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Carlos Heitor Cony
cony@uol.com.br
  12 de setembro
  O Homem e o animal
   
   

A humanidade ficará devendo à Internet muito mais do que pensa a vã filosofia dos internautas de todos os tamanhos e feitios. Já comentei, em crônicas anteriores, que devido aos e-mails, nunca se escreveu tanto - nunca se comunicou tanto, até mesmo de forma excessiva. Não vem ao caso discutir o valor desta comunicação. O importante é que, após duas gerações inarticuladas, limitadas ao "oi", ao "legal", ao "tô aí", todos estão preocupados em dizer alguma coisa, em entender mais, em ser mais.

Tomemos como exemplo os grafites, que há uns 20 anos foram elevados à suprema manifestação do espírito da juventude. Cidades inteiras ficaram e continuam emporcalhadas com ideogramas e rabiscos incompreensíveis aos não-iniciados. Esteticamente, uma droga. Mas era o que ficava à mão de adolescentes que desejavam expressar alguma coisa, fosse o que fosse.

No auge do grafitismo, não havia ainda a telinha do computador. Qualquer parede, qualquer muro, qualquer superfície servia para a expressão mais primitiva, que no fundo significava apenas que alguém estivera ali e conseguira fazer aquilo. Linguagem mais do que fechada, e pior do que fechada, inútil. Além de visualmente deplorável.

Com a internet, o mesmo jovem que comprava spray e arriscava levar um tombo ao tentar sujar a parte mais alta de uma parede, descobriu que com menos esforço e com mais amplitude podia gravar e grafar suas mensagens, dar seus recados.

Daí a realidade de hoje: nunca se escreveu tanto. Gente que tinha horror à caneta e ao papel, que achava a letra, a frase, o pensamento, expressões da caretice universal, começa a aderir ao sujeito, ao verbo e aos complementos, aceitando a linguagem literária como o diferencial básico entre o homem e o animal.

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