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23/04/2006
-
10h52
FABIANO MAISONNAVE
da Folha de S.Paulo, em La Paz
Principal articulador político de Evo Morales, o ministro da Presidência, Juan Ramon Quintana, atribui a onda de protestos a líderes sindicais corruptos e radicais e diz que as reformas estão atrasadas por causa da herança do Estado neoliberal.
Leia a entrevista concedida à Folha em seu gabinete, no Palácio Quemado, sede do governo (FM):
Folha - O que foi possível fazer e quais foram as dificuldades dos primeiros meses?
Juan Ramon Quintana - É um tempo muito curto, temos cinco anos de governo. Mas serve para identificar os obstáculos que este governo tem para cumprir suas metas. Em três meses, começamos a conhecer o funcionamento do Estado, as armadilhas neoliberais, os mecanismos para converter o Estado boliviano num capacho dos interesses oligárquicos internos e estrangeiros.
Folha - Os contratos firmados entre os governos anteriores e as multinacionais do gás são uma dessas armadilhas?
Quintana - Sim, obviamente, no campo dos hidrocarbonetos, há uma ingerência muito pesada. Foi construído um triângulo perverso entre as multinacionais, a Superintendência de Hidrocarbonetos e o Ministério de Hidrocarbonetos. Essa construção é um edifício sólido, coerente com interesses contrários à pátria.
Folha - Qual foi o papel da Petrobras nisso, já que é a principal empresa do setor?
Quintana - Não conheço o comportamento de cada uma das empresas, mas em geral há um comportamento quase semelhante.
Folha - Foi isso o que provocou o adiamento da chamada nacionalização?
Quintana - Estamos atrasando uns dias, talvez umas semanas, porque temos de obter informações, para termos um cenário muito claro dos efeitos da nacionalização. Na verdade, a nacionalização não está atrasada, nunca teve um dia. O que estamos fazendo é um trabalho rigoroso.
Folha - O governo esperava tantas manifestações aos três meses?
Quintana - Sim. Este é um governo atípico, dos movimentos sociais, e que não desfrutou um segundo da lua-de-mel. Alguns movimentos sociais têm se lançado de maneira implacável contra o governo. Compreendemos como se comportam historicamente. Basicamente, são os setores de transporte, saúde e educação. O setor de transportes vem chantageando todos os governos, desde as ditaduras.
Já as cúpulas dos sindicatos de saúde e educação são corruptas e se beneficiaram dos gastos reservados do Estado. Os governos corrompiam os dirigentes para frear protestos. Este governo não tem gastos reservados e nenhum interesse em corromper essas direções, que estão distantes de suas bases. O fracasso da paralisação geral (de sexta) é estrepitoso.
Funcionários da saúde dissolveram sua marcha em cinco minutos porque a povo jogou ovos e água.
E os comitês cívicos de Puerto Suárez e de Santa Cruz nos atacam porque há interesses vinculados a núcleos de poder locais, que hoje vêem na nacionalização e na luta contra a corrupção ameaças a seus interesses.
Folha - O Estado Maior do Povo não é uma tentativa de cooptação pelo governo, além de pregar o uso da violência?
Quintana - Os movimentos sociais têm construções e histórias distintas. Seria temerário pensar que todos são controlados pelo governo. Os professores não estão, os da saúde não estão. Mas há organizações com o governo, não clientelizadas, mas com voz própria, como os cocaleiros, os povos indígenas. O que o Estado Maior faz é criar um espaço democrático para apoiar o governo, mas também criticá-lo.
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Para ministro boliviano, culpa é da herança neoliberal
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da Folha de S.Paulo, em La Paz
Principal articulador político de Evo Morales, o ministro da Presidência, Juan Ramon Quintana, atribui a onda de protestos a líderes sindicais corruptos e radicais e diz que as reformas estão atrasadas por causa da herança do Estado neoliberal.
Leia a entrevista concedida à Folha em seu gabinete, no Palácio Quemado, sede do governo (FM):
Folha - O que foi possível fazer e quais foram as dificuldades dos primeiros meses?
Juan Ramon Quintana - É um tempo muito curto, temos cinco anos de governo. Mas serve para identificar os obstáculos que este governo tem para cumprir suas metas. Em três meses, começamos a conhecer o funcionamento do Estado, as armadilhas neoliberais, os mecanismos para converter o Estado boliviano num capacho dos interesses oligárquicos internos e estrangeiros.
Folha - Os contratos firmados entre os governos anteriores e as multinacionais do gás são uma dessas armadilhas?
Quintana - Sim, obviamente, no campo dos hidrocarbonetos, há uma ingerência muito pesada. Foi construído um triângulo perverso entre as multinacionais, a Superintendência de Hidrocarbonetos e o Ministério de Hidrocarbonetos. Essa construção é um edifício sólido, coerente com interesses contrários à pátria.
Folha - Qual foi o papel da Petrobras nisso, já que é a principal empresa do setor?
Quintana - Não conheço o comportamento de cada uma das empresas, mas em geral há um comportamento quase semelhante.
Folha - Foi isso o que provocou o adiamento da chamada nacionalização?
Quintana - Estamos atrasando uns dias, talvez umas semanas, porque temos de obter informações, para termos um cenário muito claro dos efeitos da nacionalização. Na verdade, a nacionalização não está atrasada, nunca teve um dia. O que estamos fazendo é um trabalho rigoroso.
Folha - O governo esperava tantas manifestações aos três meses?
Quintana - Sim. Este é um governo atípico, dos movimentos sociais, e que não desfrutou um segundo da lua-de-mel. Alguns movimentos sociais têm se lançado de maneira implacável contra o governo. Compreendemos como se comportam historicamente. Basicamente, são os setores de transporte, saúde e educação. O setor de transportes vem chantageando todos os governos, desde as ditaduras.
Já as cúpulas dos sindicatos de saúde e educação são corruptas e se beneficiaram dos gastos reservados do Estado. Os governos corrompiam os dirigentes para frear protestos. Este governo não tem gastos reservados e nenhum interesse em corromper essas direções, que estão distantes de suas bases. O fracasso da paralisação geral (de sexta) é estrepitoso.
Funcionários da saúde dissolveram sua marcha em cinco minutos porque a povo jogou ovos e água.
E os comitês cívicos de Puerto Suárez e de Santa Cruz nos atacam porque há interesses vinculados a núcleos de poder locais, que hoje vêem na nacionalização e na luta contra a corrupção ameaças a seus interesses.
Folha - O Estado Maior do Povo não é uma tentativa de cooptação pelo governo, além de pregar o uso da violência?
Quintana - Os movimentos sociais têm construções e histórias distintas. Seria temerário pensar que todos são controlados pelo governo. Os professores não estão, os da saúde não estão. Mas há organizações com o governo, não clientelizadas, mas com voz própria, como os cocaleiros, os povos indígenas. O que o Estado Maior faz é criar um espaço democrático para apoiar o governo, mas também criticá-lo.
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