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04/06/2006 - 10h35

Peruanos votam hoje em "mal menor"

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FABIANO MAISONNAVE
Enviado especial da Folha de S.Paulo a Lima

Uma das personalidades peruanas mais respeitadas por sua longa defesa da democracia, o ex-presidente da Comissão de Verdade e Reconciliação (CVR), Salomón Lerner, 62, tomou uma difícil decisão na semana passada: entre escolher o ex-presidente Alan García e o tenente-coronel reformado Ollanta Humala, optou por anular o seu voto hoje.

"Do ponto de vista da ética individual, anular é uma opção totalmente justificável. Mas é preciso pensar também no contexto social. Se esses são os candidatos, é preciso escolher um para que o eleito tenha algum respaldo e possa governar. Só que isso tem os seus limites", disse um angustiado Lerner à Folha. "Tenho dado voltas sobre o assunto, e a coisa não é clara, nem para mim nem para muitos peruanos. Mais da metade dos eleitores não está contente com nenhum deles."

A decisão de Lerner teve idas e vindas --há apenas oito dias, ele havia declarado voto em García. O anúncio lhe custou duras críticas, já que uma parte significativa das 70 mil mortes e das graves violações aos direitos humanos identificadas pela CVR durante a guerra contra o grupo terrorista Sendero Luminoso ocorreu no governo García (1985-1990).

Na quinta-feira, em artigo, Lerner voltou atrás e decidiu pelo voto nulo. "Há um passado de García terrível, do qual ele não tomou suficiente distância, não pediu de uma maneira rotunda perdão por um governo tão ruim", declarou.

Sobre Humala, Lerner diz que, além de ter atuado em zonas de emergência onde houve casos recorrentes de abuso militar, ele vê uma "vocação autoritária, que se uniu a personagens duvidosos, o que faz pouco plausível a idéia de que fará um governo consistente".

Lerner não está só. Mesmo tendo sido os mais votados no primeiro turno, Humala e García foram também os campeões em rejeição, com taxas que variavam de 30% a 40%.

Brancos e nulos

Embora as últimas pesquisas projetem uma taxa de votos nulos e brancos em torno de 15% --não muito longe da média histórica--, boa parte dos eleitores tem justificado sua escolha em favor do "mal menor", como definiu recentemente o escritor Mario Vargas Llosa. Ele mesmo anunciou seu voto em García, apesar de chamá-lo de fascista no passado.

Não faltam motivos para deixar de votar em García, cujo governo foi marcado pelo desemprego, pela hiperinflação, pelo desabastecimento, pela corrupção, pela explosão do narcotráfico e pela violência do Sendero Luminoso. Os peruanos mais pobres não se esquecem da escassez e do racionamento, com longas filas para comprar produtos como pão e açúcar.

Já os limenhos sofreram com a explosão de violência: a capital peruana, até então distante do conflito entre senderistas e as forças do Estado, passou a conviver com uma rotina de carros-bombas e enfrentamentos entre os dois lados.

As razões evocadas para não votar em Humala também não são poucas. Conhecido no país depois de encabeçar um levante militar, em 2000, Ele foi adepto do movimento fundado por seu pai que prega a supremacia da raça indígena.

Humala sofreu várias acusações com relação a abusos de direitos humanos quando combatia o Sendero. Na reta final, as declarações grotescas do seu aliado Hugo Chávez contra García e o presidente Alejandro Toledo se viraram contra ele.

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