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06/06/2004 - 20h39

Aliados e alemães se reúnem na Normandia 60 anos após desembarque

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da France Presse, em Arromanches (França)

Amigos e inimigos, vencedores e vencidos se reuniram neste domingo nas praias da Normandia para homenagear os milhares de jovens soldados que sacrificaram suas vidas em 6 de junho de 1944 por ideais de paz, democracia e justiça.

A poucos metros da praia de Arromanches, onde, naquele amanhecer de há 60 anos, desembarcaram milhares de soldados aliados, 22 chefes de Estado e de governo de 16 países, dezenas de veteranos de guerra e cerca de 5.000 convidados se uniram em uma emotiva homenagem aos heróis de guerra.

O presidente americano, George W. Bush, e francês, Jacques Chirac, presidiram uma cerimônia bilateral, pela manhã, no impressionante cemitério americano de Colleville-sur-Mer, onde estão enterrados mais de 9.000 jovens soldados daquele país.

Atrás do cemitério fica a praia de Omaha, conhecida como "a praia sangrenta", onde em 6 de junho de 1944 morreram e ficaram feridos sob o fogo alemão milhares de militares americanos.

Uma salva de 21 tiros de canhão, a execução dos respectivos hinos nacionais, o respeito de um minuto de silêncio e a oferta de flores marcaram o início da cerimônia solene.

"A França nunca esquecerá o que deve aos Estados Unidos", afirmou Chirac, visivelmente emocionado, lembrando que a amizade entre os dois povos começou há mais de 200 anos e tem como base a mesma paixão "pela liberdade e o direito, pela justiça e a democracia".

Divergências de lado

Os dois presidentes tentaram deixar de lado suas enormes diferenças, principalmente quanto à questão iraquiana, para se unirem nesta homenagem aos soldados que se sacrificaram para libertar a França do domínio nazista.

"Hoje os Estados Unidos prestam uma homenagem a todos os libertadores que aqui lutaram pela mais nobre das causas. Faríamos tudo de novo por nossos amigos", afirmou Bush, destacando que a aliança franco-americana pela liberdade é forte e ainda é necessária.

Apesar das atuais divergências, Chirac enfatizou que a amizade entre seu país e os Estados Unidos continua intacta desde 1944 e se fortaleceu em momentos difíceis, como o 11 de setembro de 2001.

Em seu discurso, Bush lembrou que a França foi a "primeira aliada dos Estados Unidos no mundo", numa referência ao apoio dado por Paris durante a guerra da independência contra a Inglaterra no final do século 18.

Demonstração importante de reconciliação foi o fato de que um chanceler alemão, neste caso Gerhard Schröder, participar pela primeira vez na história nas cerimônias do desembarque.

"O ódio não tem futuro e sempre há um caminho possível para a paz (...) Há várias décadas, inimigos acirrados de tempos passados constróem em comum seu presente e olham juntos para o futuro. Com todo o respeito para a história, os combatentes, os sofrimentos e o sangue derramado, comemoramos juntos a vitória da paz e da democracia", declarou Chirac.

Chirac reiterou que, há 60 anos, nas praias da Normandia, foi colocada a primeira pedra para que hoje em dia a "Europa, finalmente unida, viva em paz, liberdade e democracia".

Presença alemã

Durante anos, pareceu impossível que alemães e aliados recordassem seus mortos juntos. O ex-chanceler da Alemanha reunificada, Helmut Kohl, foi excluído das comemorações do 50º aniversário em 1994.

Como o próprio Kohl revelou recentemente, ele tinha rejeitado um convite secreto do então presidente da França, François Mitterand, em memória de seu irmão Walter, morto durante a guerra.

No entanto, com sua presença, Schröder quis ressaltar a responsabilidade da Alemanha na Segunda Guerra Mundial, e prestar uma homenagem às vítimas. Ele ressaltou que a Alemanha "aprendeu a lição e leva muito a sério sua responsabilidade histórica" nos fatos.

"Milhares de soldados morreram em um único e cruel dia, e pagaram o preço mais alto pela liberdade. Ao mesmo tempo, soldados alemães morreram porque foram enviados para uma campanha assassina para oprimir a Europa", afirmou o chanceler em um discurso no cemitério de Ranville, em Caen, Normandia.

Schröder, no entanto, destacou que a morte das vítimas não foi em vão, porque permitiu que a Europa viva hoje em liberdade e em paz.

"Não represento a antiga Alemanha dos anos obscuros. Meu país recuperou o caminho dos povos civilizados, um longo caminho para uma democracia estável e bem sucedida".

Reconstituição

A cerimônia internacional de Arromanches apresentou uma comovente reconstituição do desembarque, graças a ajuda de atores, telões, aviões de combate e uma impressionante parada naval na vizinha praia de Gold.

Em Juno Beach, outra das praias do desembarque tomada pelo Exército britânico, a rainha Elizabeth 2ª da Inglaterra recordou que os militares de ultramar, como americanos e canadenses, "atravessaram o Atlântico e abandonaram a segurança de sua terra natal para lutar pela liberdade da Europa".

Na localidade normanda de Bayeux, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, e sua esposa, Cherie, saudaram inúmeros veteranos de guerra que compareceram às praias para recolher areia ou depositar flores no cemitério, numa homenagem aos mortos na operação aliada "Overlord", o maior desembarque militar da história.

"Transmitamos o que foi vivido às gerações mais jovens para que não se esqueçam os mortos e não se repitam os erros do passado", afirmaram alguns soldados com mais de 80 anos de vida.

Quatorze desses veteranos, representantes de cada um dos países aliados, foram condecorados por Chirac com a Ordem dos Cavaleiros da Legião de Honra, em um ato que causou lágrimas nos antigos soldados e calorosos aplausos do público presente.

"A estes heróis legendários transmito, em nome do todos os franceses, em nome de todos os chefes de Estado aqui reunidos, nosso reconhecimento e nosso orgulho, nossa gratidão e nossa admiração", afirmou Chirac.

"Todos os anos somos um pouco menos e não podemos deixar de pensar nos amigos mortos e que talvez este seja nosso último ano", explicou Louis Tisserand, francês que pulou de pára-quedas na Bretanha (oeste), no dia 5 de junho de 1944, véspera do desembarque.

As praias e cidades da Normandia, vestidas de gala para estas celebrações, também foram cenário de medidas de segurança excepcionais para afastar a ameaça de um atentado terrorista em função da presença de um grande número de autoridades internacionais.

No total, 19 mil militares, gendarmes e policiais estão mobilizados em todo o país. A França restabeleceu os controles em suas fronteiras terrestres e restringiu o espaço aéreo e a navegação.

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