Folha Online sinapse  
16/12/2003 - 03h20

Mahabharatha tem versão escrita por criança

PAULO DANIEL FARAH
especial para a Folha de S.Paulo

A indiana Samhita Arni leu o Mahabharatha, um dos livros sagrados fundamentais do hinduísmo, pela primeira vez aos quatro anos. Depois de ler várias versões dessa obra da mitologia indiana, aos sete anos começou a ditar esse épico, em suas próprias palavras, para a avó.

Capa do Mahabharatha pelos olhos de Samhita Arni (Conrad Editora, 136 págs., R$ 29).
Sua versão do Mahabharatha foi publicada quando ela tinha apenas 11 anos, em 1995. Agora, sai no Brasil pela Conrad Editora (136 págs., R$ 29). "Eu estava curiosa para saber o quanto ela compreendia de cada livro que lia e também queria mantê-la ocupada, além de melhorar sua redação. Samhita se entusiasmou com a idéia, e os primeiros capítulos do Mahabharatha tomaram forma em seu diário", diz a mãe da autora, Kanchana.

Nascida em 1984, na Índia, Samhita Arni escolheu essa obra porque ela é cheia de personagens e "de malvadeza", e "é preciso mostrar o mundo sem falsidade", diz. Há histórias que abordam guerras e rixas por ambição, por exemplo. "A cada linha, o Mahabharatha levanta uma questão nova. Não se trata apenas de uma história. Ele questiona o que é ser bom e mau", afirma Arni.

Com mais de 4.000 anos de idade, o Mahabharatha existiu em várias formas desde seu surgimento. No início, eram histórias populares de deuses, reis e profetas contadas por sacerdotes que viviam em santuários, ascetas que viviam em retiros, menestréis ou viajantes em trupes. Em seguida, foi compilado em um único texto sagrado com milhares de estrofes em sânscrito, distribuído pela Índia por reis e declamado nos templos. Nessa mesma época, era dançado e encenado em teatros por todo o país e em outras partes da Ásia. Mais tarde, passou a existir na forma de registros literários em diversos dialetos. A obra contém cerca de 100 mil versos e é bastante conhecida sobretudo pelo seu poema principal, o "Bhagavad-Gita".

A versão recém-lançada em português traz uma árvore genealógica desenhada e ilustrações que auxiliam a compreender o Mahabharatha. Em sua narração, como era de esperar no relato de uma criança (a obra foi escrita por ela entre os 7 anos e os 11 anos, com alguns períodos de interrupção), Arni expõe sentimentos por seus personagens e frequentemente julga suas ações.

"Meu personagem favorito é Karna. O sofrimento pelo qual ele passou, sua vida difícil, tudo isso faz dele uma pessoa inocente, desafortunada, virtuosa, que se prende a seu dever. Ele é atraído para esse emaranhado da guerra entre primos apenas para descobrir que é o verdadeiro herdeiro do trono. Mas, por causa de sua amizade com Duryodhana, ele abre mão de tudo o que poderia ter sido seu", explica a autora, hoje uma escritora e ilustradora de 19 anos.

Leia mais
  • Leituras Cruzadas: Religião para crianças
  • Leia trecho do Mahabharatha pelos olhos de uma criança

         

  • Copyright Folha de S. Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).