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15/08/2005
-
08h47
DANIELA LORETO
da Folha Online
A retirada dos colonos israelenses da faixa de Gaza e parte da Cisjordânia--prevista para ter início no próximo dia 17-- cria esperanças e expectativas, mas está longe de representar o fim da violência na região. "A retirada pode até mudar o local, mas não modifica a questão central do problema".
A opinião é do professor Mark Heller, 58, diretor de pesquisas do Centro Jaffee de Estudos Estratégicos da Universidade de Tel Aviv (Israel), que concedeu entrevista à Folha Online, por telefone.
Para ele, a retirada não pretende pôr fim aos conflitos, mas, sim, reduzir a exposição de Israel ao terrorismo. "No entanto, a ação poderá ter uma implicação mais abrangente, já que deve levar ao desenvolvimento de um caminho político mais positivo", afirma.
O professor diz que um possível acordo de paz depende da forma como será feita a retirada dos cerca de 9.000 colonos judeus que vivem em 21 assentamentos na faixa de Gaza e quatro na Cisjordânia. "Vai depender se a ação ocorrerá de maneira branda e for acompanhada de um esforço da Autoridade Nacional Palestina (ANP) em criar um governo estabelecido e com certo grau de estabilidade."
Acordo
De acordo com Heller, a solução definitiva para a questão só aconteceria por meio de um amplo acordo político entre Israel e a ANP--o que, segundo ele, não deve acontecer tão cedo.
"O momento não é propício para negociações políticas abrangentes. Nós teremos eleições em Israel no ano que vem, além das eleições palestinas. O cenário político não permitirá um acordo abrangente até, pelo menos, a metade de 2006", diz.
O professor também diz acreditar que a ação israelense é positiva, mas trará resultados em menor escala. "Os próximos passos deverão acontecer no sentido de adotar medidas que tragam estabilidade e autoconfiança, que melhorem a qualidade da vida cotidiana na área", afirma.
Entre as medidas estão a abertura de aeroportos e a criação de melhores oportunidades de trabalho. "Serão questões de qualidade de vida, mais do que questões políticas", diz.
O professor também descarta a possibilidade de se criar um Estado palestino independente a curto prazo, justificando sua previsão no fato de os dois governos estarem longe de uma situação política que permita isso.
Israelenses x israelenses
Em relação aos colonos que se opõem ao plano de retirada e ameaçam ficar nos assentamentos à força, Heller diz acreditar que a resistência não será obstáculo para a ação. "A resistência não deve durar muito tempo. A retirada deve começar e acredito que ela irá em frente."
Segundo ele, a aceitação dos israelense anti-retirada não acontecerá apenas devido à ação das forças de segurança, mas também pelo reconhecimento de muitas pessoas de que a melhor opção é aderir à mudança. A retirada foi aprovada pelo gabinete do governo, ratificada pelo Parlamento e conta com o apoio da maior parte da população de Israel.
"Haverá uma minoria que tentará ficar, mas eu não acho que isso impedirá a retirada", diz.
Heller admite a existência do risco de criação de um novo conflito entre os próprios israelenses, devido à ação dos oponentes extremistas.
"Eles [os oponentes] são potencialmente perigosos e podem tentar semear a violência tanto entre os próprios israelenses quanto com palestinos. Mas não acho que terão sucesso", diz.
Expansão do plano
De acordo com Heller, a retirada dos colonos poderá se estender para outros assentamentos da Cisjordânia --onde está a maioria dos 240 mil colonos judeus que moram em territórios palestinos ocupados.
"Não é inconcebível que ocorra a retirada de colonos de outras partes da Cisjordânia, mas não acredito que a solução para o conflito sejam medidas unilaterais de Israel, e, sim, acordos políticos entre ambas as partes", disse.
O especialista descarta a teoria de que a retirada de Gaza seja usada pelo premiê israelense, Ariel Sharon, para justificar a permanência dos colonos na Cisjordânia --dos quais apenas 4% estão incluídos no atual plano.
"A permanência dos colonos na Cisjordânia não depende da permanência ou retirada dos colonos em Gaza. Se a retirada de Gaza for difícil, não tornará mais difícil a retirada da Cisjordânia. Se for fácil, também não facilitará a a outra ação", afirmou.
Ele diz que o ponto mais importante é que o futuro da relação israelo-palestina não é algo decidido unilateralmente por Israel. O resultado depende dos dois lados --referindo-se ao governo palestino.
Temor dos colonos
Segundo o professor, muitos colonos se recusam a deixar os assentamentos porque temem que sua migração de uma região a outra se torne comum --e que ele se transformem em pessoas sem um local fixo. Outros se opõem por considerarem a medida uma concessão unilateral de Israel, sem nada em troca da parte dos palestinos.
"Muitos colonos vêem a retirada como uma vitória do terrorismo, e acham que ela só irá encorajar terroristas palestinos a intensificar suas ações para obter os mesmos resultados em outros locais", explica Heller.
De acordo com o pesquisador, as coisas devem ficar mais calmas na região, mas a paz pode durar apenas alguns meses. "A ocorrência ou não de ataques terroristas dependerá do potencial da ANP em controlar a violência.
Heller também admite que há risco de o terrorismo passar a ocorrer fora de Gaza. Questionado se o problema poderia simplesmente "migrar" para outras áreas da região, respondeu: "Sim, é um bom resumo da situação. A retirada pode até mudar o local, mas não modifica a questão central do problema".
