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07/12/2003 - 09h06

Ex-repúblicas da URSS ainda dependem da Rússia

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MÁRCIO SENNE DE MORAES
da Folha de S.Paulo

Mais de dez anos após o colapso da URSS, a Rússia continua sendo economicamente vital para as outras 14 ex-repúblicas soviéticas, embora os três Estados bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia) já tenham conseguido atravessar boa parte de sua transição econômica.

A principal causa disso ainda é a forte interligação econômica que existia na URSS, embora o rublo (moeda russa) tenha perdido seu poder de atração nos últimos anos, mantendo-se realmente influente somente em Belarus, na Armênia e no Tadjiquistão.

"Como as repúblicas faziam parte de um sistema econômico altamente integrado e centralizado, ainda há uma enorme interdependência entre os países surgidos após o desmoronamento da URSS e, sobretudo, uma predominância da Rússia", explicou à Folha Fiona Hill, pesquisadora do Instituto Brookings (EUA).

"Os outros países dependem, em maior ou menor escala, da Rússia no que se refere ao fornecimento de combustível, especialmente de gás natural, e eletricidade. Ademais, a Rússia é o maior mercado consumidor da região, e muitas das repúblicas não têm acesso a outros mercados por conta de sua posição geográfica", acrescentou a autora de "Russia: The 21st Century's Energy Superpower?" (Rússia: a superpotência energética do século 21?).

Por outro lado, como lembrou o cientista político armênio Asbed Kotchikian, inúmeros habitantes das repúblicas do Cáucaso e da Ásia Central --como a Geórgia, a Armênia, o Quirguistão e o Tadjiquistão-- deixaram seus países para trabalhar na Rússia.

"Permanente ou temporário, um emprego na Rússia significa que o trabalhador pode enviar dinheiro a seus familiares. Assim, essas transferências constituem parte significativa da renda de outras repúblicas, o que, logicamente, aumenta sua dependência da Rússia", analisou Kotchikian.

Sem dúvida, a questão econômica mais importante na região é a energética. "O gás natural russo garante a geração de energia e a calefação doméstica, algo crucial em locais de clima inóspito, na maior parte da ex-URSS. Além disso, Estados exportadores de gás natural, como o Azerbaijão, o Cazaquistão e o Turcomenistão, dependem dos gasodutos russos para transportar seu produto para a Europa e para outros pontos da região", afirmou Hill.

O modo de agir dos russos não facilita as coisas para as outras ex-repúblicas soviéticas. Na década passada, Moscou chegou a cortar suas exportações de gás natural para a Ucrânia e para a Geórgia, por exemplo, para exercer pressão política. Também impediu que o Turcomenistão utilizasse seus gasodutos, provocando sérios danos econômicos no país.

"Contudo a Rússia adotou, recentemente, uma estratégia mais sofisticada, comprando sistemas privatizados de geração de energia e de distribuição de gás e de eletricidade nas ex-repúblicas soviéticas e reintegrando-os às redes russas. Isso já ocorreu na Armênia e na Geórgia e ocorrerá na Moldova e no Quirguistão ao longo de 2004", avaliou Hill.

A Rússia é hoje a maior produtora de gás natural e de petróleo do mundo, já que a Arábia Saudita, que possui reservas petrolíferas maiores que as da Rússia, não produz até o limite de sua capacidade. A questão é tão relevante para os russos que seu embaixador na Ucrânia, segunda maior economia da região, é o ex-premiê Viktor Tchernomyrdin, que dirigiu a estatal de gás Gazprom.

Há vultosos investimentos russos na Ucrânia, sobretudo na indústria pesada e no setor de manufaturados. Soma-se a isso o fato de inúmeros gasodutos e oleodutos usados pelos russos passarem pelo território ucraniano.

Portanto, com exceção dos Estados bálticos --cujos laços históricos com a Europa permitiram a aceleração da transição econômica, embora a corrupção ainda seja um grave problema--, as ex-repúblicas soviéticas ainda pagam o preço dos 70 anos de isolamento dos mercados globais.
E, apesar de todos os seus esforços (muitas vezes, patrocinados pelo FMI), a diversificação de sua produção e o desenvolvimento das capacidades de sua mão-de-obra e de sua infra-estrutura ainda são objetivos distantes.

Afinal, como a extinta URSS privilegiava a interligação econômica entre suas repúblicas (ferramentas industriais eram fabricadas na Armênia, algodão era plantado no Uzbequistão, carne ovina era produzida no Quirguistão etc.), o ponto de partida das economias nacionais depois do colapso do império soviético freou seu rápido desenvolvimento nos anos subsequentes e serviu para manter os outros Estados dependentes da Rússia.

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