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04/12/2009 - 09h27

Indígena, esquerdista e cocalero, Morales tenta "refundar" Bolívia

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IAGO BOLÍVAR
da Folha Online

Primeiro presidente de esquerda da Bolívia, Evo Morales enfrentou pressões econômicas e sociais para resistir, durante seu mandato, à histórica instabilidade que fez o país ter um governo diferente a cada dois anos e meio desde que alcançou a independência, em 1825.

Depois de uma queda de braço com a oposição, concentrada nos bastiões dos governos dos Departamentos e no Senado, Morales saiu fortalecido de um referendo revogatório em 2008 ao qual alguns de seus oponentes sucumbiram.

Ele também conseguiu, por meio de referendo, abrir caminho para uma nova Constituição, que reforçou a identidade indígena do país, aumentou o poder do Estado e lhe deu a chance disputar a reeleição.

Cézaro De Luca/Efe
O presidente Evo Morales;
O presidente Evo Morales, favorito nas eleições de domingo na Bolívia

Como uma forma de diminuir as resistências, Morales afirmou que esta será a única vez que concorrerá novamente ao cargo, embora haja a interpretação de que poderia disputar novamente a Presidência em 2014, se reeleito.

Sua determinação de "refundar" o país e enfrentar adversários, a amizade e aliança com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, seu apelo midiático e o controle sobre os sindicatos da Bolívia têm despertado tanto entusiasmo como rejeição intensa.

Um exemplo disso é, por um lado o apoio popular à sua política de nacionalização da economia e a distribuição de "bônus" para crianças, mulheres e pessoas com mais de 60 anos e, por outro, seus ataques ao Judiciário, que deixaram este poder quase inoperante.

Nesta semana, ele prometeu uma reforma da Justiça que, segundo ele, permitirá a prisão dos candidatos a presidente e vice da principal chapa de oposição nas eleições --o candidato a vice já está preso e conseguiu autorização judicial para concorrer.

Suas relações externas também despertam polêmicas. Morales é um dos membros entusiásticos da Alba (Aliança Bolivariana das Américas), a união de nações de governos esquerdistas liderada por Chávez, e defende um caminho para o "socialismo".

Crítico duro do capitalismo e do "imperialismo dos Estados Unidos", Morales expandiu o controle do Estado sobre a economia, nacionalizou campos de gás que estavam concedidos a empresas estrangeiras e levou a participação estatal a pular 13% para 27% em seu governo, e o orçamento, que foi de US$ 8 bilhões em 2005 chegou a US$ 19 bilhões neste ano, segundo dados do vice-presidente, Álvaro Garcia Linera.

Biografia

Apresentando-se como o primeiro presidente indígena do país em que a maioria da população descende dos povos originários, Morales faz questão de reforçar sua identidade aymará. Ele nasceu em uma pequena construção de barro e palha no planalto andino em uma pequena comunidade no departamento de Oruro, mais de 400 quilômetros ao sul de La Paz. Seus pais eram agricultores.

Morales teve seis irmãos, mas só ele e outros dois, Hugo e Esther, sobreviveram. Na infância, ele foi pastor de lhamas e cultivou a terra estéril dos Andes, mais de 3.000 metros acima do nível do mar, onde o produto por excelência é a batata.

Os professores da pequena escola rural de sua aldeia natal dizem se lembrar dele como 'um bom aluno', mas Morales não terminou o segundo grau. Durante seu governo, ele recebeu doutoramento 'honoris causa' em universidades na Bolívia, Argentina, Equador, Rússia, Venezuela, Panamá e República Dominicana.

Aos 16 anos, foi com sua família para a cidade de Oruro, onde ingressou no serviço militar. Foi na banda militar que ele aprendeu a tocar trombeta, uma de suas habilidades mais conhecidas junto à fama de ter um bom domínio da bola no futebol.

Coca

Reuters
Evo Morales
Morales é um dos principais defensores do cultivo da coca

Na década de 80, ele emigrou em busca de oportunidades na região tropical de Chapare, em Cochabamba, onde entrou para o sindicalismo dos cocaleiros.

A defesa do cultivo da folha de coca --que na Bolívia é usada em rituais e como alimento e remédio desde tempos ancestrais, embora o excedente seja destinado ao narcotráfico-- o elevou ao topo dos movimentos camponeses cocaleiros e deu início ao choque com a posição do governo, apoiada pelos Estados Unidos, de erradicação do cultivo.

A trajetória sindical de Morales, solteiro e pai de dois filhos de diferentes mães, foi seu trampolim para a política. Em 1995, ele fundou o Instrumento Político para a Soberania dos Povos, que participou das eleições com o nome de Movimento Ao Socialismo (MAS), seu partido até hoje.

Evo Morales chegou ao Congresso com o partido, mas não abandonou a direção sindical, o que lhe valeu duras críticas.

