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Exército francês expôs soldados a testes nucleares nos anos 60, diz relatório
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MICHEL MOUTOT
da France Presse, em Paris (França)
O Exército francês expôs deliberadamente seus soldados a radiações durante uma série de ensaios nucleares atmosféricos realizados na década de 1960 na Argélia, segundo um informe militar citado nesta terça-feira pela agência de notícias France Presse.
Segundo o "Informe sobre os testes nucleares franceses de 1960-1965", o Exército colocava militares perto do ponto de explosão das bombas para "estudar os efeitos psicológicos produzidos pela arma atômica no homem".
O documento foi arquivado como secreto, mas a agência alega ter obtido uma cópia.
O ministro de Defesa francês, Hervé Morin, afirmou à agência que o governo informará "com total transparência" sobre o nível de exposição à radiação depois de cada ensaio.
O informe, elaborado por oficiais franceses em 1998, dois anos depois que a França deixou de realizar provas nucleares, faz referência especial ao último teste realizado no Saara argelino, no dia 25 de abril de 1961, quando a Argélia ainda era colônia francesa.
Pouco depois do lançamento da bomba, a França fez manobras para enviar cerca de 30 soldados à área contaminada. Alguns se protegeram em trincheiras individuais, cavadas a 800 metros do lugar de impacto, enquanto outros se aproximavam desse ponto em veículos 4x4 com botas, luvas e máscaras de combate.
O objetivo era "estudar os efeitos fisiológicos e psicológicos produzidos sobre o homem pela arma atômica, de modo a se obter elementos necessários para a preparação física e a formação moral do combatente moderno", diz o documento.
As manobras deveriam permitir, ainda, "realizar um programa de instrução sobre as medidas práticas a serem tomadas pelos combatentes para pôr-se em guarda, proteger-se e descontaminar-se", diz o texto.
Depois da explosão, os resultados constatados assinalaram "a ausência de queimaduras visíveis, efeitos mecânicos praticamente nulos, um nível de radioatividade elevado".
"Parecia, segundo estes resultados, que a 800 metros do ponto zero e além da zona de queda do pó radiativo, os combatentes estariam fisicamente aptos para continuar em combate", acrescenta o documento.
O texto pondera, no entanto, que "estando na ofensiva, se a infantaria fosse chamada a combater numa zona contaminada (...) a vestimenta especial não proporcionaria senão uma proteção relativa".
O ministro Morin ressaltou que foi aprovada no ano passado uma lei de indenização das vítimas desses ensaios, quando foi exigido um estudo complementar sobre cada tiro e o nível de exposição correspondente.
"As conclusões serão públicas", afirmou Morin.
A França realizou 210 testes nucleares. O primeiro foi no Saara, em 1960, e o último, em 1996, na Polinésia francesa. Milhares de veteranos, que teriam sido contaminados, lutam pelo reconhecimento dos danos causados à sua saúde.
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