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28/10/2003 - 03h34

Nem Freud nem Prozac

FERNANDO EICHENBERG
free-lance para a Folha de S.Paulo, de Paris

Lucy Pemone/Reuters
O neuropsiquiatra francês David Servan-Schreiber, 40, desperta lentamente todas as manhãs com a luminosidade emitida por uma lâmpada especial que simula o amanhecer, instalada ao lado de sua cama. Após seu jogging matinal diário, ele ingere três cápsulas de ácido graxo poliinsaturado ômega 3, produzidas por um laboratório sob sua própria supervisão. Pouco antes de dormir, é hora da prática de exercícios de "coerência cardíaca". O médico, que já experimentou a "integração neuroemocional pelos movimentos oculares" (um tipo de hipnose), também realiza sessões regulares de acupuntura e procura estar atento à sua "comunicação emocional", da qual faz parte seu inseparável gato abissínio Titus.

Sua rotina nada mais é do que uma amostra prática das teorias e pesquisas explicitadas no seu recente livro "Guérir le Stress, l'Anxiété et la Dépression sans Médicaments ni Psychanalyse". Lançado neste ano pela editora Robert Laffont, o livro já vendeu cerca de 200 mil exemplares na França e está sendo traduzido em 20 países —no Brasil, deverá sair em março de 2004 pela Sá Editora, com o título "A Nova Medicina das Emoções - O Estresse, a Ansiedade e a Depressão sem Psicanálise nem Medicamentos".

Trata-se de mais um manual de um novo guru da auto-ajuda, com fórmulas mágicas ao alcance da mão de um público ávido pela felicidade fácil nesse turbulento início de século? O currículo do autor, pelo menos, depõe contra o desonroso rótulo.

Discípulo e amigo do reputado neurologista português radicado nos EUA António Damásio, David Servan-Schreiber estudou e trabalhou durante 20 anos no Canadá e nos Estados Unidos, onde foi um dos fundadores —depois, diretor— do Centro de Medicina Complementar da Universidade de Pittsburgh. Doutor em ciências neurocognitivas pela Universidade Carnegie Mellon, sob a orientação de Herbert Simon, pai da inteligência artificial e Nobel de Economia, e de James McClelland, pioneiro da teoria das redes de neurônios, ele teve sua tese publicada na prestigiada revista "Science" e foi eleito melhor psiquiatra clínico da Pensilvânia no ano passado.

Defensor da "medicina integral" ("mind-body medicine"), a "nova medicina emocional", Servan-Schreiber baseou suas pesquisas nas teorias de Damásio sobre a divisão do cérebro em duas partes: a cognitiva —relacionada à linguagem— e a emocional —responsável pelo controle da fisiologia do corpo (ritmo cardíaco, tensão arterial, apetite, sono, libido e sistema imunológico).

Para combater de forma mais eficaz o estresse, a depressão e a ansiedade, três conhecidos males dos tempos modernos, ele descarta os ensinamentos de Freud ou Jung e as proezas químicas do celebrado Prozac e de seus sucessores. Seu receituário propõe sete métodos testados por cinco anos no Centro de Medicina Complementar. Os métodos naturais que sugere, a maioria conhecida há muito tempo, não podem ser definidos como revolucionários, como ele mesmo admite. Na sua opinião, o repentino sucesso obtido pela sua "cartilha" se deve ao fato de as técnicas propostas terem, cada vez mais, sua eficácia comprovada de forma científica.

Veja a seguir os métodos e uma entrevista exclusiva com Servan-Schreiber.

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