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25/11/2009 - 07h50

Torturador do Khmer Vermelho diz estar arrependido pela morte de mais de 12 mil

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da Efe, em Phnom Penh
da Folha Online

O chefe torturador do Khmer Vermelho, Kaing Gueg Eav, defendeu nesta quarta-feira a sinceridade de seu "mais profundo arrependimento" pela morte de 12.273 pessoas e de seu pedido de perdão às vítimas. Eav aposta no argumento do arrependimento para reduzir a pena de 40 anos que a Promotoria pede pelas acusações de crimes contra a humanidade e genocídio durante o regime no Camboja.

"Sou responsável e sempre serei da morte das 12.273 pessoas", admitiu. "Meu arrependimento mostra a plena e sincera colaboração que mantenho com esta corte há 10 anos", ressaltou Eav, mais conhecido como Duch, ao apresentar os argumentos finais da defesa.

Duch dirigiu o centro de torturas S-21 pelo qual passaram mais de 15 mil cambojanos antes de serem executados no mesmo local ou em campos de extermínio em Choeung Ek, nos arredores da capital.

Tal como fez em várias ocasiões desde o início do julgamento em fevereiro, Duch voltou a pedir perdão às "almas das vítimas" e pediu a seus familiares que "abram as portas do perdão". "Propus que voltem a me ver como parte da humanidade", concluiu.

O ex-oficial maoísta dedicou a maior parte de sua intervenção para atribuir seus atos ao medo perante seus superiores e à obrigação que tinha de cumprir ordens. Para isso, Duch falou nos expurgos internos nos anos prévios à tomada do poder por parte do Khmer Vermelho nos quais, segundo disse, "a política do partido era matar aos inimigos".

O torturador disse ao tribunal que o uso da tortura era inevitável porque essa era a política decidida pelo partido e que as execuções eram aprovadas pelos comandantes do partido, grupo do qual ele se excluiu.

Os advogados das vítimas do Khmer Vermelho acusaram-no nesta segunda-feira (23) de falsificar a história e mentir ao tribunal, ao minimizar seu papel na tortura e execução destas pessoas entre 1975 e 1979.

Segundo a promotora cambojana Chea Leang, Duch não se arrependeu verdadeiramente já que "ainda não admite ter feito tudo por vontade própria e insiste em assegurar que foi porque cumpria ordens ou porque atuava sob a ameaça de seus superiores".

"A ideia de que [o réu] é só um bode expiatório deve ser rejeitada", explicou Chea aos juízes nesta terça-feira, e acrescentou que "não há dúvida de que era um idealista, um revolucionário preparado para sacrificar tudo o que fosse necessário pela organização maoísta que aterrorizou o Camboja".

Embora a promotoria tenha pedido 40 anos de prisão, a legislação local prevê como sentença máxima a prisão perpétua.

Julgamento

Os argumentos finais devem ser encerrados nesta sexta-feira e uma sentença é esperada para o começo do próximo ano.

Das cinco autoridades do regime Khmer Vermelho detidas atualmente, Duch é o primeiro a ser julgado e o único que colaborou com a justiça durante o processo.

O tribunal apresentou provas irrefutáveis da responsabilidade de Duch, zeloso servidor do projeto de sociedade delirante do regime de Pol Pot, que matou 2 milhões de pessoas, ou seja, quase 25% da população do Camboja.

Integrado por juízes cambojanos e estrangeiros, o tribunal internacional foi formado em 2006 para fazer justiça aos quase dois milhões de pessoas que morreram durante o terror do Khmer Vermelho e encerrar assim uma das páginas mais terríveis da história do Camboja.

Duch é o funcionário de mais baixa categoria que está sendo julgado. Ainda devem passar pelo tribunal Khieu Samphan, ex-chefe de Estado; Nuon Chea, ideólogo do Khmer Vermelho; Ieng Sary, ex-ministro de Assuntos Exteriores, e sua esposa, Ieng Thirit, ex-titular de Assuntos Sociais.

Pol Pot, o outrora primeiro-ministro da República Democrática de Kampuchea, faleceu na selva cambojana em 1998.

 

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