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A
humanidade ficará devendo à Internet muito mais do
que pensa a vã filosofia dos internautas de todos os tamanhos
e feitios. Já comentei, em crônicas anteriores, que
devido aos e-mails, nunca se escreveu tanto - nunca se comunicou
tanto, até mesmo de forma excessiva. Não vem ao caso
discutir o valor desta comunicação. O importante é
que, após duas gerações inarticuladas, limitadas
ao "oi", ao "legal", ao "tô aí",
todos estão preocupados em dizer alguma coisa, em entender
mais, em ser mais.
Tomemos como exemplo os grafites, que há uns 20 anos foram
elevados à suprema manifestação do espírito
da juventude. Cidades inteiras ficaram e continuam emporcalhadas
com ideogramas e rabiscos incompreensíveis aos não-iniciados.
Esteticamente, uma droga. Mas era o que ficava à mão
de adolescentes que desejavam expressar alguma coisa, fosse o que
fosse.
No auge do grafitismo, não havia ainda a telinha do computador.
Qualquer parede, qualquer muro, qualquer superfície servia
para a expressão mais primitiva, que no fundo significava
apenas que alguém estivera ali e conseguira fazer aquilo.
Linguagem mais do que fechada, e pior do que fechada, inútil.
Além de visualmente deplorável.
Com a internet, o mesmo jovem que comprava spray e arriscava levar
um tombo ao tentar sujar a parte mais alta de uma parede, descobriu
que com menos esforço e com mais amplitude podia gravar e
grafar suas mensagens, dar seus recados.
Daí a realidade de hoje: nunca se escreveu tanto. Gente que
tinha horror à caneta e ao papel, que achava a letra, a frase,
o pensamento, expressões da caretice universal, começa
a aderir ao sujeito, ao verbo e aos complementos, aceitando a linguagem
literária como o diferencial básico entre o homem
e o animal.
Leia colunas anteriores
05/09/2000 - Salto
em rede
29/08/2000 - Mundo
infanto-juvenil
22/08/2000
- Pró
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15/08/2000 - Amor Virtual
08/08/2000 - O anão zangado
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