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08/06/2005 - 15h57

Líder cocalero diz que revolta popular na Bolívia prosseguirá

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RAÚL CORTÉS
da EFE, em La Paz

A crise boliviana responde a um movimento ininterrupto de libertação dos povos indígenas e, as autoridades ao não compreendê-lo, podem causar uma guerra civil, disse o líder do Movimento Ao Socialismo (MAS), Evo Morales.

Em seu pequeno e modesto apartamento, situado no segundo andar de um edifício na capital La Paz e que compartilha com outro deputado de seu partido, o líder indígena transmitiu a essência de sua ideologia socialista.

Na Bolívia, a nação mais pobre e uma das mais problemáticas da América do Sul, existe um processo de "pré-revolução", declarou Morales.

Cozaro De Luca/EFE/Reuters
Evo Morales durante entrevista

Morales fala com verdadeiro conhecimento de causa, porque seu partido, além de ser a segunda força no Congresso e a primeira nas últimas eleições municipais, é o principal incentivador das manifestações de rua iniciadas há quase um mês e que levaram o presidente Carlos Mesa à renúncia, pela segunda vez.

Os protestos em La Paz e na localidade fronteiriça de El Alto, que nos últimos dias foram propagados ao resto do país, buscam "mudar todas as políticas impostas de cima e de fora", disse Morales.

Para o líder indígena, "o pano de fundo" do conflito é "uma rebelião diante da submissão e da exploração econômica, da opressão política, e da alienação cultural".

"Despertamos, e é um movimento que não vai parar. Vamos em busca da libertação", declarou, em alusão à pressão popular nas ruas que exige a nacionalização do gás e do petróleo.

O chefe do MAS acredita que os outros dois assuntos na pauta de reivindicações, a convocação de uma Assembléia Constituinte e um plebiscito sobre autonomias regionais, foram interpretados de forma errada.

"Diante da Assembléia Constituinte, que é uma proposta que faz parte de uma agenda nacional, a oligarquia de Santa Cruz quer impor uma agenda regional com o tema da autonomia", disse Morales, referindo-se ao empresariado da região de Santa Cruz.

Nascido há 45 anos na pequena comunidade andina de Orinoka, em Oruro, este homem solteiro e pai de dois filhos, que vive cercado por jornais internos do MAS e pela Whipala, a bandeira tricolor da nação andina, rejeitou a análise de que a atual crise boliviana é uma resposta a "um confronto entre oriente e ocidente". "É entre ricos e pobres", afirmou.

Os grupos mais poderosos estão "concentrados agora em Santa Cruz", na região com melhores índices econômicos do país, e "falam em autonomia simplesmente para monopolizar estas riquezas", disse.

"Qual o motivo que levou estes senhores, durante o auge do estanho no ocidente, a não terem pedido autonomia?", pergunta o chefe do Morales, referindo-se às zonas de minérios do planalto andino e seu posterior declive.

O líder camponês identificou "os autonomistas de hoje" com "os centralistas de ontem", aqueles "que disseram: antes que os índios governem, queremos dividir-nos".

Segundo Morales, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional são também responsáveis pela crise porque "impõem políticas de fome e miséria, de saque e privatização".

"No ano de 1825 não participamos (indígenas) da fundação da Bolívia, mesmo sendo os donos absolutos desta nobre terra", lamentou. Morales recorda que, de acordo com o último censo, de 2001, 62% dos bolivianos se declaram indígenas e 63% são pobres.

"A idéia de reformar a Constituição é para unir a Bolívia" porque o movimento indígena não provoca exclusões, e sim inclusões", afirmou. "Queremos governar a nós mesmos. Não para submeter-nos ou vingar-nos de alguém, mas para que todos tenhamos os mesmos direitos", acrescentou.

O chefe do MAS advertiu que "se as classes dominantes não o entendem ou não o levam em consideração, isto pode desembocar em uma guerra civil", nos mesmos termos usados pelo presidente Mesa.

Morales também voltou a defender a via democrática. "Se não fosse o MAS, há tempos as armas fariam parte desse conflito nas ruas".

O controvertido Morales desmentiu também que tenha recebido apoio econômico da Venezuela e de Cuba, países aos quais chamou de aliados na luta contra o imperialismo dos Estados Unidos.

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