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  12 de maio
  Genoma demais e...
 

A corrida pela decifração do genoma humano (ou seja, a coleção de genes da espécie humana) está turbinando os ciclos de publicação científica, em geral obedientes ao ritmo de semanas, ou meses. Na quinta-feira da semana passada, jornalistas de ciência do mundo inteiro receberam aviso incomum da revista britânica "Nature": não apenas estava antecipando a notícia do sequenciamento (leitura) do cromossomo 21, que aparecerá só na edição do dia 18, como ainda adiantava o tradicional embargo noticioso da quarta para a segunda-feira.
O resultado é que o público recebeu com nove dias de antecedência uma notícia que só vai ganhar existência material, preto-no-branco (melhor dizendo, tinta-no-papel) semana que vem. Na Internet, afinal, o material (artigo original e comentário) está disponível desde terça passada. Normalmente, os jornalistas credenciados pela "Nature" são orientados a publicar reportagens baseadas na revista somente no dia em que a edição impressa começa a circular, sempre às quintas.
Em se tratando de um cromossomo relacionado com a relativamente comum síndrome de Down, parece apropriado não reter a informação por muito tempo. Parece, apenas. Em primeiro lugar, nem o público nem os cientistas ganham coisa alguma com esses nove dias (OK, tampouco perdem). Nada será curado ou resolvido com base nessas informações do 21, nos próximos meses ou mesmo anos.
A razão mais provável terá sido a expectativa de que a empresa Celera , concorrente do consórcio público internacional do Projeto Genoma Humano (PGH), anunciasse ainda esta semana a conclusão do sequenciamento de todos os 23 cromossomos da espécie (o PGH, até agora, completou os dois menores, de números 21 e 22, e promete apresentar um rascunho de 85% do genoma no mês que vem).A previsão sobre o anúncio da Celera, muito cuidadosa, foi feita domingo passado em reportagem do jornal "The New York Times", que também dava conta das negociações da Celera com a principal concorrente da "Nature", sua congênere norte-americana "Science". Adiantar a publicação do 21, assim, seria uma maneira de eclipsar o brilho da vitória da Celera na corrida.
Até a entrega desta coluna, tal anúncio ainda não havia sido feito.

... genes de menos

Nessa briga de cachorros grandes por prestígio científico e editorial (além de futuros lucros com patentes), um aspecto genético importante poderia até passar despercebido. Os pesquisadores japoneses e alemães que decifraram os 33,8 milhões de letras A, C, G e T do cromossomo 21 encontraram apenas 225 genes (grupos de milhares de letras que contêm informação). Mais de 500 eram esperados, por analogia com o vizinho 22, que tem tamanho semelhante, mas abriga 545 genes.
Isso quer dizer que a maior parte das letras do cromossomo 21 não faz sentido para os geneticistas. Não, pelo menos, dentro do que eles consideram ser a função do código genético –informar à célula receitas de proteínas de que ela necessite. Como bons reducionistas, os pesquisadores acham que essas sequências sem função que possam reconhecer são "lixo" (ou "junk"). Mas também ainda não foram capazes de explicar por que tanto lixo se acumulou ao longo da evolução.
Por ora, essa carência de genes no 21 sugere que podem ser exageradas as estimativas de que existam de 70 mil a 140 mil genes (e portanto quantidade equivalente de proteínas) no repertório da espécie. Se todos os outros 21 cromossomos seguirem o padrão de exuberância irracional do 21, mais provável é que seres humanos só precisem de uns 40 mil genes para se tornar o que são. Leia reportagem de Isabel Gerhardt na Folha sobre essa incógnita.

Site da semana

Como o assunto da semana é genética, é oportuno dar uma olhada na GeneLetter , que trata das últimas novidades nesse campo e de suas implicações éticas, sociais e legais. Não conte com uma página para iniciantes, mas o nível está longe de ser incompreensivelmente técnico. Esta semana, a newsletter trazia uma entrevista esclarecedora com o geneticista Charles Cantor sobre as lacunas e erros do sequenciamento do genoma humano feito pela empresa Celera.

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