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11/09/2006
-
15h20
da Folha Online
O ex-ditador Saddam Hussein afirmou nesta segunda-feira que o Iraque não deve "sentir culpa" pelo genocídio contra curdos cometido na década de 80. O processo no qual Saddam e outros 7 réus são acusados do crime foi retomado hoje no Iraque.
"Minha mensagem ao povo iraquiano é que eles não devem sofrer de culpa por terem matado os curdos", disse Saddam pouco depois de o processo ser adiado para amanhã.
O julgamento foi retomado hoje após três semanas de pausa. O reinício coincidiu com o 5º aniversário dos ataques terroristas da Al Qaeda contra os EUA, em 11 de setembro de 2001.
Recentemente, um relatório do comitê do Senado americano indicou que não há ligações entre a rede terrorista e Saddam Hussein, apesar deste argumento ter sido utilizado, em 2003, para justificar a invasão do Iraque.
Saddam acusou testemunhas curdas de deporem contra ele devido a sectarismo e racismo. "Todas as testemunhas disseram ter sido oprimidas por serem curdas. Elas tentam criar tensões entre o povo iraquiano. Eles tentam criar divisão entre curdos e árabes", afirmou.
O ex-ditador e outros sete réus-- entre eles seu primo Ali al Majid, conhecido como "Ali, o Químico"-- são julgados pela Operação Anfal, campanha contra os curdos realizada em áreas da fronteira com o Irã na década de 80. Segundo a promotoria, cerca de 180 mil morreram na ação.
Durante a audiência de hoje, Katreen Elias Mikhail, uma curda de 56 anos e ex-combatente da milícia, afirmou ter visto quatro aviões iraquianos lançarem uma onda de bombas em 5 de junho de 1987 na cidade de Qalizewa, obrigando a população a se refugiar em abrigos.
"Eu senti um cheiro forte e estranho", afirmou ela à corte. Mikhail relata ter ficado presa em um abrigo subterrâneo com o amigo Um Ali e dezenas de outras pessoas. "As pessoas caíam no chão. Elas vomitavam e seus olhos estavam vendados. Não conseguíamos ver nada".
"Estávamos todos com medo", disse ela. "Foi a primeira vez que vimos bombas caíndo sobre nossas cabeças". Sentada no banco das testemunhas, ela disse que uma amiga lhe disse que "toda a cidade estava sendo atingida por armas químicas".
O chefe da equipe de defesa de Saddam, Khalil al Dulaimi, não esteve presente na sessão, mas advogados de outros quatro réus participaram da audiência.
Veredicto
Saddam ainda aguarda pelo veredicto de um segundo processo contra ele --um julgamento que já dura nove meses a respeito das mortes de 148 xiitas em Dujail, após uma suposta tentativa de assassinato contra Saddam. Ele e os outros sete réus podem ser condenados à morte.
O novo processo, que teve início em agosto, também deve levar meses. A campanha contra os curdos, realizada entre 1987 e 1988, tinha por objetivo reprimir a tentativa de independência e a retirada de todos os curdos da fronteira norte do Iraque. Saddam acusou os curdos de ajudarem o Irã na guerra contra o Iraque.
Segundo sobreviventes, muitas vilas curdas foram arrasadas e homens desapareceram.
O julgamento não inclui, no entanto, um ataque a gás em Halabja, em março de 1988, que matou cerca de 5.000 curdos. O ataque deve ser julgado separadamente pelo Alto Tribunal Penal.
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O ex-ditador Saddam Hussein afirmou nesta segunda-feira que o Iraque não deve "sentir culpa" pelo genocídio contra curdos cometido na década de 80. O processo no qual Saddam e outros 7 réus são acusados do crime foi retomado hoje no Iraque.
"Minha mensagem ao povo iraquiano é que eles não devem sofrer de culpa por terem matado os curdos", disse Saddam pouco depois de o processo ser adiado para amanhã.
O julgamento foi retomado hoje após três semanas de pausa. O reinício coincidiu com o 5º aniversário dos ataques terroristas da Al Qaeda contra os EUA, em 11 de setembro de 2001.
Reuters |
O ex-ditador Saddam Hussein em audiência no Iraque |
Saddam acusou testemunhas curdas de deporem contra ele devido a sectarismo e racismo. "Todas as testemunhas disseram ter sido oprimidas por serem curdas. Elas tentam criar tensões entre o povo iraquiano. Eles tentam criar divisão entre curdos e árabes", afirmou.
O ex-ditador e outros sete réus-- entre eles seu primo Ali al Majid, conhecido como "Ali, o Químico"-- são julgados pela Operação Anfal, campanha contra os curdos realizada em áreas da fronteira com o Irã na década de 80. Segundo a promotoria, cerca de 180 mil morreram na ação.
Durante a audiência de hoje, Katreen Elias Mikhail, uma curda de 56 anos e ex-combatente da milícia, afirmou ter visto quatro aviões iraquianos lançarem uma onda de bombas em 5 de junho de 1987 na cidade de Qalizewa, obrigando a população a se refugiar em abrigos.
"Eu senti um cheiro forte e estranho", afirmou ela à corte. Mikhail relata ter ficado presa em um abrigo subterrâneo com o amigo Um Ali e dezenas de outras pessoas. "As pessoas caíam no chão. Elas vomitavam e seus olhos estavam vendados. Não conseguíamos ver nada".
"Estávamos todos com medo", disse ela. "Foi a primeira vez que vimos bombas caíndo sobre nossas cabeças". Sentada no banco das testemunhas, ela disse que uma amiga lhe disse que "toda a cidade estava sendo atingida por armas químicas".
O chefe da equipe de defesa de Saddam, Khalil al Dulaimi, não esteve presente na sessão, mas advogados de outros quatro réus participaram da audiência.
Veredicto
Saddam ainda aguarda pelo veredicto de um segundo processo contra ele --um julgamento que já dura nove meses a respeito das mortes de 148 xiitas em Dujail, após uma suposta tentativa de assassinato contra Saddam. Ele e os outros sete réus podem ser condenados à morte.
O novo processo, que teve início em agosto, também deve levar meses. A campanha contra os curdos, realizada entre 1987 e 1988, tinha por objetivo reprimir a tentativa de independência e a retirada de todos os curdos da fronteira norte do Iraque. Saddam acusou os curdos de ajudarem o Irã na guerra contra o Iraque.
Segundo sobreviventes, muitas vilas curdas foram arrasadas e homens desapareceram.
O julgamento não inclui, no entanto, um ataque a gás em Halabja, em março de 1988, que matou cerca de 5.000 curdos. O ataque deve ser julgado separadamente pelo Alto Tribunal Penal.
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