Reuters
21/01/2003 - 20h05

Concentração militar dos EUA monta cenário para guerra no Iraque

da Reuters, em Londres

Líderes norte-americanos e britânicos insistem que a guerra não é a única maneira de forçar o presidente do Iraque, Saddam Hussein, a desarmar-se, mas a crescente concentração militar prepara o cenário para um confronto que muitos analistas acreditam ser inevitável.

França, Alemanha e China levantaram a voz na reunião do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) ontem contra um ataque preventivo ao Iraque e a favor de dar mais tempo para os inspetores de armas da organização.

Mas com a enorme concentração de forças norte-americanas e britânicas no golfo Pérsico, tais obstáculos diplomáticos podem somente afastar Washington da idéia de procurar uma segunda resolução do conselho que autorize a guerra.

Reuters - 7.nov.2002
Colin Powell, secretário de Estado dos EUA
"Não podemos ser levados à impotência por termos medo das difíceis escolhas que temos à nossa frente", disse o secretário de Estado Colin Powell -que lidera os "falcões" norte-americanos contra o Iraque.

O analista iraquiano Mustafa Alani disse que a escalada dos preparativos militares não deixam dúvida de que os Estados Unidos invadirão o Iraque em breve, provavelmente sem outra resolução da ONU.

Alani, pesquisador do Royal United Services Institute, de Londres, disse que os Estados Unidos terão entre 120 mil e 150 mil soldados na região em meados de fevereiro.

Ele disse que o envio de tantos soldados é complexo e custa caro, não apenas em termos de dinheiro, mas também de acordos com países que abrigam pessoal. "Você não faz isso, a não ser que tenha tomado uma decisão pela guerra."

Alani argumenta que a concentração foi muito além do que seria necessário para apoiar a diplomacia com a ameaça de uso da força, prevendo que líderes dos Estados Unidos vão endurecer a retórica no próximo mês.

O chefe dos inspetores de armas da ONU, Hans Blix, relatará ontem ao Conselho de Segurança as descobertas de suas equipes no Iraque. O conselho debaterá o relatório amanhã.

Mas nem todo mundo está convencido de que o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, e o primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, que deverão se encontrar no dia 31 de janeiro, já tenham opinião totalmente formada.

Retórica
Blair insistiu hoje que o Iraque está mentindo sobre a destruição de suas armas, e disse que os relatórios de Blix e de Mohamed ElBaradei, chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), serão uma "data importante" na configuração de uma possível guerra.

Blair disse que as inspeções não podem durar para sempre e reiterou que Londres e Washington têm o direito de atacar o Iraque sem novo apoio da ONU, caso Bagdá não se desarme.

"Ninguém pode saber com certeza, mas acho que os americanos e os britânicos formalizaram algum tipo de prazo final até quando eles estarão definitivamente prontos para irem à guerra", disse Gerd Nonneman, especialista em Oriente Médio da Universidade de Lancaster.

"Não é o mesmo que uma decisão para ir à guerra, mas tenho certeza que eles acreditam que a guerra é muito mais provável do que outra forma."

Ele disse que a única maneira de promover um resultado alternativo, como a remoção de Saddam por um golpe ou exílio, é convencer todo mundo em Bagdá de que um ataque devastador está a caminho.

A União Européia está em desacordo sobre o Iraque. O apoio britânico aos Estados Unidos contrasta com a recusa alemã em apoiar uma ação militar, mesmo com autorização do Conselho de Segurança.

"Podemos estar em uma situação agora em que o Reino Unio esteja mais entusiasmada com uma segunda resolução da ONU do que a Alemanha", disse um diplomata europeu. Para ele, a Alemanha pode preferir não ter nenhuma resolução do que ter que votar contra alguma decisão.

Resolução
Países europeus, árabes e outros acham que mais iniciativas diplomáticas da ONU são essenciais para garantir amplo apoio internacional para qualquer ataque ao Iraque, mas não está claro se esta preocupação pesa nas decisões de um governo norte-americano inclinado a remover Saddam.



"Se os britânicos e os americanos não estão certos de que uma resolução passará, eles não assumirão o risco", disse Alani.

Os Estados Unidos e o Reino Unido podem dizer que o Iraque violou a resolução 1.441, do ano passado, que deu a Bagdá uma "oportunidade final" para se desarmar, ou correr o risco de "sérias consequências".

"Eles acham que o risco de fazer sem uma segunda resolução é administrável", disse Alani. "Se a ação militar for rápida e tiver sucesso, eles não consideram a opinião pública como um grande problema."

Mas muitos governos, principalmente da Europa, querem que os inspetores da ONU apresentem provas concretas contra o Iraque antes de qualquer ação militar.

"Se o tempo compra a paz, é uma aposta importante", disse o diplomata europeu. "Se somente dá mais uma chance para Saddam jogar com a comunidade internacional, então estamos em uma péssima situação."

"Então precisamos ser muito fortes no envio (de tropas), nas mensagens que enviamos a Bagdá e ficarmos o mais unidos possível."

Oponentes iraquianos de Saddam duvidam que o líder iraquiano será convencido a abandonar suas armas de destruição em massa.

"A única solução não militar é convencer Saddam a deixar o governo e sair do país", disse Hamid Bayati, porta-voz do Conselho Supremo para a Revolução Islâmica no Iraque, grupo muçulmano xiita, com sede em Teerã (Irã).

"Se ele tiver de escolher entre a morte e o exílio, pode ser que pense nisso, mas vai esperar até que a ação militar comece", disse Bayati. "Saddam não se desarmará, não importa o que aconteça. Ele já teve 12 anos para se desarmar, desde a invasão do Kuait."


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