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Volta
apoteótica
Recife
- Conforme o prometido, conto para vocês, em primeira mão,
a minha avaliação do show de Roberto Carlos, que vim
cobrir para a Folha aqui em Recife. O calor é grande
e foi uma noite ainda mais quente para as 9000 pessoas que se acotovelaram
no ginásio Geraldão para ver o rei.
Roberto Carlos voltou a toda. Talvez não quanto à
alegria (que, aliás, nunca foi o seu forte), mas pelo menos
no que diz respeito ao ânimo para retomar a carreira. O espetáculo
deu ao público tudo o que ele esperava.
Ao
lado dos velhos sucessos de sempre ("Emoções",
"Detalhes", "Outra vez"), o rei apresentou duas
canções novas ("Amor sem limite" e "Tu
és a verdade, Jesus"), falou longamente sobre Maria
Rita, mostrou fotos dela no telão e, por fim, chorou.
O
público, composto em sua maior parte de mulheres, de 30 anos
ou mais, de baixa renda, correspondeu. Levou faixas ("Roberto,
Deus te abençoe"), cantou as canções conhecidas
com uma força estranha, aplaudiu e gritou ("ei, ei,
ei/Roberto é nosso rei").
Em
algumas canções, Roberto mostrou porque disputa o
cetro de melhor cantor do Brasil no século XX. Os concorrentes
são Francisco
Alves, Orlando Silva, João Gilberto e Caetano Veloso.
Ali, ao vivo, de terno branco e camiseta de malha azul, tênis
branco, Roberto mostrou mais uma vez que sabe cantar.
Uma
coisa é a gravação em estúdio. Lá
RC combina diversas versões de uma interpretação.
Escolhe os trechos que mais lhe agradam e os edita. Cada canção
que aparece nos CDs é o resultado de um trabalho meticuloso.
Ao
vivo é diferente. Tem que sair bom de primeira. Em "Emoções",
"Amor sem limite", "Desabafo" e "Eu te
amo tanto", a voz estava natural, leve, porém firme
e bem colocada. Já em "Como vai você", Roberto
cantou com uma estranha voz anasalada (muito mais do que de costume).
Havia acabado de chorar.
Em
"Detalhes", parece-me que Roberto perdeu-se do andamento.
Pelo menos ele e a orquestra soavam desencontradas. Mais adiante,
ele chegou a desafinar. Ou seja, sua majestade não é
infalível.
Na
entrevista coletiva que precedeu o show, o rei disse que ainda não
estava preparado para retomar o trabalho. Segundo ele, decidiu recomeçar
mesmo assim porque acha que o contato com o povo vai ajudá-lo
a melhorar.
Superprofissional
e metódico em tudo que diga respeito à própria
carreira, acho que ele escolheu Recife porque teria um contato vivificador
com o reino sobre o qual governa: o do Brasil profundo. Um Brasil
que ainda passa longe das universidades.
E
teve. Pergunto-me se apresentar as imagens de Maria Rita nos telões
enquanto canta "Eu te amo tanto" não é de
mau gosto. Mas, seja qual for a minha sensibilidade, eu acho que,
ao final, o público que lotou o ginásio estava contente.
A
última canção foi "Amor sem limite"
(cantada duas vezes, uma no começo, outra no fim). É
uma balada country, com ressonâncias sertanejas. Foi feita
só por Roberto. A letra
não tem aquelas pequenas inspirações que, ao
falar do cotidiano, tornam a canção mais interessante
(talvez seja a contribuição de Erasmo).
Em compensação o arranjo é mais enxuto.
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10/11/2000
- Está tudo na voz
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