 pessoas morreram, na maioria estudantes.

Cho, que se suicidou em seguida, usou duas armas --uma pistola Glock 9 milímetros e outra arma calibre 22 no massacre. A polícia também encontrou facas com o estudante.

Nesta terça-feira, uma carta encontrada pela polícia aparentemente indica que Cho premeditou a ação. No texto de várias páginas, ele se queixa dos garotos "ricos, festeiros e charlatões" da universidade e afirma que foram eles que "causaram a tragédia".

Segundo o jornal "Chicago Tribune", ele dava sinais de comportamento violento e fora do normal, tendo inclusive ateado fogo a um dormitório e assediado estudantes da universidade.

Coréia do Sul

A nacionalidade do assassino causou embaraço para os cidadãos da Coréia do Sul, onde autoridades temem represálias contra sul-coreanos que vivem nos Estados Unidos.

Cerca de 130 pessoas reuniram-se na Catedral Myeongdong, em Seul, para rezar pelas vítimas. "Como mãe, meu coração dói como se isso tivesse ocorrido aos meus filhos", disse Bang Myung-lan, dona de casa de 48 anos. "Como sul-coreana, sinto muito pela tragédia".

"Entre os 32 mortos havia estudantes brilhantes que poderiam trazer grandes contribuições para a sociedade, foi uma grande perda", afirmou o cardeal Nicolas Cheong Jin-suk aos fiéis.

"Como sul-coreano, não posso deixar de pedir desculpas pelo fato de um cidadão de meu país ter sido o autor da tragédia", acrescentou ele.

"Não consigo compreender como algo assim ocorreu, especialmente ao pensar que um sul-coreano foi o responsável por isso", disse Lee Chun-ja, 68, após a missa. "Estou muito triste, algo assim não deve acontecer de novo nunca mais".

Com agências internacionais

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