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15/10/2002
-
04h34
da Folha de S.Paulo
Atentado de nacionalistas, numa revanche contra a Austrália -principal competidor geopolítico regional-, ação de um grupo golpista do próprio Exército indonésio, ou realmente um atentado de extremistas islâmicos.
Pelo menos essas três hipóteses foram levantadas por analistas, quando questionados sobre a explosão em Bali. Mesmo concordando que uma ação de extremistas não pode ser descartada, os estudiosos afirmam ser muito cedo para fechar questão sobre o assunto e culpar a Al Qaeda, como fazem de bate-pronto os EUA.
"Atribuir [os atentados na Indonésia] à Al Qaeda, assim, de imediato, é apenas um modo de simplificar uma situação muito mais complicada. E, quase certamente, é um modo de mascarar conflitos internos importantes do país." Assim o especialista em Sudeste Asiático Wendell Wallerson avalia a "pressa" em culpar a rede terrorista de Osama bin Laden.
Ele afirma que o extremismo é um movimento minoritário no país, já que há uma cultura de tolerância secular moldada pela convivência de mais de 300 etnias.
Essa "tolerância", porém, não é tão absoluta como pode tentar fazer crer o analista. Nas ilhas Molucas, milhares já morreram nos choques entre cristãos e muçulmanos, desde 1999. A maioria das vítimas é de cristãos, que eram o principal grupo da área, mas foram suplantados devido à migração muçulmana de outras ilhas da Indonésia. Extremistas declararam "guerra santa" aos cristãos.
Em Kalimantan Oeste, há confronto de malaios e membros da tribo Dayak contra muçulmanos vindos da ilha de Madura.
A Província de Aceh (noroeste), de maioria muçulmana, chegou a ser uma "zona especial" durante a maior parte dos anos 90, quando o Exército combateu separatistas.
Essas diferenças foram duramente reprimidas pelo regime autoritário de Suharto (1966-98). Nesse período, o próprio Exército construiu uma posição privilegiada na sociedade. Hoje, ressente-se da perda de privilégios.
"Desestabilizar o país e provocar o medo do extremismo muçulmano seria um meio de tentar recuperar espaço no jogo político", concorda Wallerson.
Anne Booth, especialista em política indonésia da Escola de Estudos Orientais e Africanos de Londres, crê, porém, que a presidente Megawati é habilidosa o suficiente para controlar os militares.
Austrália
Outra possibilidade é o sentimento de revanche que muitos nacionalistas e militares nutrem pela Austrália, já que o vizinho deu apoio à independência de Timor Leste e deve levar o novo país para a sua área de influência.
Tropas da Austrália lideraram a força internacional de manutenção de paz que, em 1999, tomou controle de Timor Leste. Agora, Austrália e Timor Leste devem explorar ricas reservas de petróleo que, antes da independência, estavam sob o controle de Jacarta.
"Se alguém na Indonésia deseja retaliar contra a Austrália, os militares são mais suspeitos do que os radicais muçulmanos", afirma Richard Baker, do East-West Center, em Honolulu (EUA). "A única fonte na Indonésia para uma quantidade tão grande de explosivos é o Exército".
O local do atentado é conhecido por ser frequentado por turistas australianos. Uma provocação assim não passaria despercebida.
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Culpar Al Qaeda é simplificação, diz analista
RODRIGO UCHÔAda Folha de S.Paulo
Atentado de nacionalistas, numa revanche contra a Austrália -principal competidor geopolítico regional-, ação de um grupo golpista do próprio Exército indonésio, ou realmente um atentado de extremistas islâmicos.
Pelo menos essas três hipóteses foram levantadas por analistas, quando questionados sobre a explosão em Bali. Mesmo concordando que uma ação de extremistas não pode ser descartada, os estudiosos afirmam ser muito cedo para fechar questão sobre o assunto e culpar a Al Qaeda, como fazem de bate-pronto os EUA.
"Atribuir [os atentados na Indonésia] à Al Qaeda, assim, de imediato, é apenas um modo de simplificar uma situação muito mais complicada. E, quase certamente, é um modo de mascarar conflitos internos importantes do país." Assim o especialista em Sudeste Asiático Wendell Wallerson avalia a "pressa" em culpar a rede terrorista de Osama bin Laden.
Ele afirma que o extremismo é um movimento minoritário no país, já que há uma cultura de tolerância secular moldada pela convivência de mais de 300 etnias.
Essa "tolerância", porém, não é tão absoluta como pode tentar fazer crer o analista. Nas ilhas Molucas, milhares já morreram nos choques entre cristãos e muçulmanos, desde 1999. A maioria das vítimas é de cristãos, que eram o principal grupo da área, mas foram suplantados devido à migração muçulmana de outras ilhas da Indonésia. Extremistas declararam "guerra santa" aos cristãos.
Em Kalimantan Oeste, há confronto de malaios e membros da tribo Dayak contra muçulmanos vindos da ilha de Madura.
A Província de Aceh (noroeste), de maioria muçulmana, chegou a ser uma "zona especial" durante a maior parte dos anos 90, quando o Exército combateu separatistas.
Essas diferenças foram duramente reprimidas pelo regime autoritário de Suharto (1966-98). Nesse período, o próprio Exército construiu uma posição privilegiada na sociedade. Hoje, ressente-se da perda de privilégios.
"Desestabilizar o país e provocar o medo do extremismo muçulmano seria um meio de tentar recuperar espaço no jogo político", concorda Wallerson.
Anne Booth, especialista em política indonésia da Escola de Estudos Orientais e Africanos de Londres, crê, porém, que a presidente Megawati é habilidosa o suficiente para controlar os militares.
Austrália
Outra possibilidade é o sentimento de revanche que muitos nacionalistas e militares nutrem pela Austrália, já que o vizinho deu apoio à independência de Timor Leste e deve levar o novo país para a sua área de influência.
Tropas da Austrália lideraram a força internacional de manutenção de paz que, em 1999, tomou controle de Timor Leste. Agora, Austrália e Timor Leste devem explorar ricas reservas de petróleo que, antes da independência, estavam sob o controle de Jacarta.
"Se alguém na Indonésia deseja retaliar contra a Austrália, os militares são mais suspeitos do que os radicais muçulmanos", afirma Richard Baker, do East-West Center, em Honolulu (EUA). "A única fonte na Indonésia para uma quantidade tão grande de explosivos é o Exército".
O local do atentado é conhecido por ser frequentado por turistas australianos. Uma provocação assim não passaria despercebida.
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