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07/05/2006 - 10h01

Descentralização dificulta combate à Al Qaeda, diz especialista

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DANIELA LORETO
da Folha Online

A ameaça do terrorismo global contra o mundo ocidental se evidenciou após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 contra o World Trade Center, em Nova York, considerado por analistas o ápice da ideologia da "jihad" global.

Se nas décadas de 70 e 80 grupos separatistas e terroristas agiam em seus próprios países, a partir da década de 80, surge a ideologia da guerra global contra os chamados "infiéis", valores do Ocidente e contra os EUA. A vertente --que ganhou força nos anos 90 e atingiu seu auge em 2001-- passou a ser representada pela rede terrorista Al Qaeda, de Osama bin Laden.

De acordo com Peter Demant, especialista em Oriente Médio da USP (Universidade de São Paulo) e autor de, entre outros, "O Mundo Muçulmano", é "difícil acreditar" que novos ataques terroristas contra alvos americanos e europeus não voltem a ocorrer, apesar de a rede terrorista Al Qaeda ter perdido força. "Al Qaeda está em declínio. Sua ideologia se disseminou por muitos grupos espalhados em muitos países e, por estar descentralizada, torna-se ainda mais difícil combatê-la."

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista concedida à Folha Online, por telefone:

Folha Online - Quais são as chances de novos ataques terroristas como os de 11 de Setembro atingirem EUA e Europa, a exemplo dos atentados de julho de 2004, em Madri, e 2005, em Londres?

Peter Demant - É muito difícil prever. Neste momento em que estamos conversando, há provavelmente grupos preparando novos ataques, mas eles não chegam aos jornais, por questões óbvias. No entanto, é importante para eles ter publicidade. Entre os fatores que podem propiciar novos ataques estão a radicalização da segunda e da terceira geração de imigrantes muçulmanos e ocidentais na Europa e o processo de conversão para o islã no mundo ocidental. Mas é preciso lembrar que grande parte dos muçulmanos são pessoas religiosas e pacíficas, que jamais se envolveriam em ataques terroristas. A maioria dos convertidos ao islã também são pessoas integradas ao mundo ocidental. Os extremistas que buscam a violência são uma minoria.

Folha Online - Mas o senhor diria que a ocorrência de novos atentados é provável?

Demant - Depois de 11 de Setembro, não aconteceram mais ataques do tipo nos EUA. O governo americano tomou medidas antiterror, mas ainda há muitas falhas na segurança, por isso, é difícil acreditar que tais ataques não irão mais acontecer. A motivação existe e o número de pessoas que se sente atraída por esse tipo de ideologia não diminui. Uma parcela minoritária, mas significativa, dos muçulmanos e ocidentais voltados para o terrorismo continua, e a tecnologia continua a existir. Por isso, ataques de grupos cada vez menores contra grupos cada vez maiores podem voltar a acontecer.

Folha Online - Recentemente, Bin Laden divulgou uma mensagem de áudio na qual critica o corte de recursos enviados pelos países ocidentais ao governo palestino do Hamas. Por que Bin Laden está se envolvendo tão diretamente na questão palestina?

Demant - A questão que deveria ser feita é por que Bin Laden demorou tanto para se voltar para os palestinos? É natural que Bin Laden se interesse pela questão palestina, já que em suas declarações ele fala em "judeus e cruzados"?. Ou seja, além de ser antiocidental, ele é anti-semita. Até este momento, a questão palestina era citada em suas declarações, mas não com tanto destaque. Isso acontece porque, estrategicamente, a Al Qaeda está em declínio. Sua ideologia se disseminou por grupos espalhados em muitos países e, por estar descentralizada, torna-se ainda mais difícil combatê-la. Falar dos palestinos é uma tentativa da Al Qaeda de ter destaque na mídia. Também se levanta a possibilidade de que células da Al Qaeda já estejam infiltradas em territórios palestinos, mas isto não está comprovado.

Folha Online - Como o senhor avalia a situação no Oriente Médio depois da vitória do Hamas nas eleições palestinas de 25 de janeiro?

Demant - O Hamas não quer abrir mão de sua ideologia, mas, ao mesmo tempo, busca o reconhecimento internacional. Isso força o governo Hamas a fazer uma "dança" diplomática absurda. O grupo apoiou, por exemplo, o mais recente ataque do Jihad Islâmico em Tel Aviv, mas rejeitou as declarações de Bin Laden a respeito do corte de recursos. É preciso levar em conta, também, se o grupo irá de fato receber a ajuda financeira prometida por países como o Irã. A economia palestina ainda é das mais fracas.

Folha Online - Quais são as possibilidades de um acordo de paz entre palestinos e israelenses? Um acordo está totalmente esquecido?

Demant - Neste momento, não vejo possibilidade de paz. Israel não irá negociar com o Hamas, que prega a sua destruição. Olmert [Ehud, premiê de Israel] já disse que pretende realizar mais retiradas, como a ocorrida no ano passado, e Israel já aceitou o Estado palestino. A questão em aberto seria saber quais as fronteiras que teria este Estado palestino. No entanto, o Hamas rejeita qualquer tipo de negociação pacífica e rejeita a idéia de qualquer acordo de paz com Israel. Pode ser que o Hamas se torne mais moderado, mas isso parece pouco provável.

Folha Online - E como Israel deve reagir à essa situação?

Demant - Israel manterá a pressão financeira. Dentro de Israel, a situação é ruim, mas não é tão ruim quanto três anos atrás, devido à construção do muro, que é uma solução questionável, mas que funciona. O número de ataques contra Israel é muito menor hoje do que há três anos.

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