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26/11/2008 - 11h55

Groenlândia comemora autonomia e sonha com independência

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da Folha Online

Depois de anunciada a vitória da proposta de ampliação da autonomia da Groenlândia, o sonho de independência em relação à Dinamarca é declarado pelos governantes e pela população de forma aberta. Segundo os resultados oficiais do referendo desta terça-feira, 75,54% dos votos foram para o "sim" à autonomia. Opuseram-se à proposta 23,57% dos eleitores.

"A Groenlândia recebeu um mandato para ir mais longe" no caminho da independência, disse na televisão, visivelmente emocionado, Hans Enoksen, chefe do governo local. Ele agradeceu "ao povo groenlandês por este belo resultado".

En Nuuk, a capital, onde vive um quarto da população, a emoção era grande, principalmente entre os mais velhos. Os fogos de artifício iluminaram o céu mesmo antes de anunciado o resultado.

"Já era tempo de recuperarmos nossos direitos e a liberdade roubada de nossos ancestrais, um povo de caçadores livres e orgulhosos, cujas terras foram colonizadas", disse David Brandt, um ex-marinheiro e pescador, resumindo as frustrações acumuladas por gerações de groenlandêses. A Dinamarca domina o país há quase três séculos.

O texto aprovado reconhece os habitantes como povo com direito à autodeterminação, o idioma esquimó como único oficial e estende a autonomia do governo a 30 áreas, entre elas a polícia, os tribunais e o controle das fronteiras.

Seis áreas seguem sobre controle dinamarquês: Constituição, nacionalidade, Tribunal Supremo, defesa e segurança, política monetária e de divisas e política exterior, mas as autoridades groenlandesas devem ser levadas em conta nessas questões.

O índice de participação foi de 71,96%, muito superior aos 63,2% do referendo de 1979 sobre a autonomia interna. Cerca de 39 mil eleitores de 80 cidades e aldeias tinham direito de votar. A ilha, que tem quase nove vezes a área do Estado de São Paulo, é escassamente povoada. Com 81% do território coberto pelo gelo, tem aproximadamente 57 mil habitantes, com 50 mil groenlandeses e perto de 7.000 dinamarqueses.

Arte/Folha Online

"Sim, poderemos"

Na Dinamarca, o primeiro-ministro, Anders Fogh Rasmussen, também saudou o resultado do referendo.

"A proposta de uma autonomia ampliada para a Groenlândia conta com um apoio político massivo tanto na Groenlândia quanto na Dinamarca. Celebro que a proposta tenha recebido também um amplo respaldo do povo da Groenlândia, como demonstrou a participação massiva na votação", afirmou o chefe de governo dinamarquês em um comunicado.

O tratado aprovado pelo referendo precisa ser aprovado pelo Parlamento dinamarquês para entrar em vigor, mas há um acordo para que o resultado desta terça-feira seja respeitado.

Na opinião do ex-chefe de governo groenlandês, Lars-Emil Johansen, um dos fundadores do regime de semi-autonomia, em 1979, "foi o desejo de recuperar seu orgulho, de levantar a cabeça depois de tantas injustiças no passado, o que fez com que os esquimós votassem em massa".

"Sim, é claro que podemos ir adiante. Sim, poderemos", afirmou, sonhando com a independência "em um futuro não muito distante", como já havia indicado o atual chefe de governo.

A Groenlândia foi descoberta por vikings islandeses no século dez e começou a ser colonizada pelos dinamarqueses no século 18. Em 1953 passou a ser parte integrante da Dinamarca e com ela entrou para a União Européia (UE) em 1973. Uma disputa sobre cotas de pesca levaram o território a deixar a EU em 1985. O governo local semi-autônomo foi autorizado em 1979 pelo parlamento dinamarquês.

Matérias-primas

A posição da Groenlândia, entre a América do Norte e a Europa, é considerada estratégica, e os Estados Unidos mantém uma base de radares em Thule, no noroeste do território, mas mudanças recentes ajudaram a impulsionar as forças que buscam mudanças na ilha.

Os países que rodeiam o círculo polar ártico, Canadá, Dinamarca, Noruega, Rússia e Estados Unidos, lançaram-se recentemente em uma corrida pela posse da região, considerada rica em minerais e petróleo. O alto preço que as matérias-primas alcançaram antes da crise financeira acelerou a disputa, e o aquecimento global abre a perspectiva de que a exploração da área torne-se menos difícil. A Groenlândia, que vive basicamente da pesca, não quis ficar de fora.

Pelo texto do projeto aprovado nesta terça-feira, a ilha terá o controle de seus recursos minerais, como petróleo, gás, ouro, diamantes, urânio, zinco e chumbo, mas terá de abrir mão progressivamente dos repasses anuais de 3,2 bilhões de coroas dinamarquesas --equivalentes a R$ 1,3 bilhão-- enviados pela Dinamarca.

A redução corresponderá à metade do que o país conseguir arrecadar acima de 75 milhões de coroas dinamarquesas --R$ 30 milhões-- com as possíveis riquezas no subsolo. Os recursos devem servir para o governo em Nuuk custear as novas responsabilidades que o referendo passou à administração local.

Com France Presse, Efe e Associated Press

 

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