Presidência

Em 2002, quando foi candidato à Presidência pela primeira vez, essa dualidade representou para Morales a expulsão do Congresso devido a uma suposta transgressão da ética parlamentar.

Sua saída do Legislativo coincidiu com a Presidência de Jorge Quiroga, seu principal adversário nas eleições do próximo dia 18.

Mas a punição acabou tendo efeitos positivos, já que nas eleições gerais de 2002 ele conseguiu um surpreendente segundo lugar, atrás de Gonzalo Sánchez de Lozada, graças a um discurso com um forte sotaque do campo andino.

Analistas concordam que as declarações que o então embaixador dos Estados Unidos em La Paz, Manuel Rocha, fez contra Morales poucos dias antes do pleito contribuíram para sua ascensão repentina.

Foi o primeiro choque público entre Washington e o socialista aymará, que nunca escondeu sua fascinação pelo revolucionário Ernesto Che Guevara, assassinado na Bolívia pelos militares em 1967.

Favorito

Como líder da oposição e promotor de protestos, Morales teve um papel de destaque na queda do ex-presidente Sánchez de Lozada, em outubro de 2003, e de seu sucessor, Carlos Mesa, em junho de 2005, que levou à convocação das eleições antecipadas em que foi eleito pela primeira vez.

Após assumir a Presidência, ele se manteve à frente do movimento dos cocaleros, apesar das críticas renovadas, e defendeu internacionalmente o fim da criminalização do uso tradicional da folha no país.

Com mais de 50% das intenções de voto, Morales diz que pretende conseguir mais de 70% dos votos no domingo. Seu partido também almeja conquistar uma maioria de dois terços no Senado, o que tiraria da oposição um dos poucos instrumentos de bloqueio das reformas continuadas rumo à nova Bolívia que Morales defende, o que deve incluir uma ampliação da reforma agrária e a expansão ainda maior do controle estatal sobre a economia.

Comentários dos leitores
Evo Morales, guia espiritual indígena, só faltava essa. Essas republiquetas, nem sei se é isso, não tomam jeito mesmo. Até quando vamos conviver com essa idiotice angular, petrificada na cabeça dessa gente que resiste, intransigetemente, a sair da idade da pedra. A população da Bolívia, na sua maioria de indígenas não poderia ter melhor escolha, e logo, logo, esse indiozinho presidente, será aclamado o Montesuma da Bolívia. Durma com um barulho desse, ou se prepare pra uma longa insônia. Um povo quando é obstinado por natureza, não tem bronca, desenvolve mesmo. Olha, como pode um país cercado por ignorância por todos os lados e não se contaminar, só podia ser o Chile. Grande Chile, orgulho da América Latina e de todos nós, seus admiradores. Lá eles tem presidente, um funcionário do povo. Aqui é o paisão Lula, o papai noel Lula, na Bolívia, além de paisão, mais uma graduação: Guru, guia espiritual e outros adjetivos esdrúxulos. Tenha paciência! sem opinião
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Claudinei Garcia (11) 22/01/2010 16h32
Claudinei Garcia (11) 22/01/2010 16h32
Conforme escreveu a missiva Ana Chiummo, há algo de positivo em tudo isso. A oposição tem resistido à uma escalada sem precedentes de populistas que querem trilhar caminhos e modos de produção já há muito abandonados pelo mundo todo, com excessão da caquética Cuba. Enquanto a China Comunista aprova leis de proteção à propriedade privada, nós aqui no Brasil (leia-se o PNDH-3) buscamos aboli-la por baixo do pano. E o ilustre "bolivariano" começa a colher os primeiros frutos podres do seu governo! Sendo assim, como o PT nunca ganha o governo do estado de São Paulo (A única excessão é a prefeitura), tavez seja porque a maioria dos paulistanos prefere outros caminhos. E porque será? sem opinião
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Valentin Makovski (514) 17/12/2009 17h29
Valentin Makovski (514) 17/12/2009 17h29
Sr. Francisco Lemos
Mal informado o sr. está.
O Gás GLP é uma coisa, derivado do petróleo, utilizado em Botilhões de Gás. E na maioria das residencias do Brasil. Este sim teve aumento absurdo.
O Gás GN que vem da bolívia através tubulação, e que é utilizado por Residencias, Industrias, Comercios, não tem aumento desde 16/07/2006.
O GNV, utilizado em carros, sua última Tabela de preços é de 01/07/2009.
Ou seja, criticar somente por criticar o Evo Morales, é uma coisa, mas antes por favor saiba a diferença entre:
GLP & GN
Outra coisa, se diz muito da Bolívia, mas tivemos eleições lá de forma diréta e democrática, se o povo quis novamente o Evo Morales, aqui no Brasil se tem que respeitar e se for criticar saber criticar.
Nós não somos donos da razão temos direitos & deveres, temos que saber quando um extrapola o outro. Cuida Brasil, cada macâco no seu galho, blza?.
12 opiniões
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