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17/08/2005 - 09h01

Artigo: Paz depende de processo de negociações com palestinos

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HANNA YOUSEF EMILE SAFIEH
especial para a Folha Online

Sob longa e vigorosa pressão internacional e interna, o premiê israelense, Ariel Sharon, foi forçado a produzir um "horizonte político" que vá além da repressão militar aos palestinos.

Sharon e seu grupo político percebem o povo palestino unicamente nos termos de um perigo e uma ameaça demográfica para Israel, por isso, consideram que a retirada dos colonos israelenses dos territórios ocupados na faixa de Gaza corresponde ao interesse do Estado de Israel, pelos seguintes motivos:

1- Através dessa retirada, o Estado de Israel, entregando a totalidade da faixa de Gaza à Autoridade Nacional Palestina, livra-se de 1,3 milhão de palestinos, e com isso ganha 30 anos na corrida demográfica entre os povos palestino e israelense.

2- A retirada dos colonos israelenses dos assentamentos ilegais nos territórios palestinos ocupados na faixa de Gaza representa a devolução de apenas 1,3% da "Palestina histórica" [na época administrada pelos britânicos, onde atualmente está o Estado de Israel, que só foi criado em 1948] mandatária, cuja área total era de 27 mil quilômetros quadrados --dos quais a faixa de Gaza representa apenas 364 quilômetros quadrados.

3- O Estado de Israel mostrará ao mundo, através da mídia, como será penosa e traumatizante a retirada de seus 8.000 colonos da faixa de Gaza. Com isso, Sharon espera fazer a opinião pública esquecer que esses 8.000 colonos representam menos de 2% dos colonos ilegais assentados nos territórios palestinos ocupados, que hoje somam 440 mil e que estão especialmente instalados na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, cuja anexação não foi reconhecida por nenhum país do mundo, incluindo os Estados Unidos.

4 - Se o governo de Israel levar a bom termo a retirada das 1.800 habitações dos colonos na faixa de Gaza, precisamos lembrar que esse mesmo governo já construiu 6.500 unidades habitacionais adicionais nas colônias israelenses ilegais na Cisjordânia somente em 2005.

Há, em grande parte da opinião pública internacional, e em muitos círculos israelenses, um consenso que encara essa retirada de Gaza não como o início do processo de paz, mas como uma alternativa e escapatória desse processo. Para evitar que isso aconteça, a comunidade internacional, que se mostrou muito indulgente com Sharon, ao considerá-lo o mais "pragmático" da equipe atual de dirigentes israelenses, precisa se mobilizar e estimular o Quarteto formado pelos EUA, União Européia, Rússia e ONU --representando a comunidade internacional nesse processo--, a continuar monitorando e pressionando Israel para ir além do desengajamento da faixa de Gaza.

Parece que Sharon agirá da mesma forma que todos os líderes israelenses que o precederam, e para ganhar tempo, se utilizará do pretexto da necessidade de convocar eleições antecipadas sob a desculpa de reestruturar a política israelense, medida essa que consumirá pelo menos nove meses, congelando o processo de paz durante igual período.

Se a intenção de Israel é a de alcançar uma paz verdadeira com os palestinos, deve aderir a um processo político de negociações com a Autoridade Nacional Palestina, cujo desfecho deverá ser a sua retirada total de todos os territórios palestinos ocupados em 1967, inclusive Jerusalém Oriental, que representam apenas 22% da Palestina histórica, e negociar uma solução justa e humana, baseada na legitimidade internacional, para a questão dos refugiados palestinos.

Tudo isto fundamentado no princípio de que ocupar a propriedade de outros e viver sobre a miséria e privação do ocupado é uma condição inaceitável para os valores universais dos direitos humanos.

Hanna Yousef Emile Safieh é secretário-geral da Confederação Palestina da América Latina e Caribe

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