Com agências internacionais
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da Folha Online
A retirada dos colonos israelenses da faixa de Gaza e parte da Cisjordânia--prevista para ter início no próximo dia 17-- cria esperanças e expectativas, mas está longe de representar o fim da violência na região. "A retirada pode até mudar o local, mas não modifica a questão central do problema".
A opinião é do professor Mark Heller, 58, diretor de pesquisas do Centro Jaffee de Estudos Estratégicos da Universidade de Tel Aviv (Israel), que concedeu entrevista à Folha Online, por telefone.
Para ele, a retirada não pretende pôr fim aos conflitos, mas, sim, reduzir a exposição de Israel ao terrorismo. "No entanto, a ação poderá ter uma implicação mais abrangente, já que deve levar ao desenvolvimento de um caminho político mais positivo", afirma.
O professor diz que um possível acordo de paz depende da forma como será feita a retirada dos cerca de 9.000 colonos judeus que vivem em 21 assentamentos na faixa de Gaza e quatro na Cisjordânia. "Vai depender se a ação ocorrerá de maneira branda e for acompanhada de um esforço da Autoridade Nacional Palestina (ANP) em criar um governo estabelecido e com certo grau de estabilidade."
Acordo
De acordo com Heller, a solução definitiva para a questão só aconteceria por meio de um amplo acordo político entre Israel e a ANP--o que, segundo ele, não deve acontecer tão cedo.
"O momento não é propício para negociações políticas abrangentes. Nós teremos eleições em Israel no ano que vem, além das eleições palestinas. O cenário político não permitirá um acordo abrangente até, pelo menos, a metade de 2006", diz.
O professor também diz acreditar que a ação israelense é positiva, mas trará resultados em menor escala. "Os próximos passos deverão acontecer no sentido de adotar medidas que tragam estabilidade e autoconfiança, que melhorem a qualidade da vida cotidiana na área", afirma.
Entre as medidas estão a abertura de aeroportos e a criação de melhores oportunidades de trabalho. "Serão questões de qualidade de vida, mais do que questões políticas", diz.
O professor também descarta a possibilidade de se criar um Estado palestino independente a curto prazo, justificando sua previsão no fato de os dois governos estarem longe de uma situação política que permita isso.
Israelenses x israelenses
Em relação aos colonos que se opõem ao plano de retirada e ameaçam ficar nos assentamentos à força, Heller diz acreditar que a resistência não será obstáculo para a ação. "A resistência não deve durar muito tempo. A retirada deve começar e acredito que ela irá em frente."
Segundo ele, a aceitação dos israelense anti-retirada não acontecerá apenas devido à ação das forças de segurança, mas também pelo reconhecimento de muitas pessoas de que a melhor opção é aderir à mudança. A retirada foi aprovada pelo gabinete do governo, ratificada pelo Parlamento e conta com o apoio da maior parte da população de Israel.
"Haverá uma minoria que tentará ficar, mas eu não acho que isso impedirá a retirada", diz.
Heller admite a existência do risco de criação de um novo conflito entre os próprios israelenses, devido à ação dos oponentes extremistas.
"Eles [os oponentes] são potencialmente perigosos e podem tentar semear a violência tanto entre os próprios israelenses quanto com palestinos. Mas não acho que terão sucesso", diz.
Expansão do plano
De acordo com Heller, a retirada dos colonos poderá se estender para outros assentamentos da Cisjordânia --onde está a maioria dos 240 mil colonos judeus que moram em territórios palestinos ocupados.
"Não é inconcebível que ocorra a retirada de colonos de outras partes da Cisjordânia, mas não acredito que a solução para o conflito sejam medidas unilaterais de Israel, e, sim, acordos políticos entre ambas as partes", disse.
O especialista descarta a teoria de que a retirada de Gaza seja usada pelo premiê israelense, Ariel Sharon, para justificar a permanência dos colonos na Cisjordânia --dos quais apenas 4% estão incluídos no atual plano.
"A permanência dos colonos na Cisjordânia não depende da permanência ou retirada dos colonos em Gaza. Se a retirada de Gaza for difícil, não tornará mais difícil a retirada da Cisjordânia. Se for fácil, também não facilitará a a outra ação", afirmou.
Ele diz que o ponto mais importante é que o futuro da relação israelo-palestina não é algo decidido unilateralmente por Israel. O resultado depende dos dois lados --referindo-se ao governo palestino.
Temor dos colonos
Segundo o professor, muitos colonos se recusam a deixar os assentamentos porque temem que sua migração de uma região a outra se torne comum --e que ele se transformem em pessoas sem um local fixo. Outros se opõem por considerarem a medida uma concessão unilateral de Israel, sem nada em troca da parte dos palestinos.
"Muitos colonos vêem a retirada como uma vitória do terrorismo, e acham que ela só irá encorajar terroristas palestinos a intensificar suas ações para obter os mesmos resultados em outros locais", explica Heller.
De acordo com o pesquisador, as coisas devem ficar mais calmas na região, mas a paz pode durar apenas alguns meses. "A ocorrência ou não de ataques terroristas dependerá do potencial da ANP em controlar a violência.
Heller também admite que há risco de o terrorismo passar a ocorrer fora de Gaza. Questionado se o problema poderia simplesmente "migrar" para outras áreas da região, respondeu: "Sim, é um bom resumo da situação. A retirada pode até mudar o local, mas não modifica a questão central do problema".
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