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21/05/2006 - 09h31

Ícones ocidentais convivem com islã em rua comercial de Teerã

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SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo

Sony. Bill Clinton. Coca-Cola. Brad Pitt. Geladeira de aço escovado e porta dupla.

Para o ocidental com pouco tempo e grande vontade de entender o momento pelo qual o país atravessa, subir a pé a rua Shariati, no sentido sul-norte de Teerã, em direção aos picos nevados de Alborz, pode ser revelador. Aos poucos, a velha parte da cidade, com seus bazares milenares e casas de chá centenárias, vai ficando para trás e dando lugar a construções mais novas.

Numa das primeiras, está a livraria Darinoush. Dentro, os suspeitos de sempre. A vendedora explica que "O Zahir", de Paulo Coelho, é o livro mais vendido atualmente, a US$ 0,10 o exemplar. Tem mais de vinte versões, apenas uma delas rendendo direitos autorais ao autor --o Irã não respeita a Convenção de Berna.

Outro sucesso são os livros de Oriana Fallaci, italiana que vestiu o chador para ser a primeira mulher a entrevistar o aiatolá Khomeini (1900-1989), referência no jornalismo mundial até abraçar a causa do anti-semitismo, na velhice. E os CDs de Yusuf Islam, um dia conhecido como Cat Stevens, hoje seguidor do islamismo.

Tudo já sabido, mas o que intriga é o companheiro de estante dessa turma. Cabelos nevados, sorriso inconfundível... É Bill Clinton, que ocupava o lugar de George W. Bush na Casa Branca até 2000, o mesmo Bush que é unanimidade local de impopularidade. Pois a Darinoush vende "Minha Vida", biografia do ex-presidente.

Mais adiante, outra concentração de gente. É o cinema local, que exibe três filmes iranianos mas também "O Mercador de Veneza", versão de 2004 com Al Pacino, no cartaz pintado à mão, como as antigas salas do centro de São Paulo. Ao lado, o 21 Century Shopping, em inglês mesmo, oferece os últimos títulos de DVD.

"Ainda não recebemos "O Código da Vinci", mas é questão de semanas até a censura ter a cópia, liberar com cortes e exibirmos aqui, para depois vendermos o DVD", explica à Folha o gerente, Parham Zonobi.

Uma olhada pelas vitrines revela o último lançamento em tela de cristal líquido da Sony e uma geladeira com porta dupla de aço escovado da Daewoo. Se a classe média iraniana pretende ir ao paraíso do consumismo, a primeira parada será aqui, nesse bairro conhecido como Gholak (cultura).

A rua leva o nome de Ali Shariati (1933-1977), sociólogo iraniano que é um dos nomes pré-revolucionários mais reverenciados pelo atual regime, um utópico islâmico elogiado por Jean-Paul Sartre que foi perseguido e preso pelo xá. Seu nome aparece em frente a um outdoor móvel que anuncia as novas coleções das grifes Hugo Boss, Ermenegildo Zegna e Dolce & Gabbana.

Mesmo contraste se dá numa das principais redes de fast-food da cidade, a Farsi Foods. Famílias fazem fila para levar os espetinhos de frango e o arroz feito à maneira iraniana. Atrás dos caixas, há um tapete bordado com uma passagem do Corão. Abaixo do quadro, uma foto do aiatolá Khomeini, fora de foco, e do atual líder religioso, o aiatolá Khamenei, em primeiro plano. À esquerda, as portas de uma geladeira com o fundo vermelho e o logo branco inconfundíveis da Coca-Cola não param fechadas.

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