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22/06/2006 - 11h29

Argentina: Dançar o tango é ritual constante, porém reservado

JULIANA DORETTO
Colaboração para a Folha de S.Paulo, em Rosário (Argentina)

Senhores de terno e de cabelos brancos estão sentados com suas mulheres, cujos fios também brancos, mas minuciosamente ordenados, estão escondidos por camadas de tinta vermelha ou amarela. Nas faces, lábios cobertos de batom escuro. Aos seus pés, amontoados no chão, estão jovens de calça jeans e tênis surrados.

Os olhos de todos se voltam para o centro do salão. Entra o casal: a mulher, com um curto vestido de lantejoulas prateadas e o cabelo preso; o homem, com terno risca-de-giz e gravata também em tom de prata. O quarteto musical começa a tocar, e as pernas do par se cruzam, em movimentos rápidos e coordenados, rodopiando, indo para frente e para trás...

Apesar de ter como berço a capital, Buenos Aires, o tango é o ritmo musical símbolo de toda a Argentina. No interior do país, também se espalham casas especializadas na dança, e é comum que restaurantes e bares dediquem noites à apresentação de acordeonistas (instrumento sem o qual não há tango), dançarinos e companhia.

Rosário não é diferente. Tanto que a cidade está promovendo seleções para a escolha de pares que a representem no 4º Campeonato Mundial de Dança de Tango, cuja final será, é claro, em Buenos Aires, de 17 a 27 de agosto. Por isso, neste mês, cidade recebe shows e aulas, que servem de aquecimento para a grande final rosarina, amanhã e sábado. (Veja a programação no site www.rosario.gov.ar.)

Se estiver por lá, não deixe de ver uma dessas milongas --como são chamadas as festas de tango. Depois (ou antes) das aulas e dos shows dos bailarinos, a pista de dança fica tomada de casais, que se espremem um busca de espacinho para seus giros e levantes de perna.

Não há faixa etária nem estilo predominante. Pares que dançam de rosto colado; mulheres que jogam um dos pés para o alto a todo momento, em firulas teatrais; parceiros que prezam os passos tradicionais, mais contidos. Nesse baile democrático e confuso, até um brasileiro pode se arriscar.

"Hoje você vai dançar"

Com ou sem campeonato, há tanguistas mostrando seus dotes de segunda a domingo em Rosário. Mas não é fácil encontrar milongas na cidade. Os redutos de tangófilos só são conhecidos por eles mesmos e parecem se esconder em quarteirões pouco movimentados, por detrás de placas discretas. O recepcionista do hotel não saberá informar, e o taxista não poderá levá-lo a um deles.

Um desses endereços é a rua Corrientes, 152. Lá, por trás de uma porta de vidro e ferro que range mais do que devia, está a pista do Sentimiento Tango. Apareça por lá mais cedo, por volta de 21h, e tenha uma aula. Os espectadores de suas estrepolias serão meia dúzia de casais que aparecem por lá a semana toda e não estão nem aí com o iniciante trapalhão. Querem mais beber vinho e dançar.

Homens receberão ensinamentos da professora Marisa Adriana Maragliano. Mulheres, de Oscar Derudi, o dono.

"Você sabe dançar?", pergunta ele, depois de uma saudação monossilábica.

"Conheço alguns ritmos brasileiros e..."

"Quero saber se você sabe dançar tango."

Diante da negativa, ele começará com o mais simples: aprender a caminhar arrastando levemente os pés e cruzando um à frente do outro. As mulheres poderão emprestar sapatos próprios para a dança, que, apesar do salto, facilitam os passos.

A dificuldade do bailado pode provocar risos no aluno, que será repreendido pelo professor. "Por que você está rindo?"

Para esse rosarino de 67 anos, tango é algo muito sério. Dançou pela primeira vez com "13 anos e meio" em uma festa de casamento, mas nunca foi bailarino profissional. Era encanador, em Buenos Aires. Com a mãe doente na cidade natal, abandonou a capital e abriu o Sentimiento, há pouco mais de cinco anos. "Para que não se perca tudo o que sei."

Trinta minutos e vários tropeços depois, eis que o aprendiz já estará oficialmente "tangando" --e isso ocorre quase sem perceber. "O que me diz, hein?", sorri finalmente o mestre, contente por ter iniciado mais um no ritual do tango.

SENTIMIENTO TANGO - Aberto todos os dias; shows às sex. e sáb., às 22h, aulas das 20h às 22h, por 10 pesos argentinos (R$ 7,3)

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