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25/11/2004
-
09h20
O ensaísta Nelson Ascher, 46, colunista da Folha, poeta e tradutor, viaja por estradas e livros.
Traduz do inglês, do francês, do espanhol, do italiano, do russo e do húngaro e, entre suas obras, estão "Algo de Sol", "Sonho da Razão" e "Pomos da Discórdia".
E foi viajando pela Hungria, onde esteve com seu pai para ver a casa dos familiares, aproveitando ainda para conhecer outros países da Europa, em 1989, que ouviu a notícia: caíra o Muro de Berlim e, com ele, o mundo tal como havia sido concebido no pós-Segunda Guerra (1939-45).
Leia a seguir o seu relato.
"TURISTAS" - "Vi a primeira rachadura do Muro de Berlim, que na verdade aconteceu na fronteira austro-húngara em 1989.
Naquele verão, diversos alemães orientais tinham ido à chamada "Ibiza dos pobres", o lago Balaton, que fica na Hungria. Aproveitaram a abertura das cercas de arame dessa fronteira para, através da Áustria, chegarem à Alemanha Ocidental.
O governo alemão oriental, então chefiado por Erich Honecker (1912-94), pôs pressão para o governo húngaro impedir as tais viagens. Mas isso foi liberado pelos russos, àquela época governados por Gorbatchov."
APELO - "Os alemães orientais eram bastante espiados e supervisionados naquele tempo, pois tinham em Berlim um grande atrativo capitalista e ocidental dentro de seu território. E a fuga significava acolhida automática. Aí, a bordo de seus carros característicos, fabricados na Cortina de Ferro, de marcas como Trabant, Skoda, Dacia e Lada, ficaram parados na fronteira. Foram liberados para passar quando a coisa ganhou publicidade."
PÓS-GUERRA - "O que sobrou da Alemanha no pós-Segunda Guerra Mundial (1939-1945), depois da devolução ou confisco de regiões como a Alsácia e Lorena, que voltou para a França; da Prússia Oriental, que passou a integrar a Rússia; foi dividido em quatro zonas de ocupação: francesa, inglesa, americana e russa.
Berlim ficava inteiramente dentro da Alemanha Oriental --e também estava dividida em quatro zonas, até que franceses, ingleses e americanos juntaram as suas, e os russos, a partir de agosto de 1961, construíram o Muro de Berlim, que acabou caindo no dia 9 de novembro de 1989."
VITRINE - "Berlim Ocidental foi transformada, após a construção do Muro, na grande vitrine da fartura capitalista. Um exemplo de ostensividade era a loja de departamentos KDW, no centro da cidade. O quinto andar era inteiramente dedicado às comidas, um mostruário universal. Só de presunto de Parma eles tinham, digamos, dezenas de marcas e de variedades; no outro balcão, aliás, em vários outros balcões, estavam as centenas de variedades de queijos franceses: um para brie, outro para queijos dos Pirineus, e todo resto. Provavelmente você tinha lá mais comida lá, naquela loja chique e imensa, que em todo o bloco Leste..."
ARQUITETURA - "Em agosto de 1990, consegui cometer o equívoco, só possível naquela época, de, vindo de carro de Paris, chegar a Berlim errada. Só quando entrei guiando na cidade, entendi que estava em Berlim Oriental. O estilo arquitetônico dos grandes blocos residenciais e prédios monumentais, além das imensas avenidas e praças destinadas às paradas militares, se assemelhava ao que eu havia visto antes em outras capitais da Cortina de Ferro.
Quando consegui cruzar o que naquela época ainda sobrava do Muro --e finalmente cheguei a Berlim Ocidental-, respirei aliviado: a cidade era cheia de gente e de vida, ao contrário do que ocorria com Berlim Oriental, sombria, repleta de prédios pesadões, parecendo até uma cidade fantasma."
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Berlim - 15 anos depois: Racha inicia com viagens a Hungria no verão
da Folha de S.PauloO ensaísta Nelson Ascher, 46, colunista da Folha, poeta e tradutor, viaja por estradas e livros.
Traduz do inglês, do francês, do espanhol, do italiano, do russo e do húngaro e, entre suas obras, estão "Algo de Sol", "Sonho da Razão" e "Pomos da Discórdia".
E foi viajando pela Hungria, onde esteve com seu pai para ver a casa dos familiares, aproveitando ainda para conhecer outros países da Europa, em 1989, que ouviu a notícia: caíra o Muro de Berlim e, com ele, o mundo tal como havia sido concebido no pós-Segunda Guerra (1939-45).
Leia a seguir o seu relato.
"TURISTAS" - "Vi a primeira rachadura do Muro de Berlim, que na verdade aconteceu na fronteira austro-húngara em 1989.
Naquele verão, diversos alemães orientais tinham ido à chamada "Ibiza dos pobres", o lago Balaton, que fica na Hungria. Aproveitaram a abertura das cercas de arame dessa fronteira para, através da Áustria, chegarem à Alemanha Ocidental.
O governo alemão oriental, então chefiado por Erich Honecker (1912-94), pôs pressão para o governo húngaro impedir as tais viagens. Mas isso foi liberado pelos russos, àquela época governados por Gorbatchov."
APELO - "Os alemães orientais eram bastante espiados e supervisionados naquele tempo, pois tinham em Berlim um grande atrativo capitalista e ocidental dentro de seu território. E a fuga significava acolhida automática. Aí, a bordo de seus carros característicos, fabricados na Cortina de Ferro, de marcas como Trabant, Skoda, Dacia e Lada, ficaram parados na fronteira. Foram liberados para passar quando a coisa ganhou publicidade."
PÓS-GUERRA - "O que sobrou da Alemanha no pós-Segunda Guerra Mundial (1939-1945), depois da devolução ou confisco de regiões como a Alsácia e Lorena, que voltou para a França; da Prússia Oriental, que passou a integrar a Rússia; foi dividido em quatro zonas de ocupação: francesa, inglesa, americana e russa.
Berlim ficava inteiramente dentro da Alemanha Oriental --e também estava dividida em quatro zonas, até que franceses, ingleses e americanos juntaram as suas, e os russos, a partir de agosto de 1961, construíram o Muro de Berlim, que acabou caindo no dia 9 de novembro de 1989."
VITRINE - "Berlim Ocidental foi transformada, após a construção do Muro, na grande vitrine da fartura capitalista. Um exemplo de ostensividade era a loja de departamentos KDW, no centro da cidade. O quinto andar era inteiramente dedicado às comidas, um mostruário universal. Só de presunto de Parma eles tinham, digamos, dezenas de marcas e de variedades; no outro balcão, aliás, em vários outros balcões, estavam as centenas de variedades de queijos franceses: um para brie, outro para queijos dos Pirineus, e todo resto. Provavelmente você tinha lá mais comida lá, naquela loja chique e imensa, que em todo o bloco Leste..."
ARQUITETURA - "Em agosto de 1990, consegui cometer o equívoco, só possível naquela época, de, vindo de carro de Paris, chegar a Berlim errada. Só quando entrei guiando na cidade, entendi que estava em Berlim Oriental. O estilo arquitetônico dos grandes blocos residenciais e prédios monumentais, além das imensas avenidas e praças destinadas às paradas militares, se assemelhava ao que eu havia visto antes em outras capitais da Cortina de Ferro.
Quando consegui cruzar o que naquela época ainda sobrava do Muro --e finalmente cheguei a Berlim Ocidental-, respirei aliviado: a cidade era cheia de gente e de vida, ao contrário do que ocorria com Berlim Oriental, sombria, repleta de prédios pesadões, parecendo até uma cidade fantasma."
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