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20/05/2006 - 09h21

Irã nuclear pode ser contido, afirma professor do MIT

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CLAUDIA ANTUNES
Colaboarção para a Folha de S.Paulo, de Cambridge (EUA)

Não há razão para acreditar que o Irã seria menos sensível do que as demais potências atômicas à dissuasão --o risco de ser varrido do mapa caso ataque com armas nucleares ou as repasse a grupos terroristas.

É o que afirma Barry Posen, professor de estratégia e doutrina militares do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) que há três meses publicou artigo no "New York Times" argumentando que seria mais factível conviver com um Irã nuclear do que com as conseqüências de uma guerra como a que vem sendo planejada pelo Pentágono.

"O Irã tem sua população concentrada em grandes cidades e isso o torna mais vulnerável. Se houver um ataque nuclear a duas dúzia de cidades, o país estará dizimado. Pode-se argumentar que essa preocupação não comove os iranianos. Mas isso é dizer que a liderança iraniana não se preocupou em chegar ao poder, não se preocupa com o futuro do país e nem com o futuro de sua religião", disse Posen à Folha. Leia os principais trechos da entrevista.

Folha - O caso do Irã significa o fim do Tratado de Não-Proliferação Nuclear?

Barry Posen
- O TNP ajuda os países que têm certeza de que não querem armas atômicas: lhes dá acesso à tecnologia nuclear, acena para os vizinhos suas intenções. O tratado não vai entrar em colapso porque um país que conseguiu tecnologia nuclear resolve abandoná-lo, o que é direito de todos os signatários. Os países que têm problemas sérios de segurança e querem armas nucleares nunca serão constrangidos pelo TNP. Índia, Israel e Paquistão conseguiram tecnologia fora do tratado. No caso do Irã, o tratado cumpriu seu função. Os especialistas estavam lá e deram o alarme.

Folha - O Irã nuclear é inevitável?

Posen
- Não sei. Há três maneiras de sair desse impasse: uma guerra; sanções econômicas, que não parecem sustentáveis; ou uma negociação que ofereça algo que eles querem, como admitir o acesso ao ciclo completo de enriquecimento do urânio e tentar limitar o número de centrífugas. Os iranianos dizem que querem dominar a tecnologia, nós concordamos com um programa não-militar em troca de inspeções intrusivas. Eles precisariam de mais tempo se quisessem aumentar a capacidade de enriquecimento. São opções além da possibilidade de simplesmente tolerar um Irã com armas nucleares. Considerando o padrão de nossa diplomacia e nossa posição e a diplomacia e a posição do Irã, os EUA vão ameaçar ir à guerra de fato e o Irã terá de decidir se quer lutar essa guerra. Suspeito que os iranianos não serão coagidos sem guerra e que nem a ameaça de guerra funcionará como coação. Se esse for o caso, teremos de ver como seria essa guerra.

Folha - O que o sr. imagina?

Posen
- Ninguém vai tentar controlar o país, como aconteceu no Iraque. Se acontecer, será uma grande guerra aérea, que atingirá tudo o que importa, mais do que a infra-estrutura industrial e científica. Há várias dezenas de alvos em estudo. É possível atacar dois ou três alvos críticos, dar uma pausa e esperar pelo recuo iraniano. Ou então pode-se bombardear um número maior de alvos, incluindo toda a infra-estrutura, dar uma pausa e esperar a rendição. Ou pode-se, à medida que os bombardeios se intensificam, destruir qualquer coisa que possa ser usada num contra-ataque, a Marinha iraniana, os sistemas de defesa antiaérea. Aí a guerra assume outra dimensão. E, como já se está fazendo tudo isso, pode-se também encontrar pessoas do governo e matá-las, por que não? Todas essas opções estão sendo discutidas, e é difícil dizer qual é a mais popular entre os que tomam decisões no governo Bush.

Folha - O Irã teria condições de contra-atacar militarmente?

Posen
- Há o risco de uma retaliação, talvez mísseis contra petroleiros, talvez contra a Arábia Saudita. Há risco de operações de sabotagem no Iraque, contra campos petrolíferos, estradas.

Folha - Um dos argumentos mais comuns dos EUA contra a convivência com um Irã nuclear é que não se pode confiar na racionalidade dos dirigentes iranianos e que não se sabe quem controla o gatilho nuclear. O sr. acredita que eles atacariam Israel, por exemplo?

Posen
- É difícil provar isso de uma maneira ou de outra. Temos uma história de países falando grosso sobre armas nucleares até obtê-las. Se você quiser encontrar argumentos para apoiar a posição de que eles são irracionais sempre poderemos mostrar declarações como as do presidente Ahmadinejad. Também pode-se dizer que ninguém está no controle porque não conhecemos bem a política iraniana, não temos muitos espiões lá. O Irã tem sua população concentrada em grandes cidades e isso o torna mais vulnerável. Se houver um ataque nuclear a duas dúzia de cidades, o país estará dizimado. Você pode dizer que essa preocupação não comove os iranianos. Mas dizer isso é dizer que a liderança iraniana não se preocupou em chegar ao poder, não se preocupa com o futuro do país e nem com o futuro de sua religião.

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