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14/07/2005 - 19h47

Para correspondente, ataque em Londres atrapalha a imigração, mas "ajuda" Blair

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da Folha Online

A jornalista Érica Fraga, 30, correspondente em Londres da Folha de S.Paulo, afirmou que os atentados contra a cidade devem dificultar a entrada de estrangeiros no país, mas disse que a atuação do premiê Tony Blair frente à tragédia melhorou a popularidade de seu governo.

"O Reino Unido já vinha com uma linha bem mais dura na sua política de imigração e, agora, as coisas devem piorar, sim", afirmou.

Apesar disso, na avaliação da jornalista, o endurecimento das leis de imigração não devem atrapalhar a realização da Olimpíada de 2012 [que ocorrerá em Londres]. "Os turistas não serão barrados. Acho que eles vão continuar dificultando a vida de quem quer morar e trabalhar aqui, combater a imigração ilegal", explicou.

Segundo ela, a tragédia das quatro explosões contra o sistema de transporte londrino, que deixaram 49 mortos, além dos quatro suicidas, não teve, até o momento, impacto negativo sobre o governo de Blair. Ela diz acreditar que o ocorrido ajudará na avaliação do chefe de governo.

"Acho que o Tony Blair está se saindo bem, assumiu uma postura de estadista sério. Acho que existe a chance de que isso tenha impacto positivo na popularidade dele, que não vinha muito boa."

As afirmações foram feitas durante bate-papo da Folha no UOL com a jornalista, nesta quinta-feira. Segundo o UOL, 728 pessoas participaram do bate-papo com a jornalista.

Questionada por uma internauta a respeito do "clima" da cidade após os ataques, Fraga disse que Londres está abalada, o esquema de segurança foi bastante reforçado e que há algumas notícias de agressões contra muçulmanos. Ela contou que algumas mesquitas foram atacadas e que, ontem, um homem muçulmano foi assassinado. "Mas não existe certeza se isso teve ligação com os atentados, se foi 'revanche' de algum grupo de extrema direita, ou uma infeliz coincidência", disse.

Ainda sobre a questão da segurança, Fraga disse que a polícia britânica tem demostrado agilidade e que efetua alterações constantes. Ela comentou que tem acontecido muitos alertas de segurança que levam a polícia a esvaziar ônibus ou suspender determinadas linhas por algum tempo. "Ontem, por duas vezes, tive de deixar um trem que ia de Leeds para Londres por causa de alertas desse tipo. Da minha casa ouço as sirenes dos carros de polícia o tempo todo."

Brasileiros

Com relação à situação dos brasileiros que vivem na cidade, a jornalista disse que aqueles com quem ela teve a oportunidade de conversar na semana passada se mostraram assustados, mas que, assim como os próprios ingleses, estavam seguindo a vida normalmente.

Fraga também falou sobre o sofrimento das pessoas que ainda não encontraram parentes e amigos. "As famílias das vítimas estão vivendo um drama enorme. Muitas ainda não tiveram confirmação de que seus parentes morreram. Alguns continuam sendo tratados como desaparecidos. Mas acho que, nesses casos, a esperança diminui a cada dia."

A um internauta de codinome Sedutor JPA, que perguntou se ela havia sentido medo, Fraga respondeu positivamente, acrescentado que ao ver a primeira notícia a respeito dos ataques ligou imediatamente a seu marido [que também vive e trabalha em Londres] para saber se ele estava bem. Na seqüência, disse ter ligado para seus familiares no Brasil.

Confirmando o que a imprensa internacional tem escrito a respeito das previsões desses ataques, Fraga disse que, na opinião dela, todos esperavam um atentado cedo ou tarde. "Eu já esperava também", acrescentou.

Questionada sobre a participação de outros países nas investigações [além da declarada ajuda dos Estados Unidos], a jornalista afirmou que há no Reino Unido investigadores dos serviços de segurança de mais de 30 países ajudando os britânicos.

Osama bin Laden

Outro internauta, apelidado de Henrique, perguntou à jornalista se havia virado moda atribuir sempre a "culpa" de ataques terroristas a Osama bin Laden [chefe da rede terrorista Al Qaeda, e o homem mais procurado pelos Estados Unidos]. Em resposta, Fraga riu e disse que achava que havia virado um pouco de moda, sim.

"Mas, sem dúvida, ele [Bin Laden] é uma inspiração para jovens terroristas. Segundo especialistas, o chamado terrorismo radical islâmico é muito disseminado. Não existe uma única célula. Mas diversos indivíduos dispostos a praticar um ataque que se juntam e se separam facilmente."

Sobre novos ataques em Londres, Fraga disse ser impossível fazer previsões, mas lembrou que existe uma tensão em vários países da Europa, principalmente, na Itália [devido a ameaças feitas na internet].

Trabalho

A respeito da cobertura jornalística do atentado, Fraga --que no dia dos ataques estava na Escócia acompanhando a Cúpula do G8 (grupo dos sete países mais ricos do mundo e a Rússia)-- relata o que chamou de "loucura".

"Eu estava na Escócia cobrindo o G8. Mas tinha de entrar na apuração dos atentados. Quer dizer, tive de cobrir as duas coisas. Eu tentei falar com as pessoas que estavam em Londres, que tinham visto algo. Consegui entrevistar, por exemplo, dois brasileiros. Um rapaz que viu a explosão do ônibus e uma moça que estava dentro de um trem quando a bomba estourou em outro trem que vinha na direção contrária. Ela me deu um depoimento muito emocionante e forte. Eu trabalhei muito."

Fraga elogiou os serviços de emergência britânicos, ressaltando que eles tiveram uma atuação ótima, rápida. Na opinião dela, havia, claramente, um plano emergencial muito bem feito.

Érica Fraga é correspondente em Londres da Folha desde agosto de 2004. Antes disso, trabalhou durante três anos em São Paulo, no caderno Dinheiro do jornal, onde cobria finanças.

Jornalista de formação, Érica Fraga fez mestrado em Economia Política na Warwick University, no Reino Unido. No ano passado, ganhou o prêmio Citigroup de jornalismo e em 1998, o prêmio Icatu de Jornalismo Econômico.

Especial
  • Leia a íntegra do bate-papo
  • Leia cobertura completa sobre os ataques em Londres
  • Veja como foram os outros bate-papos
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