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29/12/2009 - 07h26

Ataque no Suriname não repele brasileiros

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JOÃO CARLOS MAGALHÃES
enviado especial da Folha de S.Paulo ao Suriname

Parte dos brasileiros que foram alvo de um ataque de descendentes de quilombolas no Suriname na véspera do Natal quer agora se estabelecer na Guiana Francesa --legal ou ilegalmente. Para muitos deles, a perspectiva de continuar garimpando na região é melhor do que a de voltar para o Brasil, ao menos imediatamente.

Dos mais de 20 brasileiros com quem a Folha conversou ontem, em visita aos dois hotéis onde foram instalados na capital do país, Paramaribo, nenhum se disse intimidado pela violência sofrida na cidade de Albina, que deixou dezenas de feridos a golpes de facão, pauladas, punhaladas e socos.

"No Brasil só querem saber de quem tem instrução", disse Maria Raimunda Silva, 54, que escapou do conflito com os maroons, ou "morenos", como são chamados pelos brasileiros os descendentes de quilombolas, após se jogar no rio Marowijne, ou Maroni, onde passou cinco horas "só com o nariz de fora".

O maranhense Antonio Alves, que garimpa na área há seis anos, dizia querer ir para a Guiana Francesa por "pelo menos seis meses". Antes de deixar o país, trabalhava na lavoura de soja em Mato Grosso. "Aqui tiro até R$ 2.000 [por mês]. Lá, não era nem metade."

No voo que a reportagem tomou de Belém (PA) a Paramaribo havia seis brasileiros --cinco do Maranhão e um do Pará-- que iriam justamente garimpar na região do ataque, a porosa fronteira entre Suriname e Guiana Francesa. "Não tenho medo. Afinal, isso não vai virar guerra", disse José da Silva Oliveira, 32.

Em Paramaribo, vítimas do ataque foram alocadas em hotéis precários pelo governo surinamês e pela embaixada brasileira. Um deles, o Esmeralda, lembra uma prisão pela quantidade de grades que separam quartos e corredores. Neles, estão aproximadamente 35 pessoas. No total, cerca de cem foram trazidas de Albina.

Política interna

O ataque se refletiu na política local. Um caminhão de mantimentos chegou ao Esmeralda com Winston Lackin, do partido de oposição NDP (Partido Nacional Democrata), que tentará retornar ao poder nas eleições de maio de 2010. A sigla é a mesma de Desi Bouterse, ex-líder da ditadura militar que vigorou de 1980 a 1987. Ele é acusado de ter promovido dois massacres --um deles, em 1986, contra descendentes de quilombolas.

Em outro hotel, o Comfort, estão cerca de 50 pessoas vindas de Albina, entre elas ao menos seis homens feridos. Havia dois policiais de guarda.

Um dos feridos mais graves é Valcenir Gomes, 40, que mal se movia na cama por causa de um corte profundo de punhal na perna. "Sinto muita dor e não estou conseguindo andar." Gomes relatou que dormia quando a confusão começou. "Foram entrando, roubando e me furando", disse à Folha. Os brasileiros instalados nos hotéis se disseram "indignados" com a versão segundo a qual ninguém morreu no conflito, dada pela embaixada.

Um deles disse ter visto um homem ser esfaqueado e pisoteado. Ninguém testemunhou nada parecido. Todos afirmam que a polícia é complacente com os maroons e que corpos podem ter sido escondidos.

 

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