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Marcelo Coelho
  15 de setembro
  Bicadas
 
   
A “crise” entre o governo federal e Itamar Franco me parece um episódio tão ridículo, que discussões em torno de princípios jurídicos (o papel constitucional do Exército; a distinção entre público e privado) talvez lhe confiram uma gravidade que não merece ter.

Certamente, a fazenda que o MST ameaçou invadir é uma propriedade privada; nem está em nome de Fernando Henrique. Então não há como mobilizar tropas federais para protegê-la. Mas fica evidente que o MST só apareceu por lá --e não é a primeira vez-- porque visa a atingir com isto a figura do presidente. O intuito de provocação política é irritantemente óbvio, e a aposta num confronto, embora não se tenha levado a cabo, não me parece excluída do horizonte do MST.

Seja como for, tudo até aqui se explica por uma questão de tática política do movimento. O que não dá para entender de um ponto de vista exclusivamente político é a atitude de Itamar Franco.

Acho muito difícil que ele aumente suas chances como candidato à Presidência com isso que acertadamente FHC chamou de “bazófia”. Não se qualifica como opositor ao governo desse modo; surge apenas como um governante imprevisível e estourado.

Os conflitos que periodicamente desencadeia cabem ser analisados de uma perspectiva mais psicológica do que política.

Primeiro, foi a moratória. Agora, o ultimato militar. Nos dois casos, surge a mesma fantasia --a de ser governante de um país autônomo, com sua própria política externa e suas próprias forças armadas.

É como se Itamar sentisse que o cargo de presidente da República lhe pertence legitimamente. Fernando Henrique teria usurpado de Itamar o Plano Real; reelege-se presidente; joga Itamar Franco na obscuridade de alguém que por acaso, por interinidade, ocupou o Planalto de forma meio atrapalhada. Enquanto isso, a eleição de FHC se deu como que por direito divino. “Era” para Fernando Henrique ser presidente. “Não era” para Itamar ser presidente. Natural que o atual governador de Minas se revolte, se sinta injustiçado.

Além disso, as convicções nacionalistas de Itamar Franco são de fato agredidas pelo cosmopolitismo cardosiano. FHC, como presidente, estaria “traindo” a nossa autonomia nacional. Mais um ponto que fortalece a idéia de fazer de Minas uma nação independente dentro do Estado brasileiro: aqui, não nos rendemos.
Resistimos: e, de fato, a carreira de Itamar Franco se marcou pela resistência ao regime militar. Só que foi vice de Collor também. Como ficamos? É como se o caça supersônico de Alagoas tivesse tido, como “pendant” de credibilidade, o pequeno Fusca da classe média democrática.

Quando quis que a Volkswagen voltasse a fabricar o fusquinha, Itamar talvez estivesse pensando em si mesmo; ainda aqui, é de uma “injustiça” que se trata. Como é que aposentaram um carro tão simpático, tão sincero, tão autêntico?

O ressentimento do povinho se volta contra as vaidades do grão-senhor, o pequeno galo branco antipatiza com o tucanão vistoso, o homem de Juiz de Fora invoca a lei contra dom Fernando dos Buritis. Tudo se resume a isso, enquanto o MST, por sua vez, aguarda os tempos da colheita.

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