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Venezuela vota fim do limite à reeleição após campanha violenta
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FABIANO MAISONNAVE
da Folha de S. Paulo, em Caracas
Depois de uma campanha marcada por episódios violentos e pelo uso intenso da máquina estatal, a Venezuela deve lotar os centros de votação hoje para decidir, pela segunda vez, se o presidente Hugo Chávez poderá concorrer de novo ao cargo que ocupa há dez anos.
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A aprovação da emenda constitucional proposta por Chávez aparece na frente na maioria das pesquisas. De acordo com o mais recente levantamento do instituto Datanálisis, realizado na segunda-feira, o 'sim' leva uma vantagem de seis pontos percentuais. Essa diferença se amplia a dez pontos percentuais entre os eleitores que declararam que irão às urnas -o voto é facultativo.
Na avaliação do Datanálisis, a projeção não é irreversível porque 16% dos entrevistados se disseram indecisos. A pesquisa ouviu 1.600 eleitores com margem de erro de 2,73 pontos percentuais para mais ou menos.
Esta é a segunda vez que Chávez tenta mudar a Constituição escrita por uma Assembleia de maioria governista, em 1999, que só permite uma reeleição presidencial. Em dezembro de 2007, uma reforma da Carta que incluía a reeleição indefinida foi derrotada por margem estreita de 50,7%.
Caso Chávez perca hoje, tampouco deve ser o último referendo. Ao longo da campanha, o presidente chegou a dizer que poderia propor uma consulta sobre a reeleição por ano até o fim de seu mandato, no ainda distante janeiro de 2013.
"Essa emendinha é só um lance a mais no tabuleiro. Se [Chávez] ganhar ou perder no referendo, podem ocorrer muitas coisas nos três anos que faltam até dezembro de 2012. Aqui vivemos cada dia -não só pela crise fiscal sobre nós como também pela incerteza institucional", escreveu a historiadora ex-chavista Margarita López Maya, da Universidade Central da Venezuela (UCV).
Para evitar uma nova derrota, Chávez intensificou, segundo analistas, o uso da máquina governamental, mobilizando funcionários públicos e convertendo a mídia estatal em espaço para promover a emenda.
"Nesta campanha, se deu um passo fundamental para fazer do Estado parte da estrutura do partido oficial. Antes, havia uma campanha de vantagem, mas desta vez vimos o Estado voltado totalmente a ser parte da estrutura eleitoral. O presidente da República é o presidente do partido, os ministros são altos dirigentes do partido, os funcionários públicos são compelidos a votar pela votação oficialista, e os recursos públicos são empregados na campanha", disse à Folha o padre jesuíta Francisco José Virtuoso, diretor da ONG Olho Eleitoral, financiada pela União Europeia e pelo Canadá.
Ataques
Para Luis Vicente León, diretor do Datanálisis, além da intensificação do uso da máquina, a recém-terminada campanha também se diferenciou pelo uso da violência contra "inimigos" do chavismo. Nas últimas semanas, foram atacados com bombas de gás lacrimogêneo dirigentes da oposição, como ex-ministro da Defesa Raul Isaías Baduel, concentrações estudantis, sedes de partido e até a Nunciatura Apostólica (representação do Vaticano).
A onda de ataques teve início após Chávez ordenar à polícia jogar "gás do bom" contra protestos estudantis não autorizados. Os atentados só pararam na última semana, depois de o próprio presidente criticar o Coletivo La Piedrita, grupo paramilitar pró-governo que assumiu vários dos ataques.
"A violência foi incorporada como uma variável de manipulação política. A chantagem que Chávez já usava, de que sem ele haverá guerra e caos, agora está acompanhada de um mostruário violento. A mensagem é clara: o único que monopoliza a violência é o único que pode dar a paz. É um elemento politicamente potente", disse León.
No poder desde 1999, Chávez, já é o presidente há mais tempo no cargo na América Latina. Durante a campanha, disse que pretende governar até 2049, quando terá 84 anos.
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