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28/10/2003
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03h28
A emoção dá voz à razão
VINICIUS ALBUQUERQUE free-lance para a Folha de S.Paulo
A principal teoria sobre a qual se apóiam os métodos de autocura propostos por Servan-Schereiber é proposta pelo neurologista português António Damásio, 49, em seus livros "O Erro de Descartes", "O Mistério da Consciência" (ambos pela Companhia das Letras) e "Looking For Spinoza" —este último, ainda sem título em português, deve sair no Brasil no ano que vem, pela mesma editora.
Reprodução | | À esq., o cérebro emocional, que ocupa a parte interior do sistema; à dir., o cérebro cognitivo, que fica na superfície do órgão |
| Chefe do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Iowa —o pesquisador vive nos EUA desde 1975— e membro da Academia Americana de Artes e Ciências, Damásio afirma a importância de compreender as conexões existentes entre emoção e razão e a capacidade do cérebro emocional de influenciar as decisões racionais.
A ciência admite a existência de dois "cérebros", divididos pela diferença de suas funções ligadas às regiões que as operam. O cérebro emocional compreende estruturas mais antigas na escala evolutiva da biologia do sistema e está localizado na porção interior do órgão. Essa é a região do cérebro que controla a fisiologia dos batimentos cardíacos, da respiração, da pressão sanguínea, do apetite, do sono, do desejo sexual, da secreção de hormônios e mesmo do sistema imunológico.
O cognitivo é a camada mais "jovem" nessa escala evolutiva do cérebro, mais sofisticada, e ocupa a parte mais externa da massa cinzenta. É a região responsável pelo pensamento, pela concentração, pela atenção, pelo controle dos instintos e dos impulsos, pelos comportamentos morais, pelos movimentos voluntários e pela linguagem.
Segundo o pesquisador, as emoções são conjuntos de reações químicas e neurais que ocorrem na região do cérebro emocional, determinados biologicamente, que usam o corpo como "teatro". Seu papel é auxiliar o organismo a preservar a vida. O cérebro emocional teria, assim, uma ligação mais próxima com o corpo do que com o cérebro cognitivo.
Ainda que sejam diferenciados em suas funções, em algum ponto os "dois cérebros" se comunicam. E é nesse contato e diálogo entre eles que Damásio mostra a interferência da emoção em todo o sistema. Com casos de pacientes em seus livros, o pesquisador comprova que os sentimentos normalmente acompanham as escolhas que fazemos e acabam determinando a direção da opções racionais.
Damásio dá como exemplo, em "O Erro de Descartes", o caso de Elliot, paciente que teve, com a remoção de um tumor no cérebro, a perda de sua capacidade de se emocionar. Apesar de ainda conseguir pensar, não conseguia mais tomar decisões.
António Damásio disse à Folha de S.Paulo que David Servan-Schreiber "faz um uso muito inteligente de minhas idéias sobre a biologia das emoções".
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