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Mídia argentina liga exoneração à disputa do governo com "Clarín"
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SILVANA ARANTES
da Folha de S. Paulo, em Buenos Aires (Argentina)
A imprensa argentina vinculou a renúncia do presidente da Comissão Nacional de Valores (CNV) argentina, Eduardo Hecker, anunciada anteontem, a uma suposta tentativa do governo Cristina Kirchner de tentar lesar o Grupo Clarín, maior conglomerado de mídia do país.
Hecker teria entregado o cargo por se recusar a promover sanções contra a fábrica de papel-jornal Papel Prensa, da qual o Clarín é o principal acionista (49% das ações), tendo como sócios o grupo La Nación (22,5%) e o Estado (27,5%).
Oficialmente, o demissionário alegou "questões estritamente pessoais" para sua saída. O ministro da Economia, Amado Boudou, disse ontem que removeu Hecker, para "revitalizar" a CNV. Boudou confirmou que suspeita de irregularidades na gestão da Papel Prensa.
Cumprindo exigência de seu cargo, Hecker tornou pública, no mês passado, uma denúncia de intimidação contra o secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, feita por um membro do conselho administrativo da Papel Prensa.
O conselheiro disse ter ouvido de Moreno ameaça de que o governo fomentaria reivindicações sindicais contra a Papel Prensa, entre outras ações que desvalorizassem as ações da empresa, para "expropriá-la".
O assédio à Papel Prensa é mais um capítulo numa recente escalada do governo contra o Grupo Clarín.
Nesta quinta-feira, Cristina fez um enfático discurso, em que acusou o "Clarín" de mentir, distorcer fatos e praticar irregularidades trabalhistas.
"São demasiadas as mentiras com que tentam confundir a sociedade. Sabemos que são mentiras e que esse jornal não se interessa pelos trabalhadores", disse. Cristina pediu a suspensão da marcha em apoio ao seu governo prevista pela CGT (Confederação Geral do Trabalho) para sexta que vem.
Disse que usariam o ato para "disfarçar e distorcer o apoio a um governo que devolveu aos trabalhadores sua dignidade".
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