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05/03/2005 - 08h04

Presidente de entidade judaica vê boa relação com alemães

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CLARICE SPITZ
da Folha Online

O presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), Berel Aizenstein, 73, tem uma opinião muito positiva a respeito da polêmica que envolve judeus, anti-semitismo e alemães. Para ele, o Holocausto é uma página totalmente virada na relação entre os dois povos.

"Os judeus que vivem nos dias de hoje na Alemanha experimentam uma convivência semelhante àquela vista durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), quando os judeus preencheram as fileiras do Exército alemão e lutaram juntos pelo país", diz Aizenstein.

Para ele, o Holocausto foi um "período anômalo" e a prova do restabelecimento das relações com os alemães é o aumento do número de judeus a voltar a morar no país [112 mil vivem atualmente na Alemanha, de acordo com dados fornecidos pelo Congresso Mundial Judaico, em Nova York]. "O alemão de hoje tem um profundo arrependimento pelo que foi feito por seus antepassados e, se tivesse o poder de decidir, jamais concordaria com o Holocausto", afirma.

Leia entrevista concedida à Folha Online

Folha Online - O sr. concorda com a declaração do diretor do Museu Judaico em Berlim de que os judeus nunca foram vistos como iguais pelos alemães?

Berel Aizenstein - A história que eu conheço não é exatamente esta. Sei que 100 mil judeus alemães lutaram no Exército alemão durante a Primeira Guerra, o que indica, com certeza, que os judeus estavam absolutamente integrados à sociedade alemã.

Folha Online - Na opinião do sr. essa integração entre judeus e alemães voltou a ocorrer hoje?

Aizenstein - Existe uma quantidade respeitável de judeus voltando para a Alemanha. Eu estive recentemente na Alemanha e o que senti é que o alemão de hoje tem um profundo arrependimento pelo que foi feito por seus antepassados. Os alemães não partilham do que aconteceu e, se tivessem o poder de decidir, jamais concordariam com o Holocausto.

Folha Online - A que o sr. atribui esta volta de judeus para a Alemanha?

Aizenstein - Eu diria que o que ocorre hoje é o que aconteceu antes da Primeira Guerra Mundial. Acredito que o período que Hitler comandou os destinos da Alemanha foi anômalo, absolutamente fora de parâmetros, e que o povo alemão à época viveu uma ilusão, uma fantasia, que o conduziu àquela prática monstruosa. Os alemães eram e sempre foram um povo avançado na ciência, nas artes e nada justifica aquele tipo de acontecimento.

Folha Online - Na opinião do sr. o Holocausto já foi suficientemente relembrado?

Aizenstein - Nunca. Jamais poderemos apagar e esquecer o Holocausto. Não apenas porque somos judeus, mas porque nenhum povo do mundo merece passar por algo assim. E para que não se esqueça a lição é importante que não se deixe de registrar todos os anos este evento.

Folha Online - Grupos neonazistas organizaram em 13 de fevereiro em Dresden, na Alemanha, a maior passeata desde a Segunda Guerra Mundial. Eles representam algum perigo à relação entre judeus e alemães?

Aizenstein - Os grupos neonazistas que proliferam de novo tanto na Alemanha quanto na França, e até em pequeníssima escala aqui no Brasil, representados pelos skinheads, não acabam nunca, e essa é mais uma razão pela qual nós não devemos deixar de lembrar do Holocausto. Apesar de não representar um perigo para a relação entre alemães e judeus e mesmo sendo uma minoria nós não devemos desprezá-la.

Folha Online - A foto do príncipe britânico Harry vestido como um nazista, que foi estampada na capa de um tablóide inglês em janeiro, não poderia significar que a atual geração européia está se tornando indiferente aos crimes cometidos durante o Holocausto?

Aizenstein - Eu espero do fundo do coração que não. O príncipe Harry foi de uma leviandade extraordinária porque nós não podemos esquecer que a Inglaterra foi uma vítima tremenda dos bombardeios nazistas. Eu ouvi uma pessoa dizer naqueles dias: "[ex-primeiro ministro britânico Winston] Churchill devia estar se revirando em sua sepultura". Foi de uma leviandade a toda prova, mas não seria um demonstrativo de que a geração esteja se tornando indiferente.

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