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05/06/2005
-
09h20
JOÃO BATISTA NATALI
da Folha de S.Paulo, em Santiago
Os chilenos votarão para a escolha do substituto do presidente Ricardo Lagos apenas em 11 de dezembro. A propaganda eleitoral gratuita começa só 15 dias antes, e a campanha propriamente dita apenas em setembro. Mas boa parte dos prognósticos dá como amplamente favorita a socialista Michelle Bachelet, 53, ex-ministra da Saúde e da Defesa e ex-prisioneira política da ditadura do general Augusto Pinochet Ugarte (1973-90).
Seu favoritismo obedece a uma aritmética bastante simples. Do lado governista --a Concertación, coligação liderada pelos socialistas e pelo Partido Democrata Cristão (PDC)--, eram duas as candidatas: a própria Bachelet e Soledad Alvear, ex-chanceler e dirigente do PDC.
As primárias do bloco de centro-esquerda estavam marcadas para fins de julho. Seria algo inédito em termos latino-americanos, com duas mulheres disputando a indicação presidencial. Mas Alvear retirou-se no dia 17.
Ex-pinochetista
No campo oposto, o dos conservadores, concorria solitário o economista Joaquín Lavín Infante, ex-prefeito de Santiago, e ex-pinochetista, que em 1999 forçou Lagos a disputar um segundo turno e obteve 48,7% dos votos.
Mas Lavín, da UDI (União Democrática Independente), ganhou no mês passado um concorrente: Sebastian Piñera, da RN (Renovação Nacional), um homem carismático, com fortuna de US$ 950 milhões --rede de TV, um quarto da empresa aérea LAN Chile--, que tem como ponto forte no currículo o trabalho pelo "não" no plebiscito de 1988 que propunha mais oito anos de mandato para Pinochet. O então ditador saiu derrotado.
Em suma, o bloco de centro-esquerda se unificou, enquanto o da direita se dividiu.
Maioria absoluta
Não há ainda pesquisa eleitoral com a nova divisão dos campos. No último dia 13, a socialista Bachelet estava com 45% das intenções de voto, contra 25% a Lavín. Ela receberá boa parte dos 13% de intenções atribuídas a Soledad Alvear. O que já lhe daria, em tese, confortável maioria absoluta.
O resto do bolo eleitoral teria uma boa fatia entregue a Tomás Hirsch, do Partido Humanista, que concorrerá coligado com os Verdes e com o Partido Comunista Chileno. A coalizão obteve um décimo dos votos nas eleições municipais do ano passado.
A direita abertamente pinochetista emagreceu na proporção direta das revelações do Senado dos EUA a respeito das 155 contas bancárias em que o ex-ditador depositou cerca de US$ 17 milhões. E seu trágico balanço na área dos direitos humanos foi afinal quantificado em 2004: além dos 3.200 mortos, foram 28 mil os torturados pela ditadura.
A Concertación foi a princípio um acordo pela reimplantação da democracia. Era o denominador comum entre os socialistas --partido de Salvador Allende, presidente marxista deposto por Pinochet em setembro 1973- e os democrata-cristãos, moderadamente reformistas.
Foram do PDC os dois primeiros presidentes da redemocratização: Patricio Aylwin e Eduardo Frei Ruiz-Tagle. Seguiu-se Lagos, o primeiro socialista, com seu partido já respeitoso à economia de mercado.
Perfil chileno
Essa linhagem de governantes reformistas operou com algumas vantagens próprias ao perfil econômico e social do Chile. O país tem crescido acima dos 5%. A Previdência Social, privatizada por Pinochet, não gerava déficits do Orçamento. A carga tributária (18% do PIB) é a metade da brasileira. Para corrigir as desigualdades herdadas da ditadura, esse país relativamente pequeno --16,2 milhões de habitantes, o equivalente à Região Metropolitana de São Paulo-- investiu maciçamente em programas sociais.
Há vários exemplos. Construiu 180 mil casas populares em cada um dos 14 anos de redemocratização. A pobreza absoluta caiu de 20% a 4,2%. Os programas de bolsa-família, chamados de Chile Solidário, não tiveram o orçamento cortado no final dos anos 90, apesar dos efeitos internos da crise asiática.
