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Nos anos 70, a teoria sociobiológica pretendia explicar o comportamento humano por causas biológicas e genéticas, como "o gene da agressividade"; seus expoentes foram Edward O. Wilson e Richard Dawkins
O Ipam criou uma cartilha ensinando regras de segurança para queimadas e Amigos da Terra ajuda a criar acordos por município para disciplinar e coibir a prática
Se forem asfaltadas rodovias como a Cuiabá-Santarém, por exemplo, as ONGs acreditam que o acesso facilitado de colonos e madeireiros pode levar à destruição de até 180 mil km2 de florestas
Quem é mais feroz, ianomâmis ou antropólogos?
Ormuzd Alves/ Folha Imagem
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O ianomâni Davi Kopenawa
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No caso do rififi antropológico desencadeado pelo livro "Darkness in El Dorado", do jornalista americano Patrick Tierney, não se pode pedir para esperar a poeira baixar -ela nem levantou. O livro ainda não saiu. Mas é tanta a sujeira jogada no ventilador da questão ianomâmi que está respingando aos montes pela Internet.
Em poucas palavras, Tierney acusa seu conterrâneo e antropólogo Napoleon Chagnon -que já não gozava de boa fama entre seus pares, digamos, à esquerda- de manipular ianomâmis da Venezuela (há 12 mil deles também no Brasil) para provar teses sobre a violência humana de forte teor sociobiológico.
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O mal-estar com Chagnon data de seu livro "O Povo Feroz" (1968),
um retrato da etnia que se baseou na sua convivência de anos com
os ianomâmis e alguns personagens duvidosos da vida venezuelana
(e que se encontra num CD-ROM
recém-lançado). Na virada dos anos 80 para os 90, andou pelo Brasil
e ganhou espaço na imprensa para falar mal da outra turma de antropólogos
e de missionários na Amazônia.
Tudo indica que o livro de Tierney é um novo lance nessa disputa
entre "direita" e "esquerda" da antropologia norte-americana.
Por essa razão, deve ser tomado com alguma reserva -quando sair
(por ora, você pode ler trechos
publicados pela Folha, acompanhados de reportagem,
e texto de David
Miller na newsletter "The Chronicle of Higher Education").
Entre as acusações mais graves do livro está a associação de Chagnon com o geneticista James Neel, que teria aplicado em ianomâmis uma vacina anti-sarampo suspeita de ser o rastilho de uma epidemia. Na obra inédita de Tierney, é pintado como a quintessência do vilão, oriundo da Comissão de Energia Atômica e seus obscuros experimentos com efeitos de radiação em humanos.
Neel, que morreu em fevereiro, foi enfaticamente defendido esta
semana por uma dos maiores geneticistas brasileiros e seu colaborador
no Brasil, Francisco Salzano, como se pode ler em reportagem de
Claudio
Angelo na Folha.
Ou Tierney e Salzano não estão falando da mesma pessoa, ou alguém foi enganado nessa história.
Mais Amazônia-1
Há bons indícios de que estão diminuindo as queimadas na Amazônia,
apesar de ser este um ano eleitoral e de certo reaquecimento na
economia (tradicionais combustíveis conjunturais das coivaras).
Segundo reportagem de Thomas
Traumann na Folha, o bom resultado deve ser atribuído
a uma mistura de regulamentos (proibição de queimadas no Mato
Grosso, por exemplo), fiscalização mais eficiente e trabalho de
base realizado por ONGs como Ipam e
Amigos da Terra.
Mais Amazônia-2
O fogo pode ter diminuído na floresta amazônica e seu entorno,
mas não desapareceu nem vai desaparecer de lá tão cedo. Assim,
não soa de todo anacrônica reportagem de capa da edição latino-americana
da revista "Time" da semana passada, cujo título falava em "barril
de pólvora". Ela alerta para o efeito desastroso previsto por
ONGs como o Ipam, de Belém
do Pará, e o WHRC,
dos EUA, para o asfaltamento de estradas.
Não adianta procurar na Internet. Não há traço da reportagem nas
edições americana, européia ou asiática da "Time".
Mesmo tão globalizada, a revista parece acreditar a Amazônia só
interessa a latino-americanos (e talvez seja melhor assim, pois
há poucos anos os "hermanos" do Norte agiam como se só interessasse
a eles). Quem é leitor da Folha, por outro lado, já ficou
sabendo das previsões do Ipam e do WHRC. Reportagem
publicada em 19 de março virou manchete do jornal e já avisava:
"Obras federais ameaçam florestas".
Site da semana
Muita gente nascida por volta de 1960 que se interessa por ciência
começou a admirá-la por causa de aventuras espaciais, reais (Apolo-11
et coetera) ou imaginárias (Jornada nas Estrelas et caterva).
Quem quiser matar saudades daquele entusiasmo intergalático deve
dar uma espiada no que rapazes e moças de hoje estão fazendo com
ele, como na página Trekbrasilis.
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