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28/10/2003 - 03h26

Médicos brasileiros são cautelosos

VINICIUS ALBUQUERQUE
free-lance para a Folha de S.Paulo

Os métodos de autocura defendidos por Servan-Schreiber ainda são encarados com ceticismo pela comunidade médica brasileira. "Acupuntura, técnicas de relaxamento e exercícios físicos são abordagens muito saudáveis, mas inespecíficas. Não dá para dizer que são tratamentos para depressão ou para transtornos de ansiedade", afirma Luiz Alberto Hetem, 41, psiquiatra e professor de pós-graduação em saúde mental da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto.

"As idéias de António Damásio são muito atraentes e respeitadas, mas não podem ser extrapoladas", acredita Hetem. Para ele, não há como avaliar um método de cura apenas com resultados "do tipo 'eu tenho tratado pacientes assim e isso tem funcionado'", além de, é claro, existir a necessidade de um diagnóstico preciso sobre a gravidade de cada quadro.

Para Antônio Carlos Camargo de Carvalho, 56, cardiologista e coordenador do curso de pós-graduação da área na Unifesp, é quase uma utopia tentar que um cidadão do mundo moderno, voluntariamente, consiga coordenar seus batimentos cardíacos com toda a agitação que o rodeia. Nos casos de estresse, ele acha que o coração merece mais cuidados que exercícios respiratórios. "Alguns dos meus pacientes fazem ioga, exercícios de relaxamento. Tudo isso é benéfico, mas não é e nunca seria o tratamento único."

Cautela é o que recomenda Márcia Pottier, 46, professora de nutrição e dietoterapia também da Unifesp. "Em excesso, a ingestão de ômega 3 pode trazer malefícios como a redução da velocidade da resposta imunológica. Consumir leite e margarina enriquecidos com ômega 3, por exemplo, é recomendável apenas para quem não tem uma dieta balanceada. Estresse e depressão são frutos do estilo de vida", afirma.

Até mesmo para o acupunturista Robinson Fernandes de Camargo, 46, a eficiência de cura da técnica é comprovada apenas nos casos leves de depressão. "Em um paciente com quadro grave de depressão e ou síndrome do pânico, acho necessário acupuntura e mais algum medicamento. O estímulo da acupuntura aumenta a produção de endorfinas no paciente, mas isso acontece em uma quantidade fisiológica limitada", diz o médico do Instituto Médico Paulista de Acupuntura.

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