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17/05/2007 - 00h00

Iraque vive "várias guerras civis" e pode entrar em colapso

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DANIELA LORETO
editora de Mundo da Folha Online

O Iraque não vive apenas uma guerra civil, e sim vários conflitos civis e insurgências envolvendo comunidades e organizações diversas que disputam o poder, aponta um relatório da consultoria em política internacional britânica Chatham House, divulgado nesta quinta-feira.
Segundo o estudo, realizado pelo especialista em Oriente Médio Gareth Stansfield, a situação da segurança do país não deve apresentar progresso "nos próximos meses", e levará anos para ser resolvida. "Se as forças de coalizão deixarem o país, as forças de segurança iraquianas não saberão lidar com o altíssimo nível de insegurança", diz.

Para o estudioso, a realidade do país deve ser aceita para que "novas estratégias" possam ter "alguma chance" de conter "o fracasso e o colapso" do Iraque.

Uma solução política necessitaria do diálogo com grupos que tem "legitimidade popular", e teria de ser um acordo "basicamente iraquiano", e não sob a influência regional ou imposto pelos Estados Unidos.

De acordo com o documento, "poderes regionais" possuem uma capacidade "bem maior" de influenciar os acontecimentos no Iraque do que os EUA e o Reino Unido, seu principal aliado. Entre as forças regionais que deveriam ser consultadas, Stansfield cita o clérigo radical xiita Moqtada al Sadr, que é tratado como "inimigo" pelos EUA.

Em relação ao governo iraquiano, ele não teria "autoridade efetiva" sobre grande parte do país e seria "irrelevante" em termos de manter a ordem social, política, e econômica. Segundo Stansfield, a estrutura política iraquiana está dividida em "várias bases regionais", e o governo central do país seria apenas "um dos agentes".

O documento aponta ainda que a rede terrorista Al Qaeda tem presença "bastante forte" no Iraque, e que sua influência se espalhou para as principais cidades do centro e do norte do país, tais como Bagdá, Kirkuk e Mossul.

Segundo o relatório, apesar de ser ameaçada por fatores regionais, a ação da rede no país é "vasta" e difícil de ser contida.

Vários conflitos

Como exemplo dos vários conflitos vividos no país, Stansfield cita a disputa entre sunitas e xiiitas pelo controle do Estado, que leva a um "vicioso conflito civil" em Bagdá e em seus arredores, envolvendo instituições da área de segurança ligadas ao governo iraquiano.

Outro conflito em curso no país seria o que envolve curdos e não-curdos em Kirkuk, e que já ameaça se espalhar para Mossul. No centro e no norte do país, uma outra disputa ocorre entre sunitas e as forças lideradas pelos EUA, segundo o relatório da Chatham House.

Já nas regiões sul e central, forças dos EUA e do Reino Unido se confrontam com xiitas.

Em Províncias como Anbar, Nineva e Diyala, há uma disputa entre sunitas ligados a grupos tribais e sunitas ligados à rede Al Qaeda e a outras organizações radicais islâmicas.

O relatório também cita a ameaça representada pelo fortalecimento do Estado Islâmico do Iraque --coalizão de oito grupos liderada pela Al Qaeda-- em Bagdá e no Triângulo Sunita, e disputas entre a Al Qaeda e grupos radicais originados no Iraque, como o Ansar al Sunna.

Em Najaf e Basra, há ainda um conflito entre xiitas leais ao clérigo radical Moqtada al Sadr e xiitas ligados à milícia Brigadas de Badr.

A criminalidade crescente em todo o país seria outro fator que ameaça a segurança.

Questão regional

De acordo com o relatório, os três principais países vizinhos do Iraque --Arábia Saudita, Turquia e principalmente o Irã-- possuem "diferentes motivos" para desejar que a "instabilidade continue no Iraque", e para utilizar "diversos métodos" para que isto aconteça.

Segundo o documento, o Irã vê o Iraque como um "palco" onde é possível lutar contra os EUA de maneira menos direta.

"Desde o final da guerra entre Irã e Iraque, Teerã se consolida como influência hegemônica no golfo Pérsico, status que apenas a presença dos EUA em países árabes poderia prejudicar. Tal presença muitas vezes transformou-se em ameaça, parecendo tornar-se uma barreira para as aspirações do Irã na região", escreve Stansfield em seu estudo.

Para o especialista, Teerã utiliza o Iraque para "minar a determinação dos EUA, ao menos em termos de opinião pública doméstica, em realizar um ataque direto ao Irã".

 

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