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17/12/2002
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02h53
Manual às avessas
ALCINO LEITE NETO
enviado especial a Caen (França)
"Você já comeu carne humana? Por que não posso me masturbar no corredor da escola? Por que posso comprar haxixe livremente em Amsterdã, e não no corredor da escola? É preciso obrigatoriamente ser mentiroso para chegar à Presidência da República?"
Questões como essas abrem os capítulos do "Antimanual de Filosofia" (Éditions Bréal, 336 págs., € 16,99), livro de Michel Onfray dirigido aos alunos de ensino médio, que ficou meses na lista de mais vendidos do ano passado na França.
"O editor me pediu para compilar as notas de meu curso no liceu. Mas eu não tinha notas. Fabriquei então um curso para ser publicado, seguindo um pouco o modelo socrático", conta Onfray.
"Lições Socráticas e Alternativas" é o subtítulo do livro, que, por trás das perguntas brincalhonas, vai apresentando de maneira quase clássica alguns dos principais temas da filosofia —a natureza, a arte, a técnica, a liberdade, o direito, a história, a consciência, a razão e a verdade.
A abordagem torna o debate filosófico interessante e atual para os alunos, a partir de questões que fazem parte de seu cotidiano, como a droga, a violência, a pornografia, a polícia, o celular, a pedofilia. Onfray também busca aproximá-los dos textos clássicos de filósofos, fartamente citados no livro (de Platão a Adorno, de Epicuro a Deleuze), ao lado de escritores (Marquês de Sade, Fernando Pessoa), artistas plásticos (Duchamp, Dubuffet) e historiadores (Eric Hobsbawm, Paul Veyne).
As questões provocadoras não são apenas estratégias de sedução do leitor. Onfray enfrenta de fato os problemas colocados, oferecendo respostas claras que evoluem para uma análise aprofundada.
Ele desafia os lugares-comuns e as idéias feitas para desenvolver um verdadeiro conteúdo filosófico para os leitores-aprendizes.
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