O
presidente Fernando Henrique Cardoso viajou para o México,
onde assistirá à posse do colega Vicente Fox, com uma
preocupação na bagagem: a crise das eleições
para as presidências da Câmara e do Senado.
Está
pintando algo interessante: uma aliança tácita entre
governo, PSDB, PMDB e setores do PFL para impor uma derrota ao principal
líder pefelista, o senador Antonio Carlos Magalhães
(BA), aliado que mais inferniza a vida de FHC.
O assunto
não parece chato. É chato. Mas tem importância
fundamental até para o cidadão que detesta política.
Essa disputa se transformou no maior conflito da base do governo.
Está paralisando o Congresso, especialmente a Câmara,
e tem potencial para implodir a estabilidade política dos
dois últimos anos do mandato de FHC.
Alarmismo?
Não. FHC já deixou claro a interlocutores que está
preocupado, mas que só interferirá se ACM retirar
o veto à candidatura do peemedebista Jader Barbalho (PA)
a presidente do Senado.
Se
ACM se mantiver irredutível, o presidente não pedirá
que o tucano Aécio Neves (MG) desista de concorrer a presidente
da Câmara. O curioso é que FHC está até
gostando dessa possibilidade. E, pode parecer estranho, alguns caciques
pefelistas também.
Publicamente,
esses pefelistas jamais vão admitir, mas acham que ACM, ao
criar a crise vetando Jader, levou o partido a travar uma batalha
inglória e perdida. Agora, portanto, que seja derrotado e
assuma todo o ônus.
Já
tem político dizendo a Inocêncio Oliveira (PFL-PE),
que sonha presidir a Câmara, que talvez seja melhor ele se
retirar da disputa e deixar a cadeira para Aécio. Uma derrota
acachapante do PFL seria debitada toda na conta de ACM, que ficaria
uma fera mas teria de engolir. O partido, oficialmente, está
lhe dando apoio.
Os
outros caciques do PFL, como o senador catarinense e presidente
da sigla, Jorge Bornhausen, e o vice-presidente da República,
Marco Maciel, já transmitiram ao PMDB, ao PMDB e a FHC que
a batalha de ACM não é a deles.
Ou
seja, estão prontos para serem compensados em uma eventual
reforma ministerial. Se esse cenário se concretizar, PMDB
e PSDB consolidam-se como os dois partidos do núcleo da aliança,
jogam o PFL para uma terceira posição e impõem
a mais importante derrota de ACM desde que ele defendeu Collor contra
o impeachment em 92.
ACM
enfraquecido teria menos poder de fogo na hora da definição
para a sucessão presidencial de 2002. O tucano Tasso Jereissati,
governador do Ceará, seria prejudicado com isso, pois ACM
é seu grande defensor.
E José
Serra, ministro da Saúde, amarraria de vez o apoio do PMDB
a seu sonho presidencial e ainda teria chance de obter o apoio da
outra fatia do PFL. ACM detesta Serra e promete bombardeá-lo.
Como
ACM é uma raposa, talvez já tenha visto o tamanho
da armadilha que foi montada para pegá-lo.
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