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28/10/2004 - 12h39

Folclore e superstição arrepiam em Joanópolis

LUIZ ANTONIO DEL TEDESCO
enviado especial da Folha de S.Paulo a Joanópolis (SP)

Pouco antes de chegar a Joanópolis, o turista já pode avistar a cidade da sinuosa e agradável (e asfaltada, para os que se preocupam com isso) estrada que faz a ligação com a rodovia Fernão Dias. Encravada num vale nos contrafortes da Mantiqueira, a singela e acolhedora cidade, a 115 km da capital paulista, de pouco mais de 10 mil habitantes, tem um povo simpático e gentil, carroças circulando pela praça da matriz, o coreto, a antiga farmácia (São João) com suas estantes centenárias bem conservadas, o belo grupo escolar que leva o nome de um de seus fundadores e tudo o mais que caracteriza qualquer pequenina cidade do interior.

Mas então por que ela, bem ela, fundada no dia de são João, um dos santos mais queridos e populares do país, se transformou na "capital do Lobisomem"?

Tudo começou em 1983, quando a folclorista Maria do Rosário de Souza Tavares de Lima apercebeu-se de que na cidade havia uma quantidade enorme de histórias que tratavam do lobisomem e resolveu investigar o assunto mais a fundo. Decidiu, então, preparar a tese que a levaria a integrar a Associação Brasileira de Folclore, que tem Mario de Andrade como um de seus fundadores, e que acabaria resultando no livro "Lobisomem: Assombração e Realidade".

Daí bastou um salto para o lobisomem tornar-se o atrativo maior da cidade que surgiu de um arraial de são João em 24 de junho de 1878, quando moradores do bairro Curralinho, da vizinha Piracaia, resolveram erguer uma capela em homenagem ao santo.

É então uma heresia que a cidade que homenageia um tal santo até no nome seja a capital dessa fera? Nem tanto.

"O nosso lobisomem não é mau, é antes uma figura simpática. O lobisomem brasileiro é apenas alguém que está pagando seu fadário, só assusta as pessoas porque passa correndo perto delas", explica o historiador e "lobisomólogo" Valter Cassalho, vice-presidente da Associação dos Criadores de Lobisomens e um dos maiores incentivadores do mito na cidade e na região.

Fundada em 1988, a associação "cataloga, divulga e mantém a parte folclórica do mito, para que não se transforme simplesmente em comércio", explica Cassalho. Os integrantes da ACL promovem palestras nas escolas, teatros de fantoche e outras ações educativas para incentivar o conhecimento do folclore e da cultura locais e o turismo. E por onde se caminha por Joanópolis dá para ver que a "lobisomania" pegou.

Conversas sobre lobisomens são uma constante nos bares e nas praças. Miniaturas simpáticas do temível ser e camisetas em homenagem a ele são encontradas em qualquer loja. E até é possível tomar uma boa talagada de "repelente de lobisomem" na padaria que fica na praça da matriz.

E o melhor lugar para o turista inteirar-se sobre o mito é a Casa do Artesão, na praça da matriz, que funciona como sede da ACL e é onde os artesãos locais exibem seus trabalhos, feitos quase exclusivamente com material reciclado/reciclável --cascas, folhas e troncos de árvores encontrados caídos no mato.

Para o turista que não se satisfaz apenas com os "causos" contados e deseja um contato mais "íntimo" com a fera, a pousada Monteleone, situada às margens da represa Jacareí-Jaguari, realiza a trilha do lobisomem.

"Nas noites de sábado, juntamos os hóspedes e alguns funcionários e saímos ao encalço do bicho", conta Paulo Bonandi, 48, proprietário da pousada.

O objetivo é criar um clima de mistério. "Depois de terminada a trilha, alguns hóspedes vêm me dizer que havia muito tempo não sentiam medo assim", diz Bonandi, ressaltando que o lobisomem da cidade é brincalhão, mas aquele que vagueia pelas cercanias da pousada é amedrontador.

"Os dois lobisomens que por vezes aparecem para jantar nos fins de semana costumam pregar-nos boas peças", acrescenta.

Houve um tempo em que jipeiros da cidade organizavam uma caçada ao lobisomem nas noites de lua cheia, mas, por falta de verba, a incursão está temporariamente suspensa.

Luiz Antonio Del Tedesco hospedou-se a convite da pousada Monteleone

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