A renda per capita é de US$ 10,7 mil. O analfabetismo, de menos de 4%. O cobre, responsável por 34% das exportações, rendeu US$ 14 bilhões no ano passado e atingiu em novembro sua maior cotação em 16 anos. As vendas externas se diversificaram com celulose, peixes, frutas e vinhos. Ou seja, o Chile é relativamente fácil de governar. E os chilenos, segundo as pesquisas, não querem mudar de rumo.
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da Folha de S.Paulo, em Santiago
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Seu favoritismo obedece a uma aritmética bastante simples. Do lado governista --a Concertación, coligação liderada pelos socialistas e pelo Partido Democrata Cristão (PDC)--, eram duas as candidatas: a própria Bachelet e Soledad Alvear, ex-chanceler e dirigente do PDC.
As primárias do bloco de centro-esquerda estavam marcadas para fins de julho. Seria algo inédito em termos latino-americanos, com duas mulheres disputando a indicação presidencial. Mas Alvear retirou-se no dia 17.
Ex-pinochetista
No campo oposto, o dos conservadores, concorria solitário o economista Joaquín Lavín Infante, ex-prefeito de Santiago, e ex-pinochetista, que em 1999 forçou Lagos a disputar um segundo turno e obteve 48,7% dos votos.
Mas Lavín, da UDI (União Democrática Independente), ganhou no mês passado um concorrente: Sebastian Piñera, da RN (Renovação Nacional), um homem carismático, com fortuna de US$ 950 milhões --rede de TV, um quarto da empresa aérea LAN Chile--, que tem como ponto forte no currículo o trabalho pelo "não" no plebiscito de 1988 que propunha mais oito anos de mandato para Pinochet. O então ditador saiu derrotado.
Em suma, o bloco de centro-esquerda se unificou, enquanto o da direita se dividiu.
Maioria absoluta
Não há ainda pesquisa eleitoral com a nova divisão dos campos. No último dia 13, a socialista Bachelet estava com 45% das intenções de voto, contra 25% a Lavín. Ela receberá boa parte dos 13% de intenções atribuídas a Soledad Alvear. O que já lhe daria, em tese, confortável maioria absoluta.
O resto do bolo eleitoral teria uma boa fatia entregue a Tomás Hirsch, do Partido Humanista, que concorrerá coligado com os Verdes e com o Partido Comunista Chileno. A coalizão obteve um décimo dos votos nas eleições municipais do ano passado.
A direita abertamente pinochetista emagreceu na proporção direta das revelações do Senado dos EUA a respeito das 155 contas bancárias em que o ex-ditador depositou cerca de US$ 17 milhões. E seu trágico balanço na área dos direitos humanos foi afinal quantificado em 2004: além dos 3.200 mortos, foram 28 mil os torturados pela ditadura.
A Concertación foi a princípio um acordo pela reimplantação da democracia. Era o denominador comum entre os socialistas --partido de Salvador Allende, presidente marxista deposto por Pinochet em setembro 1973- e os democrata-cristãos, moderadamente reformistas.
Foram do PDC os dois primeiros presidentes da redemocratização: Patricio Aylwin e Eduardo Frei Ruiz-Tagle. Seguiu-se Lagos, o primeiro socialista, com seu partido já respeitoso à economia de mercado.
Perfil chileno
Essa linhagem de governantes reformistas operou com algumas vantagens próprias ao perfil econômico e social do Chile. O país tem crescido acima dos 5%. A Previdência Social, privatizada por Pinochet, não gerava déficits do Orçamento. A carga tributária (18% do PIB) é a metade da brasileira. Para corrigir as desigualdades herdadas da ditadura, esse país relativamente pequeno --16,2 milhões de habitantes, o equivalente à Região Metropolitana de São Paulo-- investiu maciçamente em programas sociais.
Há vários exemplos. Construiu 180 mil casas populares em cada um dos 14 anos de redemocratização. A pobreza absoluta caiu de 20% a 4,2%. Os programas de bolsa-família, chamados de Chile Solidário, não tiveram o orçamento cortado no final dos anos 90, apesar dos efeitos internos da crise asiática.
A renda per capita é de US$ 10,7 mil. O analfabetismo, de menos de 4%. O cobre, responsável por 34% das exportações, rendeu US$ 14 bilhões no ano passado e atingiu em novembro sua maior cotação em 16 anos. As vendas externas se diversificaram com celulose, peixes, frutas e vinhos. Ou seja, o Chile é relativamente fácil de governar. E os chilenos, segundo as pesquisas, não querem mudar de rumo.
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