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  15 de novembro
  Mistura Fina
   
   

Volta apoteótica

Recife - Conforme o prometido, conto para vocês, em primeira mão, a minha avaliação do show de Roberto Carlos, que vim cobrir para a Folha aqui em Recife. O calor é grande e foi uma noite ainda mais quente para as 9000 pessoas que se acotovelaram no ginásio Geraldão para ver o rei.
Roberto Carlos voltou a toda. Talvez não quanto à alegria (que, aliás, nunca foi o seu forte), mas pelo menos no que diz respeito ao ânimo para retomar a carreira. O espetáculo deu ao público tudo o que ele esperava.

Ao lado dos velhos sucessos de sempre ("Emoções", "Detalhes", "Outra vez"), o rei apresentou duas canções novas ("Amor sem limite" e "Tu és a verdade, Jesus"), falou longamente sobre Maria Rita, mostrou fotos dela no telão e, por fim, chorou.

O público, composto em sua maior parte de mulheres, de 30 anos ou mais, de baixa renda, correspondeu. Levou faixas ("Roberto, Deus te abençoe"), cantou as canções conhecidas com uma força estranha, aplaudiu e gritou ("ei, ei, ei/Roberto é nosso rei").

Em algumas canções, Roberto mostrou porque disputa o cetro de melhor cantor do Brasil no século XX. Os concorrentes são Francisco Alves, Orlando Silva, João Gilberto e Caetano Veloso. Ali, ao vivo, de terno branco e camiseta de malha azul, tênis branco, Roberto mostrou mais uma vez que sabe cantar.

Uma coisa é a gravação em estúdio. Lá RC combina diversas versões de uma interpretação. Escolhe os trechos que mais lhe agradam e os edita. Cada canção que aparece nos CDs é o resultado de um trabalho meticuloso.

Ao vivo é diferente. Tem que sair bom de primeira. Em "Emoções", "Amor sem limite", "Desabafo" e "Eu te amo tanto", a voz estava natural, leve, porém firme e bem colocada. Já em "Como vai você", Roberto cantou com uma estranha voz anasalada (muito mais do que de costume). Havia acabado de chorar.

Em "Detalhes", parece-me que Roberto perdeu-se do andamento. Pelo menos ele e a orquestra soavam desencontradas. Mais adiante, ele chegou a desafinar. Ou seja, sua majestade não é infalível.

Na entrevista coletiva que precedeu o show, o rei disse que ainda não estava preparado para retomar o trabalho. Segundo ele, decidiu recomeçar mesmo assim porque acha que o contato com o povo vai ajudá-lo a melhorar.

Superprofissional e metódico em tudo que diga respeito à própria carreira, acho que ele escolheu Recife porque teria um contato vivificador com o reino sobre o qual governa: o do Brasil profundo. Um Brasil que ainda passa longe das universidades.

E teve. Pergunto-me se apresentar as imagens de Maria Rita nos telões enquanto canta "Eu te amo tanto" não é de mau gosto. Mas, seja qual for a minha sensibilidade, eu acho que, ao final, o público que lotou o ginásio estava contente.

A última canção foi "Amor sem limite" (cantada duas vezes, uma no começo, outra no fim). É uma balada country, com ressonâncias sertanejas. Foi feita só por Roberto. A letra não tem aquelas pequenas inspirações que, ao falar do cotidiano, tornam a canção mais interessante (talvez seja a contribuição de Erasmo). Em compensação o arranjo é mais enxuto.

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10/11/2000 - Está tudo na voz

 


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