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01/03/2010 - 08h13

"Pessoas perambulavam perdidas, como fantasmas", conta jornalista no Chile

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da Reuters, em Concepción (Chile)

Mario Naranjo, editor do serviço em espanhol da agência de notícias Reuters, vivenciou no sábado (27) o que considera o pior terremoto de sua vida. Ele relata a seguir sua experiência no tremor de magnitude 8,8 que matou ao menos 711 pessoas no Chile.

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"O pior terremoto da minha vida me acordou com minha mulher chorando e o cachorro se escondendo, morto de medo, embaixo das cobertas.

Levantei como estava, tropeçando, no meu apartamento em Santiago enquanto ainda estremecia e sentia o chão áspero, como areia. Foi o forro do teto que tinha caído.

Deixei minha mulher na casa de uns amigos e fui de carro para Concepción, uma das cidades mais devastadas pelo terremoto, sem saber se haveria algo de pé ali, porque o abalo a deixou isolada.

A viagem de Santiago para a Concepción, que normalmente dura cinco horas, demorou 15. Só consegui abastecer o carro no sétimo posto de combustível que tentei.

A visão em Santiago já era desoladora, com pontes caídas, caminhos obstruídos, incêndios e caminhões dentro de fendas.

A principal rota para o sul estava bloqueada, mas um amigo me falou de um homem que também viajava para Concepción e conhece caminhos alternativos. Fomos em caravana.

Tudo era um caos e isso seria apenas o começo. Tinha que ir devagar e passar entre uma fenda e outra com a precisão de um cirurgião. No desespero, dois carros se chocaram e provocaram uma incêndio.

Passei por um homem que movia as mãos pedindo ajuda, tratamos de ajudar com os extintores dos carros, mas foi em vão. Vimos as pessoas morrerem no caminho.

À medida em que avançava rumo ao sul, as fendas e as crateras eram piores.

No caminho, um grupo de turistas tirava fotos de uma rachadura enquanto as pequenas comunidades de casas ao redor estavam no chão e moradores tentavam limpar o que restou.

Em meio à desolação pensava em meus filhos na Itália, José Antonio e Juan Francisco, e na impotência de não poder falar com eles. Queria dizer que seu pai estava bem, mas as redes de comunicações tinham sido cortadas.

Ao chegar em Concepción, havia pessoas acampando ao longo do percurso e outras que me ofereciam qualquer dinheiro para levá-las a alguma cidade mais próxima para encontrar sua família.

Outras pessoas perambulavam perdidas, como fantasmas, com seus filhos pequenos nos braços e em um carrinho com cobertores e alimentos.

A quantidade de destroços era impressionante. Edifícios no chão, casas destruídas. Uma paisagem de desolação.

Sem ter onde dormir, não havia alternativa a não ser passar a noite no meu carro.

Em um posto de serviço consegui comprar um pacote de maçãs. É tudo o que eu tenho para comer. Chicletes, maçãs e uma garrafa d'água".

 

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