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Ronald Biggs, "ladrão do século" que virou celebridade no Brasil
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da France Presse, em Londres
Ronald Biggs ficou conhecido como "ladrão do século" graças ao audacioso roubo ao trem pagador no Reino Unido, mas ganhou fama pelos mais de 30 anos que passou como fugitivo --a maioria vivendo como celebridade no Brasil, enquanto brincava de gato e rato com as autoridades britânicas.
O primeiro capítulo da novela Biggs, nascido em Londres, em 8 de agosto de 1929, começou a ser escrito na madrugada de seu aniversário, em 1963. Com outros 14 cúmplices protagonizou o assalto ao trem pagador que ia de Glasgow (Escócia) a Londres (Inglaterra).
AP/Reuters |
Ronald Biggs aparece em três momentos de sua vida; ele foi libertado nesta quinta-feira por ter problemas de saúde |
Os assaltantes se apoderaram de 120 sacos de dinheiro em notas pequenas e usadas e dividiram entre si a então espetacular quantia de 2,6 milhões de libras (equivalente a cerca de US$ 124 milhões).
Detido um mês mais tarde e condenado a passar 30 anos atrás das grades, Biggs fugiu da prisão 15 meses depois ao corromper um guarda.
Após uma primeira etapa na França, onde se submeteu a uma cirurgia plástica, passou uma temporada na Espanha e outra na Austrália, antes de chegar ao Brasil, na década de 70, passando pelo Panamá, Argentina e Bolívia.
Como o Brasil não tinha tratado de extradição com o Reino Unido, Biggs se instalou em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, onde viveu com o que restava do dinheiro roubado e graças ao que ganhou com sua notoriedade.
A julgar por sua autobiografia, "The Odd Man Out", publicada em 1994, passou momentos de verdadeira celebridade, cercado de mulheres e luxo. Virou praticamente uma atração turística.
Mas também teve seus sobressaltos. Quatro anos depois de sua chegada ao Rio, em 1974, um jornalista de um tabloide inglês, o "Daily Mail", achou seu rastro e uma caçada foi iniciada.
Na época, o advogado apelou para o fato de sua namorada, uma dançarina chamada Raimunda com quem casaria anos depois em uma prisão britânica, em 2002, estava grávida de seu terceiro filho, Michael.
Em 1981, Biggs chegou a ser sequestrado por um grupo de mercenários e foi levado a Barbados, em uma tentativa das forças britânicas de "fugir" da falta de acordo de extradição com Biggs. Seus advogados conseguiram que a Justiça da ilha caribenha o devolvesse ao Brasil, o que envolveu um apelo emocionado de seu filho, então uma criança, à televisão brasileira.
Quando os britânicos voltaram ao ataque em 1997, depois da assinatura de um tratado entre ambos países, a Suprema Corte brasileira decidiu então que o caso estava prescrito.
Durante seus anos no Rio, Biggs foi muito ativo: viveu confortável no boêmio bairro de Santa Teresa e abriu um restaurante e um site no qual vendia fotos, camisetas e outros recordações.
Também escreveu sua autobiografia e um romance, participou em anúncios publicitários --um deles de roupa íntima feminina no qual aparecia envolto na bandeira britânica e cercado de belas jovens-- e até cantou com os Sex Pistols o tema "Ninguém é inocente".
Doente e falido, em 2001, solicitou oficialmente para voltar para o Reino Unido para terminar de pagar sua pena. Ele declarou ao jornal "The Sun" --que financiou sua volta ao país natal-- que queria tomar uma cerveja em Margate, uma conhecida localidade litorânea do sul da Inglaterra, antes de morrer.
Preso, o estado de saúde de Biggs piorou. Ele, que já andava e falava com dificuldade por conta de dois derrames, sofreu uma infecção pulmonar, uma fratura nos quadris e, mais recentemente, uma pneumonia.
Nesta quinta-feira, o ministro da Justiça do Reino Unido, Jack Straw, afirmou que a liberdade havia sido concedida a ele por compaixão, já que "a evidência médica mostra claramente que Biggs está muito doente e que a condição dele se deteriorou recentemente, culminando em uma nova internação. Não espera-se que sua condição melhore".
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