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28/10/2004 - 12h42

Lobisomem reaviva costume de contar causos no interior

LUIZ ANTONIO DEL TEDESCO
enviado especial da Folha de S.Paulo a Joanópolis (SP)

Na semana passada, na praça central de Joanópolis, bem em frente à igreja matriz, a Folha flagrou um encontro entre Valter Cassalho, vice-presidente da Associação dos Criadores de Lobisomens com o personagem do folclore e um dos maiores atrativos turísticos da cidade.

O mito, segundo o entrevistado, estimula o turismo em Joanópolis e tem ajudado as pessoas "a redescobrir o lado lúdico e cultural" da região. Leia abaixo trechos da conversa.

Valter Cassalho - Mas diga lá, seu Lobisomem, o senhor é uma lenda ou um mito?
"Lobisomem" -
Me respeite, moço! Eu não sou lenda, não, sou um mito. Um mito universal --e dos bons. Eu tenho uma existência individualizada dentro do mundo sobrenatural e uma função social muito antiga, que dá origem e explicações a alguns fatos. As lendas são apenas relatos desses mitos.

Cassalho - Tá bom, tá bom, mas o que vem a ser o lobisomem?
"Lobisomem" -
Eu sou um grande cachorro preto, de pêlos eriçados e de olhos faiscantes. Tenho uma altura média de 1,5 m e, de pé, posso ultrapassar os 2 m. Sou um condenado que está pagando seu fadário. Tenho de percorrer sete cidades em uma única noite e, antes do amanhecer, volto ao lugar de origem. Minha sina é correr sob a proteção da lua cheia. É uma vida dura, principalmente para um cara simpático como eu.

Cassalho - Como o sr. chegou ao Brasil?
"Lobisomem" -
A nossa origem é muito controversa. O primeiro lobisomem de que se tem notícia é grego. Foi Licaon, um antigo rei da Arcádia, região do Peloponeso. Esse rei organizou um banquete e sabia que Zeus estava presente, incógnito entre os convidados. Querendo identificar Zeus --e sabendo que apenas os deuses podem diferenciar o gosto da carne humana--, Licaon decidiu então matar seu filho mais novo e oferecer sua carne na refeição. Zeus percebeu o que o rei havia feito e transformou-o em lobo. Roma também teve seus homens-lobos e depois o mito espalhou-se por toda a Europa, incluindo Portugal. Foi assim que chegou aqui.

Cassalho - E como uma pessoa vira lobisomem?
"Lobisomem" -
Existem várias maneiras. Eu virei lobisomem porque fiquei dez anos sem pôr a mão em água benta. A forma mais comum é ser o sétimo filho de uma seqüência de homens. Tem até gente que vira lobisomem por vontade própria.

Cassalho - Como assim?
"Lobisomem"
- Na Antigüidade, muitos queriam, através de rituais, virar lobisomem para adquirir as características do lobo -astúcia, virilidade. Na Idade Média e mesmo na Idade Moderna, muitas pessoas acusadas de serem lobisomens foram enforcadas e queimadas vivas, principalmente na França, onde, de 1520 a 1630, foram catalogados 30 mil casos de supostas aparições de lobisomens.

Cassalho - Em Joanópolis, o sr. saiu das encruzilhadas e foi para a mídia, virou personalidade. Isso foi bom?
"Lobisomem"
- Para Joanópolis foi bom, divulgou a cidade, revitalizou as histórias dos mitos e outras assombrações e reavivou a memória das pessoas, que redescobriram o lado lúdico e cultural do povo. Voltaram a contar causos e a falar de suas assombrações. Para os lobisomens também foi positivo, mas nossa agenda vive cheia e todo mundo quer ver e fotografar o lobisomem. Não gostamos muito de flashes. Hoje estou abrindo um exceção à Folha. À vezes me preocupo, pois, como ensina Maquiavel, "é melhor ser temido do que amado".

Cassalho - Na vida extralobisomem, o sr. é um homem comum?
"Lobisomem" -
Na vida diária, sou um homem magro e pálido que tem as sobrancelhas unidas, os cotovelos calosos e as orelhas grandes. Numa noite de quinta para sexta-feira de lua cheia chego a uma encruzilhada, tiro minhas roupas, espojo-me no chão e me transformo. O resto da história, todos sabem.

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