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23/04/2006 - 10h53

Evo prova o próprio veneno, diz oposição

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FABIANO MAISONNAVE
da Folha de S.Paulo, em La Paz

Líder da bancada do partido Podemos, a segunda maior do Congresso, e principal força opositora, o deputado Fernando Mesmer diz que Evo Morales está seguindo a receita do colega venezuelano, Hugo Chávez, ao tentar aparelhar o Estado. A seguir, a entrevista concedida à Folha, em seu gabinete:

Folha - Como tem sido o governo Morales até agora?

Fernando Mesmer - Três meses é pouco tempo, mas permitem visualizar algumas características. E o que se pode dizer é que o Movimento ao Socialismo (MAS) não tem um plano de governo. Fez muitas ofertas eleitorais, superdimensionou as expectativas, em razão de uma campanha baseada em ofertas que não passavam de palavras de ordem: nacionalização dos hidrocarbonetos, anulação da lei contra o narcotráfico, anulação do decreto de livre mercado, entre outras coisas.
Nenhuma dessas promessas de campanha está sendo cumprida. O governo diz que é prisioneiro das leis neoliberais e que, por isso, precisa de uma Assembléia Constituinte [a eleição será em 2 de julho]. É demagogia. Com o poder do MAS no Parlamento, não precisa de uma Assembléia.

Folha - Por que o governo tem dificuldades em implantar a nacionalização de hidrocarbonetos?

Mesmer -
Não há uma linha clara. Se está diante dos movimentos sociais, oferece uma nacionalização confiscatória, radical, sem indenização. Mas, quando visita o Planalto, fala de uma nacionalização com segurança jurídica. Pelo que tem saído na imprensa, parece que é mais um ajuste à Lei de Hidrocarbonetos. Talvez mudanças negociadas com as multinacionais. Isso certamente dará mais tranqüilidade aos investidores externos, mas gerará problemas internos, porque o seu cavalo de batalha tem sido a nacionalização dos hidrocarbonetos.

Folha - As relações com as multinacionais não têm sido fáceis.

Mesmer -
A ação mais dura será com empresas pequenas, que não são brasileiras. Vão armar com essas um grande show pirotécnico, com invasões militares, mas são medidas diversionista.

Folha - Muitos na oposição acusam o governo de tentar incorporar o Estado por meio da Constituição, como teria feito Hugo Chávez. O sr. não acredita nessa tese?

Mesmer - O governo não tem plano de governo, mas estou absolutamente convencido de que tem um plano político muito claro, que é a incorporação do Estado nacional seguindo Chávez. Ele não tem o poder econômico de Chávez, não conseguiu desenhar uma Assembléia como queria. Mas precisava de dois terços dos votos, o que só pode ser assegurado por nós. Isso não significa que ele deixou de lado o chavismo: Chávez suprimiu o financiamento público para tirar o oxigênio da oposição. Morales fez o mesmo e ainda diminuiu o salário dos congressistas, porque o MAS tem outras fontes de financiamento. Além disso, reduzidos os salários, eles apresentam propostas imorais a vários parlamentares da oposição a apoios de outro tipo em troca de votar a favor do MAS.

Folha - Com relação ao aumento dos protestos apesar da alta popularidade, por que ocorre?

Mesmer - Morales está provando seu próprio veneno. Ele obteve uma grande votação, em parte porque conseguiu intimidar a população. Parte de sua campanha se baseou no fato de que "Tuto" Quiroga (o segundo candidato a presidente mais votado, de Podemos) não teria condições de conter os movimentos sociais, ao contrário do MAS. Hoje, a realidade mostra que não e me atrevo a fazer futurologia: o desgaste desse governo não virá da oposição, mas do assédio e da pressão dos movimentos sociais.

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