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15 de setembro |
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Bicadas
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A
crise entre o governo federal e Itamar Franco me parece
um episódio tão ridículo, que discussões
em torno de princípios jurídicos (o papel constitucional
do Exército; a distinção entre público
e privado) talvez lhe confiram uma gravidade que não merece
ter.
Certamente, a fazenda que o MST ameaçou invadir é uma
propriedade privada; nem está em nome de Fernando Henrique.
Então não há como mobilizar tropas federais para
protegê-la. Mas fica evidente que o MST só apareceu por
lá --e não é a primeira vez-- porque visa a atingir
com isto a figura do presidente. O intuito de provocação
política é irritantemente óbvio, e a aposta num
confronto, embora não se tenha levado a cabo, não me
parece excluída do horizonte do MST.
Seja como for, tudo até aqui se explica por uma questão
de tática política do movimento. O que não dá
para entender de um ponto de vista exclusivamente político
é a atitude de Itamar Franco.
Acho muito difícil que ele aumente suas chances como candidato
à Presidência com isso que acertadamente FHC chamou de
bazófia. Não se qualifica como opositor
ao governo desse modo; surge apenas como um governante imprevisível
e estourado.
Os conflitos que periodicamente desencadeia cabem ser analisados de
uma perspectiva mais psicológica do que política.
Primeiro, foi a moratória. Agora, o ultimato militar. Nos dois
casos, surge a mesma fantasia --a de ser governante de um país
autônomo, com sua própria política externa e suas
próprias forças armadas.
É como se Itamar sentisse que o cargo de presidente da República
lhe pertence legitimamente. Fernando Henrique teria usurpado de Itamar
o Plano Real; reelege-se presidente; joga Itamar Franco na obscuridade
de alguém que por acaso, por interinidade, ocupou o Planalto
de forma meio atrapalhada. Enquanto isso, a eleição
de FHC se deu como que por direito divino. Era para Fernando
Henrique ser presidente. Não era para Itamar ser
presidente. Natural que o atual governador de Minas se revolte, se
sinta injustiçado.
Além disso, as convicções nacionalistas de Itamar
Franco são de fato agredidas pelo cosmopolitismo cardosiano.
FHC, como presidente, estaria traindo a nossa autonomia
nacional. Mais um ponto que fortalece a idéia de fazer de Minas
uma nação independente dentro do Estado brasileiro:
aqui, não nos rendemos.
Resistimos: e, de fato, a carreira de Itamar Franco se marcou pela
resistência ao regime militar. Só que foi vice de Collor
também. Como ficamos? É como se o caça supersônico
de Alagoas tivesse tido, como pendant de credibilidade,
o pequeno Fusca da classe média democrática.
Quando quis que a Volkswagen voltasse a fabricar o fusquinha, Itamar
talvez estivesse pensando em si mesmo; ainda aqui, é de uma
injustiça que se trata. Como é que aposentaram
um carro tão simpático, tão sincero, tão
autêntico?
O ressentimento do povinho se volta contra as vaidades do grão-senhor,
o pequeno galo branco antipatiza com o tucanão vistoso, o homem
de Juiz de Fora invoca a lei contra dom Fernando dos Buritis. Tudo
se resume a isso, enquanto o MST, por sua vez, aguarda os tempos da
colheita.
Leia colunas anteriores
08/09/2000 - Tudo
no lugar
1º/09/2000 - Mata o homem
25/08/2000 - O voto vândalo
18/08/2000 - Que droga!
11/08/2000 - Suspeitas para todos os
gostos
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