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30/06/2008 - 20h41

Líderes africanos evitam criticar Robert Mugabe em cúpula

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da Folha Online

O ditador do Zimbábue, Robert Mugabe, foi recebido com abraços em uma cúpula de líderes africanos nesta segunda-feira, um sinal de que os governantes do continente não irão rechaçá-lo, apesar da pressão do Ocidente para que tomem um postura firme frente à sua sexta reeleição, em votação fraudulenta e em meio a uma onda de violência política.

Porém, nos bastidores, alguns líderes pressionam Mugabe para uma divisão do poder com seu rival, o líder da oposição Morgan Tsvangirai, que se retirou do segundo turno da disputa pela Presidência após após contabilizar ao menos 86 afiliados e simpatizantes mortos desde 29 de março --data do primeiro turno.

Arte Folha Online

Enquanto muitos países africanos --incluindo a África do Sul, potência regional-- têm evitado criticar Mugabe, as críticas americanas e européias são crescentes.

Nesta segunda, a França declarou considerar o governo de Mugabe "ilegítimo", a Itália chamou seu embaixador, e o premiê britânico, Gordon Brown, exortou a União Africana (UA) a rejeitar o resultado da disputa presidencial no Zimbábue.

O encontro deve "deixar absolutamente claro que precisa haver mudança", no Zimbábue, disse Brown, em Londres. "Creio que essa mensagem que vem de todo o mundo é a de que as chamadas eleições não serão reconhecidas."

Votação

Porém, o ditador, no poder desde 1980, quando o Zimbábue se tornou independente do Reino Unido, aproveitou a oportunidade da abertura da cúpula da UA para mostrar o reconhecimento de sua vitória, no dia seguinte ao tomar posse de seu sexto mandato após a votação de sexta-feira, na qual foi candidato único.

Segundo a comissão eleitoral nacional, Mugabe venceu com 85,51% dos votos. No primeiro turno, realizado em março, ele obteve 43,2 % contra 47,9% do candidato da oposição, Morgan Tsvangirai --a primeira derrota oficial de Mugabe. Os resultados oficiais da primeira votação demoraram semanas para serem divulgados, contra 48 horas do segundo turno, que nem deveria ter acontecido, já que Tsvangirai havia retirado sua candidatura.

Ele entrou na sala de conferência junto de seu anfitrião, o ditador egípcio Hosni Mubarak, em um gesto simbólico de seu status. Em sessões públicas, houve pouco calor para Mugabe, mas ao conversar com líderes antes da sessão de abertura, ele abraçou diversos chefes de Estado e diplomatas, segundo um delegado africano presente no local. "Ele estava abraçando todo mundo, praticamente todo mundo de quem ele podia se aproximar", disse o delegado, em condição de anonimato.

Durante discursos públicos no resort à beira do mar Vermelho, a maioria dos líderes da UA falaram sobre os "desafios" no Zimbábue. Mas nenhum fez críticas a Mugabe, e se focaram em outras questões sobre a África. Uma proposta de resolução escrita pelos chanceleres da UA a ser aprovado pelos líderes no encontro de dois dias também não critica a votação ou Mugabe, mas pede diálogo.

No entanto, a secretária de Estado dos EUA para assuntos africanos, Jendayi Frazer, disse acreditar que, a portas fechadas, os líderes terão "palavras muito, muito duras para ele".

Cumplicidade

Importantes líderes africanos têm fortes laços com Mugabe há tempos, visto como um ativista contra o comando dos brancos e contra o colonialismo. Eles também são relutantes em se mostrar como apoiando o Ocidente --antigos dominadores coloniais-- contra um colega africano, e muitos também não podem dizer que comandam governos democráticos em seus países.

Mubarak está no comando do Egito há 27 anos --um a menos que Mugabe-- e é alvo de críticas internacionais por eleições fraudulentas. Outros líderes africanos estão há mais tempo ainda no poder, como Teodoro Obiang, no comando da Guinea Equatorial desde 1979 e Omar Bongo, líder do Gabão desde 1967.

Nem todos os países africanos ficaram em silêncio. Em Nairóbi, o primeiro-ministro do Quênia, Raila Odinga, exortou que o Zimbábue seja suspenso da UA. "Eles devem suspendê-lo e enviar tropas de paz ao Zimbábue para garantir eleições livres e justas."

O chanceler do Senegal, Cheikh Tidiane Gadio, se queixou da falta de críticas abertas a Mugabe. Ele afirmou que alguns africanos argumentam que o Ocidente "deve nos deixar em paz e nos deixar decidir nosso próprio destino". Mas, quando uma crise acontece, "não queremos falar sobre isso. Não faz sentido."

O bloco de críticos abertos na cúpula teve uma grande perda quando um de seus principais membros, o presidente da Zâmbia, Levy Mwanawasa, foi levado às pressas ao hospital de Sharm el Sheik no domingo. Ele sofreu um infarto, mas está em condição estável.

Com Reuters, France Presse e Efe

 

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