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26/10/2004 - 11h54

Análise: EUA começam a perder sua guerra antiproliferação nuclear

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NEWTON CARLOS
especial para a Folha Online

A não-proliferação nuclear continua sob controle. Foi o que disse o porta-voz de Bush [George W., presidente dos Estados Unidos] procurando escapar das acusações de negligência com o sumiço no Iraque de centenas de toneladas de explosivos convencionais, mas de possível uso como gatilho de engenhos atômicos.

Não é o que pensa a comunidade científica. "Estamos perdendo a guerra da proliferação", diz Andrew F. Krepinevich, analista militar à frente do "Center for Stategic and Budgetary Assessments", dos EUA.

Outro especialista, Bruce Blair, presidente do Center for Defense Information", admite que não se surpreenderia se dentro de 15 ou 20 anos houver disparos de algum tipo de arma "não convencional". Grupos terroristas estão em primeiro lugar entre os possíveis usuários. Nicholas D, Kristof, colunista do "New York Times" em cima dessa questão, culpou a linha dura do governo Bush pelo que ele chama de "nosso maior fracasso", o de não negociar seriamente com a Coréia do Norte, colocando freios no programa nuclear norte-coreano.

Um ex-inspetor de armas da ONU (Organização das Nações Unidas), David Albright, é hoje diretor do "Institute for Science and International Security", também dos EUA. Em relatório recente ele afirma que "os estoques mundiais de plutônio e de urânio altamente enriquecido aumentam apesar dos medos crescentes envolvendo materiais nucleares".

Estamos falando de riscos de escalada atômica fora de controle, no campo armamentista. Proliferação nuclear, foi o que respondeu John Kerry quando perguntado, num dos debates com Bush, sobre qual o maior perigo enfrentado pela humanidade.

Com a dispensa dos inspetores da ONU depois de ocupado o Iraque a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) deixou claro que as toneladas de explosivos sob vigilância poderiam ter emprego "não convencional", como gatilhos de armas de destruição maciça.

O sumiço entra no campo dos descontroles levantado pelo instituto americano. Em fins de 2003 mais ou menos 60 países tinham plutônio e urânio enriquecidos em quantidades suficientes para a fabricação de milhares de armas atômicas.

É o que será analisado em artigo para o "Bulletin of the Atomic Scientists", igualmente dos EUA. Além das potências nucleares declaradas, que só incrementam seus arsenais, em vez de rebaixa-los gradativamente, como manda o Tratado de Não-Proliferação Nuclear, a relação de "candidatos" vai engordando. Bélgica, Itália, Alemanha, Japão, Holanda, Espanha, Suécia, Suíça, um ex-nuclear, África do Sul, etc. A Coréia do Norte retirou-se do tratado em 2003 e já teria pelo menos nove engenhos. Há outros três não signatários com armas, Israel, Índia e Paquistão.

Israel já seria potência nuclear a plena carga. Seu arsenal é um mistério. O diretor da AIEA, o organismo da ONU com a tarefa de monitorar o uso de materiais nucleares, visitou Jerusalém, mas esse assunto foi evitado. "Chegamos a um ponto crucial", diz Joseph Cirincione, do "Carnegie Endowement for International Peace", dos EUA como as duas instituições citadas antes. Os explosivos sumidos do Iraque estão nesse terreno minado.

Newton Carlos é jornalista e analista de questões internacionais

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